A quem serve a privatização da Petrobras

Por Cláudio Guedes.

No sábado (18), mais um artigo no Estadão que defende a privatização da Petrobras. Os argumentos são os mesmos de sempre: a corrupção nas estatais e a recuperação da capacidade de investimentos das empresas liberando-as do jugo dos sindicatos e dos políticos.

A mesma lengalenga, aparentemente meritória. Pois quem não é a favor de empresas eficientes? Quem é a favor da corrupção (com exceção dos poucos que dela se beneficiam)? É claro que essas são questões importantes, mas secundárias, menores, quando a questão é a Petrobras.

A importância da empresa continuar sendo uma empresa do estado é relativa à necessidade do país ter controle sobre produtos essenciais, que são vetores de desenvolvimento econômico e social, com implicações fortes no desenvolvimento de várias regiões do país, e cuja exploração, refino e distribuição devem, em primeiro lugar, cumprir funções sociais.

A principal função social de uma empresa que explora um recurso natural, que é propriedade da nação, é garantir que parte significativa da receita gerada pela sua exploração seja apropriada pelo conjunto da sociedade brasileira, seja um instrumento de mitigação da pobreza que persiste no país, seja um instrumento de capitalização do estado para gerar investimentos em saúde, educação e P&D. E não que esta riqueza seja diretamente apropriada por uns poucos empresários e acionistas privados, para a multiplicação e perenização de seus patrimônios particulares. Esta é a questão central.

O discurso liberal pela privatização da empresa como remédio (sic) de combate à corrupção no país não resiste à realidade crua, tal como demonstrado explicitamente pela Operação Lava Jato: os grandes corruptos do país não são os políticos – muitos dos quais são também corruptos – mas grande parte da fina flor do grande empresariado nacional. Os grandes esquemas de corrupção são elaborados, montados e executados pelas empresas que contam como auxiliares eficazes políticos e funcionários das empresas que se deixam corromper.

É uma catilinária vazia, falsa, mentirosa, o discurso que imputa ao setor privado virtudes naturais tais como eficiência e moralidade. O setor privado possui empresas e empresários sérios e competentes, mas está coalhado de empresários corruptos e amorais.

Outra questão, importante, mas desprezada pelos que debatem a questão petróleo no Brasil, é: por que privatizar a Petrobrás se a indústria do petróleo no país não é mais monopólio da União, estando aberta a qualquer grupo privado que nela queria investir?

Quer investir em exploração, refino e distribuição de óleo & gás & derivados? É só montar a empresa e gastar … Por que os empresários nacionais e estrangeiros querem comprar a Petrobras? Que segundo eles e seus consultores é uma empresa ineficiente? Por que comprar uma empresa ineficiente?

Tudo conversa fiada. Querem uma empresa pronta porque não aceitam o risco do negócio. Querem, como sempre nas privatizações, pegar uma empresa pronta, demitir parte dos que a construíram, corromper as agência reguladoras, e multiplicar seus ganhos praticando preços elevados em um setor fortemente concentrado.
O autor do artigo de hoje no Estadão, Por que privatizar?, é Adriano Pires, economista que trabalha como consultor do setor de petróleo há muitos anos. O conheço desde os anos 90, quando professor na UFRJ. Hoje trabalha exclusivamente no setor privado. Entende do assunto, mas vive de consultoria às empresas privadas da área de petróleo & gás. Defende o liberalismo e os interesses de seus clientes. Uma visão de parcialidade evidente. E é também um artista. Assina seus artigos e participa de inúmeros programas na Globo News como diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), nome pomposo, forte. Fui lá conferir. É apenas uma empresa de consultoria de duas pessoas, Adriano e outra profissional, com sede numa pequena sala de um prédio comercial no Rio de Janeiro. Os nossos liberais são uns artista.

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