#FiqueEmCasa
Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.
Os tempos de Covid-19 têm sido excelentes para a explicitação de algumas contradições do modo capitalista de produção. Interessantíssimo perceber a inépcia dos gestores do capital, e nesse momento falo abertamente dos gestores colocados no comando pela burguesia, como é o caso dos EUA, França, Alemanha, Índia, Brasil entre tantos outros. Afinal, esse é um momento de refluxo do pensamento de esquerda de avanço da ideologia de direita, pois os donos do capital já desenvolvem uma contrarrevolução sem revolução dos trabalhadores, pois eles sabem do período de intensa crise que o capitalismo enfrentaria inevitavelmente, com ou sem o coronavírus.
No caso da política de restrição da circulação de pessoas para diminuição da curva de novos casos e o controle do contágio, que evita a exaustão precode do sistema de saúde, percebe-se um show de horrores. A começar por Trump, que depois de culpar a China, a mídia e Obama, como de costume, passou a acusar a OMS. Trump subestima a inteligência dos norte-americanos, pois foi ele quem demorou 52 dias para decretar estado de emergência nacional depois que o primeiro caso de covid-19 nos Estados Unidos. Segundo discursos de 15 dias atrás, ele pretendia reabrir o comércio em todo os EUA no domingo de Páscoa. Trump quer cortar financiamento da OMS porque segundo ele, que não seguiu as orientações de quarentena da organização e agora acusa a OMS: “Eles tinham muitas informações com antecedência e não quiseram agir. Eles parecem ser muito centrados na China”. As referências são sobre a proibição das viagens da China, que os EUA estabeleceram em 31 de janeiro. A OMS havia acabado de aconselhar os países a manterem abertas suas fronteiras, mas ressaltando que cada nação poderia adotar suas medidas individuais. Na época, além da China já havia casos confirmados em 15 países, incluindo os EUA.
Na semana passada, o senador republicano Marco Rubio pediu a renúncia do diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, dizendo que “ele permitiu que Pequim usasse a OMS para enganar a comunidade global”. A denúncia – até o momento, não confirmada – de que o governo chinês estaria encobrindo os verdadeiros números do coronavírus no país está realmente ganhando os corações conservadores.
Curioso é que Peter Navarro, consultor econômico de Trump, escreveu uma série de memorandos que mostram que o presidente estava sendo avisado desde janeiro sobre os estragos que o novo coronavírus poderiam causar no país. Ainda em janeiro, Navarro previa até 500 mil mortes pelo coronavírus nos EUA. Em 23 de fevereiro, um novo documento piorava a projeção: alertava que o vírus poderia infectar mais de 100 milhões e matar 2 milhões.
Por aqui, as idas e voltas nas orientações dos governantes virou rotina. Nem o presidente e os ministros falam a mesma língua. O presidente idiota continua fazendo passeios sem máscaras e cumprimentando pessoas em Brasília, além de fazer um verdadeiro papelão, quando fez um pronunciamento defendendo o uso e a fabricação da cloroquina, sem pesquisa nenhuma para fundamentar.
Da mesma forma, os governadores dos estados têm tomado medidas diferentes e sem um alinhamento nacional, como forma de utilização politiqueira da pandemia e como consequência da burrice misturada com maldade característica do nosso presidente.
Em resumo, o povo não sabe o que fazer, pois um povo sem instrução, não sabe em que acreditar. quando falamos em ciência, as pessoas não se reconhecem nesse discurso, pois educação não é valorizada no Brasil. As instituições governamentais brincam com a vida de milhares, talvez milhões de pessoas e há uma compreensível, mas injustificável tendência de as pessoas ignorarem o isolamento. Afinal é tanta informação que a opção mais comum é manter a vida como antes. Pobre povo brasileiro, sua própria vítima e seu próprio algoz, pois elege um imbecil e ainda o mantém no poder. Quem vai se responsabilizar pelas mortes? Bolsonaro? Moisés? Ou será que a burguesia brasileira representada por Hang, Justus e outros crápulas vai pagar a conta?
A conjuntura atual deixa claro que a vida vem depois dos lucros para a burguesia, até porque essa pandemia não muda, ou muda muito pouco a rotina dos subalternos. Não há como ficar em casa para os trabalhadores precarizados, informais e páreas da sociedade. O número de moradores de rua nas capitais aumentou muito nesse último período, principalmente no governo do boçalnaro, para esses, com ou sem covid, a luta é por sobreviver, para os trabalhadores precários dos supermercados, feiras, construção civil, e um número significativo de segmentos da economia, nada mudou, até porque não tem outra alternativa. A vida mudou para as pessoas que tem uma condição menos ruim de vida, para esses, por favor, fiquem em casa sejam solidários e reflitam como podemos sair dessa enrascada. Pois os militantes de esquerda precisam pensar como será a saída da pandemia.
Imagem de capa: Tasos Katopodis, no politico.eu
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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