Ultimamente, a questão da busca e alcance da prosperidade ganhou enorme relevância no debate que permeia os círculos de seguidores de várias ramificações de igrejas que se dizem cristãs.
Antes de tecer qualquer argumentação sobre qual é nosso entendimento do significado do termo “prosperidade”, convém deixarmos suficientemente claro que ninguém, sob nenhuma hipótese, jamais deveria ter como seu objetivo o de chegar à pobreza, ou nela permanecer. Em outras palavras, a miséria e a carência nunca deveriam servir como metas para nenhum ser humano.
Feito este esclarecimento, vamos tratar de avançar rumo ao que de fato nos interessa: definir nossa compreensão do que vem a ser a tal prosperidade e como alguém que se sinta e deseje manter-se vinculado aos compromissos de Jesus deve se empenhar para conquistá-la.
Como pudemos constatar pelas referências feitas por vários dos candidatos que disputaram as recém concluídas eleições municipais brasileiras, há quem entenda que a prosperidade é atingida quando o indivíduo dá mostras de haver acumulado um significativo patrimônio em recursos financeiros e materiais. Assim, segundo esta lógica, quanto mais expressivo for o patrimônio angariado, maior e mais intensa terá sido a bênção recebida de Deus por este indivíduo.
É inegável que a lógica mencionada no parágrafo anterior é perfeita e inteiramente congruente com as expectativas daqueles que controlam grandes fortunas e não desejam que haja mudanças nas estruturas sociais. Sendo assim, quem é rico teria todo o direito e a justificativa para ostentar sua riqueza, pois recebeu as bênçãos de Deus para que gozasse dessa condição. Por sua vez, o pobre se encontraria em situação inversa, não tendo sido abençoado e, portanto, não fazendo por merecer a prosperidade. Caberia a ele encontrar formas para cair nas graças de Deus e, com isto, também começar a prosperar.
Por isso, é muito compreensível que os capitalistas e seus admiradores se apeguem a esta visão de prosperidade, já que é uma maneira de isentá-los por completo de quaisquer responsabilidades pelas mazelas sociais existentes. No entanto, o que me parece indigno e monstruoso é tentar defender esse ponto de vista fazendo alusão a Jesus. É que esse tipo de pensamento é um verdadeiro crime contra o que o legado de vida de Jesus significa.
Sem necessidade de nos apegarmos a nenhuma referência de cunho religioso, não há dúvidas de que tudo na vida de Jesus sempre o mostrou indissoluvelmente associado às preocupações com as condições de vida das maiorias populares. Se nos resulta fácil localizar e citar episódios dos relatos de sua vida em que Jesus dá mostras de sua opção preferencial pelos mais carentes, é-nos muito difícil, ou mesmo impossível, detectar alguma passagem em que ele apareça reconhecendo que a posse de riquezas materiais seja uma dádiva divina.
A menos que se esteja imbuído de imensa perversidade e má fé, não há nenhuma possibilidade de tomar os exemplos de conduta de Jesus e seus ensinamentos como posicionamentos que induzam ao individualismo egoísta. A verdade vai exatamente no sentido contrário disto. Para Jesus, a sinceridade de seus seguidores será tanto mais verdadeira quanto menos individualistas eles forem. Em outras palavras, as lições que podem ser extraídas dos exemplos por ele dados nos levam necessariamente a pensar no mundo de forma coletiva. Para Jesus, era fundamental que todos nos dedicássemos à luta para pôr fim ao estado de miséria e penúria. Mas, não apenas para cada um de nós de maneira isolada, e sim tendo sempre em consideração o conjunto da humanidade.
Além do mais, se nos conduzimos pelo sentimento emanado de Jesus, vamos concluir que a prosperidade que almejamos não se restringe a nosso alcance do gozo de bens materiais. O principal é que estejamos dispostos a travar a luta para que a justiça, a dignidade e o bem-estar beneficiem não apenas a nós mesmos, e sim a todos. Portanto, um dos pontos cruciais desta filosofia é a convicção de que as riquezas geradas devem ser distribuídas de maneira justa, para que ninguém fique excluído. É tão somente quando temos consciência de que estamos atuando com este propósito que podemos ter certeza de que estamos no caminho da busca da prosperidade almejada por Jesus.
O caso mais exemplar da validade do que foi mencionado no parágrafo anterior nos é dado pela trajetória percorrida pelo próprio Jesus, que passou toda sua vida sem nada ostentar em termos de riquezas materiais. Porém, a determinação com a qual ele se pôs a lutar para que os mais carentes pudessem viver com dignidade o tornou o símbolo maior da luta daqueles que diferenciam a verdadeira prosperidade do mero egoísmo.
Em resumo, para quem pretende levar Jesus no coração, a prosperidade representa nosso empenho em fazer crescer as riquezas, mas com o comprometimento de atuar com o espírito do compartilhamento, da fraternidade e da solidariedade, com a aspiração de servir aos que mais precisam de nossa ajuda. Por isso, apesar de que Jesus não era proprietário de quase nada quando ele foi executado, poucos ao longo da história podem ser apontados como tendo sido tão prósperos em humanitarismo como ele foi.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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