Por James Ratiere
Era mais um copo, desses qualquer que a gente toma nos bares da vida. Pra onde vou era um pensamento essencial, e a resposta nunca fora respondida com o absolutismo voraz que as pessoas nos iludem.
Previu certas curvas, bateu noutras sem muitos machucados. Mas o velho copo sempre era levantado com um sorriso no rosto, quem olhava, quem não conhecia, aqueles tais que se juntavam para uma bebedeira e nunca mais. Esses não sabiam das cicatrizes. CICATRIZES, palavra longa e estranha no pronunciar, a voz alta assustava, a baixa tinha um certo medo, vergonha ou sei lá o quê. Devia ser os traumas. TRAUMAS, coisa que hoje tudo é, chega ser enfadonho esse povo dizendo de seus belos e lindos traumas. Pessoas competem para mostrar tanto os tais, quanto as envergonhadas cicatrizes que se escondem.
Talvez sejamos uma colcha de retalhos, pensava, ou o próprio Frankenstein com suas partes desiguais e horripilantes, mais que a beleza seja outra ilusão. Tão breve e tão querida. Eles ficavam fissurados com a mínima marca de expressão que surgia no rosto.
Levantou o copo sorrindo, e as rugas se evidenciaram, ali estavam o testamento de alguém que sofreu e venceu, ou não, havia vida ainda, não sabia até quando, ou pra onde, mas havia.
O coração era grato por isso.