A pandemia começa a matar pobres e negros

Imagem: Reprodução

Por Moisés Mendes.

O novo dado perverso da pandemia é o que mostra que negros e pardos morrem mais do que os brancos quando infectados pelo coronavírus. É apavorante se os dados indicarem que os negros e pardos têm alguma vulnerabilidade orgânica específica em relação ao vírus, que os brancos não teriam, o que dependeria de comprovação.

É mais assustador se for confirmada outra suspeita: negros e pardos, ou seja, os mais pobres, podem estar morrendo de novo mais do que os brancos porque o suporte de saúde oferecido a eles, na urgência da pandemia, é pior do que o oferecido aos brancos.

Esses são os números. Negros e pardos são minoria entre os afetados pela doença. Eles, estatisticamente, são quase 1 em cada 4 dos brasileiros hospitalizados (23,1%). Mas são 1 em cada 3 entre os mortos pelo coronavírus (32,8%).

Já os brancos são 73,9% entre os hospitalizados e 64,5% entre os mortos. O resumo é este: negros e pardos adoeceram menos até agora, mas morrem mais.

Parece óbvio, porque sempre foi assim e se repetirá agora. Mas a realidade será agravada se outro dado for acrescentado a esta constatação da mortalidade de negros e pardos, feita por Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

O dado a ser acrescentado é o que ainda está por vir: a mortalidade entre favelados no pico do surto. A peste espalhou-se dos grandes centros, a partir de ricos e da classe média que retornou de viagens, e se reproduziu internamente nas capitais.

Agora, ao mesmo tempo em que chega às cidades do interior, começa a contagiar moradores das periferias e dos morros. Os brancos contagiaram os negros.

Também há indícios de que os registros dos pobres mortos sejam mais precários, o que pode aumentar o índice de casos fatais.

É fácil imaginar o cenário que o Brasil terá pela frente a partir da semana que vem. A pandemia pode, segundo os infectologistas, avançar com mais lentidão nos centros de classe média e passar a infectar e matar os pobres num ritmo ainda não registrado.

Tudo o que a direita queria, que era o avanço avassalador da peste, sem controles, sem isolamentos, será cumprido agora com o contágio em áreas pobres e miseráveis, com habitações precárias, alta densidade populacional, ou seja, casas e casebres compartilhados por várias pessoas.

No pior momento da pandemia, os brancos da classe média com planos de saúde terão a rede privada de hospitais, e negros e pardos disputarão UTIs e respiradores mecânicos do SUS.

Não esperem que os seguidores de Bolsonaro se comovam. O começo do fim do isolamento, que já acontece em vários Estados, para que o comércio e as igrejas se apropriem de parte dos R$ 600 do auxílio de emergência, coincide com o momento em que a doença chega aos pobres.

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