A OSX NADOU, NADOU…

MAS QUE VÁ MORRER EM OUTRA PRAIA!

(1º lance da grande prova aquática realizada na baía da Ilha de Santa Catarina)
por Raul Longo com ilustração de Uelinton Silva

A empresa do bilionário Eike Batista bem que deu braçadas vigorosas.

Segundo relatos já muito tardios para serem confirmados, há questão de um ano, numa das primeiras reuniões com a comunidade do município de Governador Celso Ramos, um advogado e morador da localidade denunciou o escamoteado cabeçalho da lista de presença àquele encontro, onde se indicava que as assinaturas ali inscritas correspondiam aos favoráveis ao megaempreendimento de instalação de estaleiro para cargueiros e plataformas de petróleo.

Deu em bate-boca e ameaças. Acabaram rasgando o tal livro ali mesmo, na frente de todos. Por então ter faltado ao advogado o expediente de registro oficial da denúncia (e se o fez, alguém se incumbiu de arquivar numa lata de lixo), hoje o fato caiu no vazio do “diz quê”. Mas foi relatado por um dos moradores de Celso Ramos, trabalhador sem quaisquer pretensões de notoriedade ou proveitos por qual seja o resultado obtido pelo desafio bravamente assumido pela OSX.

Desde então, a empreendedora vem nadando incansavelmente, sempre incentivada por uma torcida de ansiosos políticos, indefectíveis especuladores ocasionais e empresários a serem beneficiados pela realização do certame.

O projeto, que concentra num único local metade do efetivo distribuído por todo estado pelo maior empregador de Santa Catarina: a companhia de distribuição energética, também arrebata alguns convictos de que quem morrerá na praia será a fauna e a flora marinha, além de intoxicar nadadores de menor fôlego, como pescadores e maricultores, moradores, turistas desavisados e banhistas em geral.

Por fim, essa torcida contrária acredita que quem morrerá mesmo serão as próprias praias. Como veem, não é uma prova simples e a notória falta de talento para síntese deste narrador, nos leva a convidar o leitor a acompanhar os próximos lances, até porque a OSX já se provou determinada a vencer todos os obstáculos e comprar qualquer atalho.

Na etapa de Biguaçu, município onde 90% de seus mais de 55 mil habitantes se concentram em área urbana, a OSX foi recebida com honrarias pelo prefeito Deschamps, do PP. Palmas e salvas ao anunciado aumento de arrecadação, com direito a retreta de bandinha pública, se houvesse!

Não há. De público há muito pouco na municipalidade onde a população dobrou em duas décadas, com consequente duplicação da arrecadação, mas sem correspondentes investimentos em infraestrutura, urbanismo e atendimento às necessidades geradas pelo incremento populacional.

Arguindo-se como empresa de promoção de maravilhas socioambientais pelo Brasil afora, a OSX promete que transformará Biguaçu numa espécie de Miami habanera ou Havana maiamica.

Todos os prazeres de uma sem os controles da outra, ou todos os descontroles e prazeres desejados por aqueles que acenam defesa de interesses públicos para assegurar exclusividades privadas.

Paulo Monteiro, diretor da OSX, promete que a empresa reconfigurará os desordenados implementos industriais, recuperará a degradação da Mata Atlântica, revitalizará as atividades pesqueiras, promoverá a agricultura e todo mundo vai poder comprar carro, computador e até iPod.

Para Deschamps e políticos catarinenses, publicamente Monteiro não prometeu nem um iPodezinho. Mas natural que do daqui e dali de financiamentos do BNDES e outros incentivos federais, em pagamentos a serem rateados por todos os brasileiros, algo pingará para a manutenção dessa classe tão laboriosa e necessária ao estado. Afinal, o que faríamos sem os investigados pela Operação Moeda Verde ou associação ao tráfico internacional de drogas para reeleger nas próximas eleições?

Eleições compreendem custos de campanha e, às vésperas de tais demandas, se seduziu a população de Biguaçu com empregos à mão cheia. 4.000!

Ninguém se perguntou quais empregos e pisos de remuneração serão esses, tampouco quantas vagas serão preenchidas por gente mais experiente nas inusitadas atividades pretendidas pelo empreendimento. Menos ainda sobre o abrupto inchaço populacional a ser promovido pela demanda de consequentes futuras implantações de atividades correlatas.

De onde serão trazidos e quais são os costumes e cultura dessa gente, ou como concorrerão pelos amontoamentos periféricos que configuram o município? Entre outras, não foram questões levantadas por nenhum dos previdentes políticos catarinenses. Em compensação não faltou entusiasmo e incentivo, e a OSX voltou às águas num desempenho olímpico.

Braçada a frente de braçada e eis que se depara com os empecilhos de uma correnteza incômoda: o ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente, responsável pela preservação de 3 reservas ambientais que desde os anos 70 mantêm a sobrevida de todo o ecossistema dessa área onde um irresponsável qualquer andou instalando praias, restingas, lagoas, dunas, manguezais e berçários de espécies internacionalmente em extinção, sem qualquer consulta prévia aos então futuros donos do lugar.

Insensíveis, o pessoal do ICMBio não arrefeceu ao entusiasmo da torcida favorável e fincou pé, obrigando o notável fundista a estender o percurso até Brasília. Claro que no cerrado mar não tem, mas, apesar de eleitos pelo povo, certos políticos não medem esforços para representar interesses maiores e, sem pensar duas vezes, pularam todos no Lago Paranoá!

De lá vieram notícias constrangedoras, amplamente divulgadas pela mídia local, dando conta de que os salva-vidas convenceram a Ministra do Meio Ambiente que meio a ser salvo é o da OSX, não do ambiente.

Alardearam até que Ideli Salvatti, a candidata ao PT pelo governo, se uniu à força tarefa em prol da OSX e mesmo este descuidado narrador, reportou o lance em anteriores descrições da emocionante prova, à qual o atleta retornou com o já esperado e contratado incentivo da mídia.

Convicta da necessidade de superar os últimos obstáculos ainda em tempo de aproveitar os bons ventos e correntezas da temporada eleitoral, a OSX acelerou o ritmo do bater de pernas acercando-se das braçadas finais, enquanto a torcida observa a chegada em arroubos de obliterados por promessas de emprego e empresários a serem beneficiados pelo empreendimento que, segundo se promete, no mundo será o único do gênero com absoluta isenção de danos ambientais.

Cética e desconfiadíssima das boas intenções tanto da OSX quanto de políticos que nunca as demonstraram, a torcida contrária vaia, acusa de trapaça e clama pelo ICMBio.

Sobram acusações para todos os lados. Até para a Dilma Rousseff que ainda nem visitou Santa Catarina como candidata, mas, pelo anunciado esforço da Ministra do Meio Ambiente contra o fluxo das correntezas naturais de seus próprios técnicos do ICMBio, se interpretou que o preparador físico da OSX, vertera dinheiro também para a campanha presidencial da candidata da situação.

Como todos, igualmente confundido pela distância da fímbria do horizonte, de onde apenas se divisa as amplificações das potentes câmeras da mídia – quase nunca fiéis ao fato real, mas sempre eficientes em produção de efeitos interpretativos –; o narrador não pode acreditar na corretagem de todo um país com mais de 9 mil kms litorâneos, em troca das praias de uma única ilha.

Assim mesmo, chora.

Ali, na praia que ama, o narrador chora. Chora por sua ilha e chora pela confiança que deposita em Ideli Salvatti.

Serão justificáveis estas lágrimas? Ideli realmente decepcionará o narrador?

A Ministra de fato está mais para “meu ambiente primeiro e o quintal dos outros depois, seja lá qual for o meio”?

E a torcida de pequenos e mega empresários, especuladores e políticos catarinenses tradicionalmente contrários aos governos e interesses populares?

Terão mesmo comprado o Brasil? Ou tudo não passa de mais uma especulação de outros meios, os de comunicação, associados a uma manobra do fundista obcecado em ser o maior nadador em dinheiro do mundo?

Conseguirá vencer a prova a custa dos incautos de Biguaçu? Do desemprego de maricultores e pescadores? Da falência dos setores de turismo, gastronomia e comércio e seus muitos múltiplos de 4 mil empregos?

Por que tanto interessa às histéricas quadrilhas de especuladores imobiliários a depreciação do patrimônio imóvel de tantas famílias?

Miami ou Havana? Beverly Hills ou Paraisópolis? O que quer essa gente?

Não perca estas e outras revelações! As perspectivas e os acontecimentos dos próximos lances desta titânica competição aquática nas praias da Ilha de Santa Catarina!

Intriga, paixão e ciúme! Mas não morte. Quem quer esse negócio de morte, que nade para outras praias.

3 COMENTÁRIOS

  1. Se quer realmente atingir alguém com seu texto, comece usando uma linguagem mais fácil de ser entendida. Não se esqueça que nem 1% dos 4 mil trabalhadores conseguiriam entender o que vc disse.

    • Leonardo:

      Quando pretendo me comunicar com trabalhadores, não uso a internet. Vou até eles e converso: no bar, na igreja, na esquina, na padaria, na feira.
      Claro que dessa forma também não consigo atingir nem 1% dos 4 mil. Mas como não tenho o dinheiro do Eike Batista, não posso comprar a RBS. Por isso a RBS não se interessa em divulgar as informações que tenho.
      Outra forma pela qual tento atingir os trabalhadores, é essa da internet, como aqui pelo Desacato. Mas aí tenho de usar outra linguagem, porque quem busca informação pela internet já exige um conteúdo e veracidade que a TV e o jornal diário não oferecem.
      Esses veículos limitam o vocabulário e a capacidade de compreensão de grande parte de nossos trabalhadores e, como você diz, qualquer linguagem um pouco mais elaborada já passa a ser difícil para a grande maioria.
      No entanto,ainda assim consigo atingir algumas pessoas, sim. Coincidentemente, neste último final de semana recebi a visita de uma amiga de São José. Como algumas matérias são ilustradas por foto feita por sua filha, com identificação da jovem fotógrafa, a mãe contou que uma colega de classe da menina ficou toda admirada de encontrar o nome da amiguinha na foto de alguém que, conforme afirmou, gosta muito de ler.
      Fiquei orgulhoso de ser lido por uma adolescente de 14 ou 15 anos. Mas acho que você tem razão, não se atinge a grande maioria dos trabalhadores pela internet, até porque grande parte dos trabalhadores sequer tem internet e os que têm, infelizmente, ainda não a usam para realmente se informar.
      No entanto, os poucos que a usam por interesse em informações de algum conteúdo, fazem como eu fazia quando era garoto e filho de trabalhadores, operários. Exercitam a compreensão do conteúdo, a capacidade de entendimento do nosso idioma, e, muitas vezes, consultam dicionários.
      Naquela época era difícil, meus dicionários acabavam desmontando. Hoje é bem mais fácil! Com um click se abre o dicionário do computador e se procura o sentido da palavra.
      O resto é só um pouco de interesse por uma informação de mais veracidade e conteúdo. Apesar dos grandes veículos de comunicação procurarem acomodar a maioria dos trabalhadores à linguagem fácil da mentira e da desinformação, evitando que as pessoas aprendam a pensar; como aquele menina de São José existem muitos trabalhadores mais informados e atentos. Não são a maioria, é verdade, mas sempre são os de maior capacidade de liderança.
      Esse são os que realmente me interessam, pois sei que através deles serei entendido por muito mais do que 1% de 4 mil.
      Você não faz idéia do que tem de amigos meus, daqui do bairro, que já entendem muito do que está nos livros que li, só no bate papo de boteco. Tanto é que nosso bairro estava em peso naquele circo que chamaram de Audiência Pública pela aprovação do estaleiro. Não aprovaram nada nem conseguiram apoio algum.
      Abraço, Raul Longo.

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