Diário Classe Operária Online (Editorial).
É tradição na política francesa separar as etapas da política do País em repúblicas. A Primeira República começou com a Revolução e se encerrou com a coroação de Napoleão. A tradição continua até hoje, nestas eleições, um candidato pelo Partido Socialista defendeu a criação da Sexta República, para substituir a que existe desde 1958.
As repúblicas representam um regime político, é natural que a França, uma nação de tradição de debate político, apresente isso de maneira clara.
O Brasil também teve as suas “repúblicas”, tivemos a República Velha, o Estado Novo, o período entre a ditadura varguista e os anos de chumbo foi chamado de República Liberal, todos delimitavam uma clara diferença de regimes políticos.
Em todas estas repúblicas havia uma relação específica entre a burguesia e as classes oprimidas, entre setores da burguesia, existia um pacto social. Representado por partidos políticos da época, instituições e seus papéis, quando o pacto se rompia, abria-se uma crise e começava um processo de destruição do regime, de criação de outro.
Quando caiu o Estado Novo, o imperialismo se reorganizou para impedir a manutenção do varguismo no governo, o papel crescente do proletariado se fazia sentir, se mostrava pela criação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O regime se firmava na existência dos partidos da burguesia nacional, PTB e PSD, e na oposição imperialista, a UDN, na definição do governo através do voto, na existência de organizações sindicais e na sua liberdade, um acordo geral entre as classes.
Este regime começa a cair quando Getúlio Vargas retorna, o regime já não permitia ao imperialismo controlar o país, isso se mostra na antológica frase de Carlos Lacerda, “Esse homem não pode ser candidato; se for candidato pode ser eleito; se eleito não deve tomar posse; se tomar posse não deve governar”.
A campanha para acabar com o varguismo fez Getúlio se suicidar, mas a situação só encontrou desfecho quando o regime inteiro foi destruído no golpe de 1964. Os partidos foram postos de escanteio, o voto escamoteado e as organizações dos trabalhadores colocadas na ilegalidade, o regime mudou, a relação entre as classes também.
Hoje o Brasil vive uma situação similar à esta época. A chamada Nova República, simbolicamente estabelecida com a Constituição Cidadã de 1988, está acabando. O pacto social estabelecido em 1988 foi rompido. Este pacto garantia a existência de um partido de esquerda de massas, o PT, de grandes sindicatos, de eleição através do voto, de um regime que pareça democrático.
Porém, sob este regime, o imperialismo não consegue mais governar, foram-se os dias em que a direita imperialista tinha desempenho eleitoral, o PT venceu quatro eleições presidenciais e venceria uma quinta em condições normais.
A derrubada de Dilma foi um ato de guerra contra a Nova República. O regime entrou em processo de liquidação.
O governo Temer é prova disso. A burguesia não consegue estabilizar um novo governo sob as bases do antigo regime, por isso as profundas reformas, mas mesmo estas reformas são inviáveis com a atual relação de forças no Congresso. Usando uma combinação de pressão econômica, de imprensa, política e de prisões (Operação Lava-Jato) os golpistas estão tentando forçar esta modificação do regime sem ter que adotar medidas duras e arriscadas, como as de 1964.
Derrubaram Dilma, colocaram Temer no lugar, agora descartam-no, sem ter certeza de que poderão substituí-lo por alguém que estabilize a situação, a Nova República está esgotada e o que virá dela, virá da luta entre a burguesia que a derrubou e o proletariado.