A proposta do passeio partiu do simpático técnico Frankie e eu aceitei, contanto que Rony e Cinthia concordassem também. Ela se arrumou muito bonita. Vestido curto, meia calça e botas de cano curto pretas, maquiada e perfumada. Eu não trouxe nada parecido na minha mala, então, vesti um vestido, tênis e casaco (tenho sentido bastante frio aqui). Rony chegou e saímos. Ele estava a mesma roupa que chegou: calça, uma pólo branca, com a identificação da Rádio Globo de um lado, no peito, e seu nome, do outro.
No caminho, paramos em um shopping (aqui chamam de mall), só para eu dar uma olhada, pois as lojas já estavam todas fechadas. Em frente ao shopping, está localizado um dos hotéis mais famoso (e luxuosos). Atravessamos a rua e entramos no hotel. É muito lindo mesmo, nunca vi nada igual. Havia certo movimento devido a um lounge, que funciona à noite, no térreo. Rony me disse que, na época do golpe, os jornalistas estrangeiros ficavam hospedados ali. Tiramos algumas fotos e retornamos ao carro, uma pick-up vermelha, que estava estacionada no shopping e seguimos.
Encontramos o bar cubano, que Frankie sugeriu. Muito simples, mas preferi não julgar pela aparência. O casal hesitou um pouco na porta (de onde podíamos ver um casal dançando bastante empolgados e as mesas redondas e de madeira cheias), mas por fim, entramos. Eu e Rony pedimos cada um, uma cerveja (hondurenha!) e sua esposa optou por um refrigerante. Ele me surpreendeu, quando pediu um maço de cigarros, pois é muito cuidadoso com sua garganta (geralmente desliga o ar-condicionado do estúdio, quando vai apresentar algum programa e não bebe nada gelado), mas percebi que, finalmente, ele parecia estar se soltando e desligando-se da loucura do seu trabalho. O DJ, um jovem com seu laptop, alternava músicas típicas, como reggaeton, com sucessos norte-americanos atuais, que tocam em qualquer balada do Brasil, como Black-eyed Peas, por exemplo. O estabelecimento não os agradou muito e saímos.
De Roberto Carlos à Maria da Penha
Paramos em um bar/lanchonete perto da nossa casa. O local não estava cheio e era tranqüilo. Depois de sermos revistados, na entrada, olhei para frente e vi um grande telão. A dor nos ouvidos anunciava: estávamos um bar de karaokê. Aí está uma coisa que parece que os hondurenhos adoram – cantar. Rony já reconheceu um senhor, que nos convidou para sentar com ele e seu colega. O senhor cabelos brancos (poucos) era muito simpático e Rony me disse que era um famoso escritor e poeta de Honduras. Ele bebia Campari num copo cheio de gelo. A cantoria era constante. Pedimos algo para comer e eu pedi mais uma cerveja e o casal de arriscou um duas doses de tequila (temos suspeitar que tenha sido má influencia minha).
Era um pouco difícil para conversar, não só pela minha limitação no idioma, mas porque o som era bastante alto e as pessoas estavam muito empolgas. Contudo, sorrisos bastavam. O tal poeta me ofereceu uma música. “Para a querida brasileira, Clarissa”. Achei desnecessário fazer a correção. Eu não havia reconhecido nenhuma música até agora, mas acompanhava a letra no telão. Achei que poderia fazer bem ao portunhol. Mais uma cerveja chega a minha mesa e a generosidade desse povo me deixa até sem graça. De repente, reconheço uma melodia: Detalhes, de Roberto Carlos, sendo cantada em português (quase correto), por um senhor de cabelo escuro e bigode, em uma mesa ao lado.
Rony e eu resolvemos nos apresentar. O tal senhor se chama Oscar Gonzáles e viveu no Brasil, na década de 70. Conhece São Paulo e Rio de Janeiro. Que encontro! Achei estranho quando ele me disse que eu deveria conhecer o grande amor da sua vida, na verdade, bem pouco provável. “Eu tenho uma foto dela aqui na minha carteira, pêra aí”, disse ele. Aquela 3 x 4 realmente não me parecia estranha. Então ele me disse o nome completo dela: Maria….. da Penha. “Meu Deus, você namorou a Maria da Penha”, eu exclamei. Ele repetiu, com um doce sorriso no rosto e os olhos um pouco mareados, que ela o amor de sua vida e que foram namorados no Brasil. Expliquei ao Rony quem é Maria da Penha e ficamos assustados com tamanha coincidência.
Punta
Frankie e mais um funcionário Globo chegaram ao bar, enquanto eu me despedia de Oscar. Ficamos todos na mesa mais uns minutos e fomos para uma espécie de boate, na parte de trás do bar. Lá havia alguns poucos casais e uma mesa com não mais que cinco pessoas. Uma das duplas me chamou a atenção. Era um homem baixo, quase careca e gordinho. Dançava “sensualmente” com sua parceira, uma mulher muito alta (e ainda de salto), cabelos muito ondulados, tingidos de loiro e com um corpão diferente das mulheres daqui. Era um travesti. O som era igual ao outro bar, incentivando as pessoas a dançarem e tentando agradar a todos os gostos. Cínthia estava muito animada, disposta a fazer Rony rebolar um pouco e logo foram para a pista. Não demorou muito e Frankie me convidou também. Nem pensei em recusar, pois a música e as pessoas estavam muito animadas.
Aqui se dança mais junto, o corpo tem que estar solto e deve seguir o ritmo intenso, que comanda a mola da cintura e os passos marcados no chão. Cinthia dança muito bem, Rony tenta acompanhar (mas me surpreendeu). Desde o começo da noite ela estava me dizendo que iríamos dançar Punta, estilo típico de Honduras, de origem garinfuna. Gostei muito de dançar e dancei a noite toda. Cinthia me disse que talvez eu tenha facilidade com o estilo por causa do samba. Mal sabe ela que eu sou uma branquela de Joinville.
me llega que larissa halla estado en la patria de lempira morazan y zelaya aqui eres y son biemvenidos todos los hermanos brasileños
Estou aproveitando sim, Gi! Tá sendo uma experiência linda. Beijão e obrigada pelo comentário!
Oi Larissa!! Pelo que tenho acompanhado sua viagem não vai render apenas o trabalho de conclusão do curso, mas um belo livro! Os contatos que vc tem feito, os lugares, a cultura, enfim, toda a experiência está super interessante! E isso tudo só em uma semana. 🙂 . Aproveite ainda mais esses últimos dias. Bjo grande!!