Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
O Brasil já infectou 4 vezes a população do Uruguai. O Brasil já matou dezenas inteiras de municípios do seu próprio território. O “Brasil governo” fez isso, é uma máquina de morte. Nenhum país do mundo teve um presidente incentivador da infecção em massa. Nenhum governo, em todos os continentes do planeta, teve a coragem, a perversa ousadia de convocar as pessoas para morticínio coletivo como o fez o governo genocida de Jair Bolsonaro.
Hoje, com a morte de outro amigo, comecei a contar em dois dígitos os amigos e conhecidos que morreram, especialmente depois da segunda onda da Covid no Brasil. Pessoas cuidadosas, cautelosas, mas, que tiveram familiares ou amizades irresponsáveis e seduzidas por um psicopata que destrói todos os dias a nação.
Converso com jornalistas de outros países, em particular do Cone Sul, semanalmente. Não tenho já palavras para descrever o que acontece no Brasil. É inexplicável que num país famoso no mundo todo pela capacidade e organização sanitária, com um exemplo reconhecido no mundo como o SUS, em apenas um ano aconteça esta obra macabra. Obra que se majoritariamente atinge às vítimas de sempre, pobres, negros, desempregados, também atinge senadores, empresários, dirigentes, desportistas e pessoal da saúde na vanguarda da luta contra o flagelo.
Como explicar aos colegas estrangeiros que aqui, já na iminência dos 300 mil cadáveres, o país supera, dia após dia, novos recordes de infecção e mortes? Que falta oxigênio, que faltam medicamentos para a intubação, que faltam leitos, que as pessoas morrem jogadas no chão dos hospitais ou dos postos de saúde?
Como explicar que só depois de um ano os banqueiros e os empresários mandem cartinhas ou façam campanhas em favor do distanciamento, do uso da máscara e da vacina? Justamente esses setores que mandaram, sem pestanejar, trabalhadores e trabalhadora ao matadouro para garantir seus lucros muitas vezes indecentes. Esses que alinhados a um governo desastrado que muito lhes serviu economicamente porque, como consequente office boy, garantiu aos ricos mais riquezas, mais flexibilidade laboral, mais privatização, mais roubo e destruição da riqueza nacional, agora pretendem tomar distância pública do monstro. Perversa cena de péssimos atores.
De que forma é possível explicar que esse presidente que persegue a quem, com justiça, lhe apelidar de genocida e seu gabinete de incapazes, ignorantes e tortuosas figuras medievais, transformaram em menos de mil dias uma nação em um cassino, numa roleta russa, onde tem mais balas o tambor do revólver do que nos filmes de ação.
Com qual narrativa se explica que um presidente minta ao seu povo dia e noite e nada aconteça, mesmo que a mentira conduza à morte centenas de milhares de compatriotas? Como desenhar que, ainda assim, milhões de apoiadores fanáticos que, se preciso for, entrariam em mortal combate para lhe defender, o louvem e o sacralizem, mesmo tendo familiares, amigos e colegas mortos. Como explicar tamanho embuste e tamanha negação?
Ninguém, em lugar nenhum da terra, nem os mais adoidados carniceiros contemporâneos, entendem o Brasil de Bolsonaro. Porque esse Brasil, que já não era um país para amadores, se tornou um país de milhões de pessoas transtornadas, alucinadas, ignorantes da sua própria realidade, onde um psicopata coloca o mágico paraíso a curta distância dos seguidores, mesmo que o passaporte seja o ódio, a terrível morte por asfixia, por fome ou violência extrema do estado.
Clamam tarde as elites empresariais e os banqueiros. Trama absurda e roteiro indigno. O fazem para esconder aos olhos dos explorados que são sócios deste genocídio e únicos detentores do bônus da maior carnificina coletiva da história. A máquina mortífera chamada governo precisará responder por seus atos, e deverá ser julgada dentro ou fora do Brasil. Com ela terão que ser julgados esses empresários e banqueiros que apertaram prefeitos e governadores para que a morte continuasse sua caminhada sem mais incômodos que pular as pilhas de cadáveres de trabalhadores, empregados ou não.