A literatura social de Felipe Schultze e os “muros” de Blumenau

Foto: Divulgação

Se o que diferencia o homem dos animais é a linguagem, é através do significante de uma linguagem que distingue essencialmente as sociedades humanas das sociedades animais. (LACAN, 1961-1962)  e é essa linguagem, sistema significante com qual o inconsciente está estruturado, que faz a cultura emergir como uma protagonista em nosso inconsciente. Nos artigos de Felipe Gabriel Schultze, a cultura reina como a mãe (absoluta) das linguagens! 
Autor dos livros “Federalismo Brasileiro”, “Sede de Liberdade” e, o mais recente, “Coragem e Resistência”, a militância de Felipe advoga por consciência, serenidade e paz. O blumenauense de 24 anos surge como tradutor de uma geração resistente, corajosa e poética (luz para tantas outras existentes pelos corredores da FURB, ou das plateias do Teatro), que pretende, além de tudo, provar que a intelectualidade gera espanto no primeiro olhar, mas apazigua pós-efeito,  os tempos de ódio.

Enquanto a maioria (virtual) dos habitantes de sua redondeza celebra a vida saboreando personagens que pingam raiva e preconceito, Felipe divulga em seus textos a diversidade artística e cultural que ainda habitam o coração dos nascidos no Vale – tradicional reduto onde o fascismo insiste ditar regras.

Esse mal-estar na civilização abordado por Freud, em que também por Lacan se posiciona tão consistentemente junto à psicanálise, é atribuído ao trabalho no sujeito do seu inconsciente. Felipe buscou no Direito, a formação para embasar aquilo que trabalha, sem cessar , e que assim mantém permanentemente nosso mal-estar vivo. Cruel por natureza, mas esplêndido quando o jovem escritor os observa, sob seu olhar apurado e carinhoso. Sim, oferecer a arte como refúgio à realidade sangrenta, significa tratar o ódio com o remédio do amor.

Assim o inconsciente trabalho em tempo integral; mesmo que conscientemente o sujeito tenha terminado o seu trabalho, o inconsciente continua a trabalhar, mesmo nos momentos de lazer e descanso. Essa premissa psicanalítica torna-se mais clara com o lançamento da terceira obra de Schultze, que mais do que nunca, trilhará um caminho de palestras e ensaios filosóficos por toda a sua região. “Para escrever, é necessário você sentir o descontentamento”, avalia o autor.

Felipe lançou um livro provocativo e reflexivo em um momento crucial e assustador para as massas. Fazer pensar é um ato político, mergulhado em poesia e sentimento. Diariamente, em artigos que estampam sites de notícias de Blumenau, ele aponta para a reflexão e o conhecimento como saída para o desespero.

Mas que militância, senão cultural, seria esta? A cultura quando explora o mal-estar do sujeito, como força de trabalho, na realidade está explorando o desejo do sujeito. Existe um desejo porque existe algo de inconsciente, algo da linguagem que escapa do sujeito em sua estrutura e seus efeitos; há sempre no nível da linguagem alguma coisa que está além da consciência. “É aí que pode se situar a função do desejo”. (LACAN, 1996).

Enfim, uma vez que a cultura explora esse mal-estar do sujeito, e conforme já dito por Freud que o sujeito vai buscar formas alternativas para amenizar esse mal-estar, o trabalho alienante ao qual o sujeito se submete, é então uma outra forma da qual a cultura se beneficia e se apropria, apresentando ao sujeito a falsa ideologia de que ele encontrará também aqui uma forma de felicidade.

É preciso ressaltar que este catarinense é hoje para as mídias alternativas o que vários historiadores, artistas, professores, advogados e militantes afora, foram e cumpriram – em nome da pluralidade social, em outras épocas calorosas para transformar Blumenau numa mini-capital cultural de resistência. Numa cidade que é palco para movimentos sociais ainda manterem vivos o sentimento de uma sociedade mais justa e igualitária, ler os livros de Felipe (e divulgar seus ensaios nas redes sociais) é acreditar que a arte vai vencer (de novo) o medo. Voltemos à Blumenau de 1996. Foi logo ali!

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