Por Fernando Castilho.
O governo federal recebeu muitas críticas após ter escolhido o tema ”Pátria Educadora” como lema ou missão para 2015.
”Quer esconder o descaso com a educação”, bradaram alguns.
”Dilma é demagoga”, gritaram outros.
Outros ainda classificaram a presidente de hipócrita, uma vez que a educação parece que não avança no país.
Realmente, poderia estar muito melhor.
Mas será que Dilma arca sozinha com a responsabilidade?
Quantos desconhecem que o governo federal repassa verba para os estados e municípios administrarem as escolas estaduais e municipais?
Quantos não sabem que em 2002 o orçamento federal para a educação foi só de 17 bilhões, em 2014 cresceu para 94 bilhões e em 2015 atingiu 101 bilhões de reais?
Ah, mas cortaram esse orçamento!
Ok, o corte foi de 1 bilhão, é verdade. Mesmo assim, 100 bilhões!
A Folha de São Paulo noticiou o corte com sua costumeira maneira de mostrar e omitir de acordo com o que lhe interessa. Não esclareceu na matéria o montante do orçamento, só o corte.
Bem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, manteve para 2015 os mesmos 28,4 bilhões de reais, ”esquecendo-se” que a inflação no período foi de 7%, o que deveria resultar em 30,4 bilhões. Na prática, cortou 2 bilhões de reais na educação! A mídia não deu um pio, para variar.
Além disso, seu projeto de ”reorganização” e fechamento de 94 escolas sem que houvesse diálogo com a população envolvida, demonstrou, além de autoritarismo, descaso com a educação.
São Paulo definitivamente não é um estado educador.
No momento em que escrevo, 85 escolas foram ocupadas por seus alunos.
Trinta dessas escolas apresentam, segundo o Estadão, desempenho acima da média, o que dá a dimensão da irresponsabilidade do governador.
A mídia trata o assunto como invasão, esquecendo-se que invasões são ações executadas por entes externos a um território e nunca pertencentes a ele.
Alunos de escolas públicas são legítimos ocupantes desse espaço público. Cabe a eles utilizá-lo na forma para o qual foi criado e zelar por ele. Defender esse espaço público contra agressões também se inclui aos seus deveres.
Nesse período de quase duas semanas em que as ocupações foram começando e chegaram a este espantoso número, fomos todos surpreendidos pela atitude tomada por esses estudantes na maioria pobres sem condição de pagar uma escola particular que possa facilitar seu ingresso numa faculdade.
Esses meninos e meninas, com estilo próprio de sua juventude, numa ação cívica defendem suas escolas contra a invasão da polícia truculenta de Alckmin que quer tirá-los à força. Demonstrações de violência por parte da polícia contra estudantes e professores já aconteceram, sempre ocultadas pela mídia. Típico modus operandi de governadores tucanos, vide Beto Richa no Paraná.
Alckmin já tentou até reintegração na posse, mas a justiça não concedeu é claro. Reintegrar na posse só se aplica em casos em que o bem público é invadido, o que não é o caso, como vimos acima.
Os alunos limpam os pátios e salas de aula, cozinham alimentos doados por várias entidades, inclusive o MST com seus orgânicos, fazem vídeos para o youtube, aprendendo a se expressar melhor oralmente, realizam reuniões e assembleias, etc..
O tiro de Geraldo Alckmin acaba saindo pela culatra.
Se uma das intenções era de sucatear o ensino público para entregá-lo de bandeja para a iniciativa privada, o governador conseguiu somente que os estudantes aprendessem em apenas duas semanas o conteúdo de um ano inteiro ou mais de Sociologia.
Nossos estudantes agora também são mestres em cidadania, solidariedade e organização.
Aprendem também a prática democrática de votar decisões e acatá-las.
A lição de vida que estão tendo vale muito mais que qualquer trabalho acadêmico feito burocraticamente só para tirar nota e passar de ano.
Indiretamente, graças ao governador de São Paulo, surge uma nova geração que saberá, já nas próximas eleições, escolher seus governantes e representantes com mais consciência política e dar o troco na hora certa.