Em meio ao turbilhão de dor e espanto pelo feminicídio da Julieta Hernandez, a palhaça Jujuba, que há 9 nove anos nos encantava, com a sua bicicleta, sua doçura e sua coragem, recebemos esta carta, ao mesmo tempo, íntima e épica, escrita pela irmã Sophia ‘La Roja’ Hernandez, e pela Nona e a Vero, suas irmãs d’alma.
Segue o texto, traduzido ao português por nós da Pluriverso, e na sequência, a original em espanhol.
“Há alguns dias, recebemos a pior notícia, aquela que ninguém deveria nunca ouvir. A imprensa sensacionalista faz o seu trabalho, mostrando-nos informações e detalhes horríveis que fizeram muitos terem medo. Mas Julieta sempre rejeitou o medo, ela era uma ariana poderosa, nunca teve medo, pelo contrário, rebelava-se com o poder de uma tempestade. Hoje, devemos contar essa parte de sua história, que não é de forma alguma a mais importante nem a que queremos que seja lembrada, mas sua trágica morte é uma história de proeza inimaginável.
Julieta se imortalizou e essa é a maior expectativa de qualquer artista! E dói, claro, dói a todos nós porque sentimos que tínhamos muito a aprender com ela, tantos planos interrompidos pela realidade injusta. Mas Juli era assim, ela vivia o presente buscando sempre a expressão mais elevada de sua alma. Sua bondade e disposição para servir sempre foram sua forma de se relacionar. Julieta não acreditava em impossíveis, como acreditar neles se ela percorreu milhares de quilômetros com a força de suas pernas.
Num dia sombrio, em seu caminho ela encontrou cinco grandes razões para se martirizar, cinco crianças, crianças pobres. Os assassinos dela foram os monstruosos pais dessas criaturas. Com o último dinheiro que tinha, ela comprou leite para essas crianças e decidiu ir para a casa dessa família pobre e miserável. Possivelmente, pelo que as pessoas contam, ela percebeu o abuso contra elas. Não era a primeira vez que Julieta se comovia diante do sofrimento infantil e se disponibilizava para lhes levar ao menos um pouco de alegria e amor, e foi naquela casa que aconteceu tudo o que não conseguimos mencionar. O homem, bêbado, quis abusar de Juli, ela se defendeu com todas as suas forças, mas a mulher dele foi quem conseguiu deter nossa Julieta, agarrou-a cansada e muito machucada.
Eles a enterraram com a sua bike, com os seus sonhos e os nossos corações. Hoje ambos estão e estarão presos pelo resto de suas vidas.
As crianças estão agora em um abrigo com um futuro, com outra oportunidade. Obrigada, Juli, por sua dedicação, pois nessa cena final você salvou cinco crianças de tantas misérias, e com isso gerou um movimento que não se apagará, porque aqueles que morrem pela vida não podem ser chamados de mortos. E você, irmã, foi isso, luz, amor e sorrisos que sempre ressoarão em todos nós que tivemos a sorte de conhecê-la, e em todos que ouvirem e conhecerem sua história.
Sophia la Roja Hernández e suas irmãs de alma e caminhos.“
Carta original em espanhol
“Hace unos días recibimos la peor de las noticias, la que nadie debiese nunca escuchar. La prensa amarillista hace lo suyo mostrándonos informaciones y detalles espantosos que han hecho que muchxs tengan miedo. Pero Julieta siempre renegó del miedo, ella era una Ariana poderosa, nunca tuvo miedo, es más, se revelaba con el poder de un aguacero. Hoy debemos contar esta parte de su historia, que no es para nada la trascendental ni la que queremos sea recordada, mas su trágica muerte es una historia de inimaginable proeza.
Se inmortalizó la Julieta y eso es la mayor expectativa de cualquier artista! Y nos duele, claro, nos duele a todxs porque sentimos que teníamos mucho que aprender de ella, tantos planes truncados por la injusta realidad. Pero la Juli era así, ella vivía el presente buscando siempre la expresión mayor de su alma, su bondad y disposición al servicio fue siempre su manera de relacionarse. Julieta no creía en imposibles, cómo creer en ellos si recorrió miles de kilómetros con la fuerza de sus piernas.
Un día oscuro, en su camino encontró 5 grandes razones para martirizarse, 5 niñxs, niños pobres. Los asesinos de ella fueron los monstruosos padres de esas criaturas. Con el último dinero que tenía compró leche para esos niñxs y decidió irse a la casa de esa pobre y miserable familia. Posiblemente, por lo que cuenta la gente, ella percibió el maltrato hacia ellos. No era la primera vez que Julieta se conmovía ante el dolor infantil y se ponía a disposición para llevarles aunque fuese un poquito de alegría y amor, y fue en aquella casa donde ocurrió todo lo que no nos sale nombrar. El hombre, borracho, quiso abusar de Juli, ella se defendió con todas sus fuerzas, la mujer fué quién logró detener a nuestra Julieta, pues la agarró cansada y muy golpeada.
La enterraron junto a su bici, junto a sus sueños y nuestros corazones. Hoy ambos están y estarán presos para el resto de su vida.
Los niños están ahora en un refugio con un porvenir, con otra oportunidad. Gracias Juli por tu entrega, porque en esta escena final salvaste a 5 niñxs de quizás cuántas miserias, y con ello generaste un movimiento que no se apagará, porque los que mueren por la vida no pueden llamarse muertos, y tú, hermana, fuiste eso, luz, amor y sonrisas que estarán por siempre resonando en todxs quienes tuvimos la suerte de conocerte, y en todxs quienes escuchen y conozcan tu historia.
Sophia la Roja Hernández e suas irmãs de alma e caminhos.“