“A Internet não faz milagre”

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Texto e fotos: Rosângela Bion de Assis, para Desacato.info

O professor e colaborador do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação) e da Renajorp (Rede Nacional de Jornalistas Populares), Gustavo Barreto, falou sobre “A aplicação das redes sociais no jornalismo sindical” durante o 2º Seminário Unificado de Imprensa Sindical, no dia 8 de agosto, no Hotel Canto da Ilha, em Florianópolis. O evento foi organizado pelo Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora, com a participação de cerca de 180 pessoas, entre participantes, convidados e organizadores, de 14 estados do país. O 2º Seminário Unificado teve como tema principal “A democratização da comunicação e a luta contra a criminalização dos movimentos”. Nos dias 6, 7 e 8 de agosto o evento foi transmitido, ao vivo, e narrado nas redes sociais, pelo Portal Desacato.

Gustavo, que também é jornalista, pesquisador e co-criador do portalconsciência.net, afirmou que “até pouco tempo muitos sindicatos nem tinham página na Internet, hoje só a página é inútil.” Para ele, o mundo virtual é uma organização da realidade e que pouco ou excesso de informação é ruim. “É uma mentira pensar que quanto mais informação melhor, a informação precisa estar organizada.”

“A maior parte das informações que circulam na Internet são repetidas, cerca de 70% do conteúdo é reprodução”, afirmou Gustavo Barreto. Ele explica que nos Sindicatos pode ocorrer o mesmo, “o conteúdo é um só, e deve ser replicado nos principais meios de comunicação”. Para o palestrante, as pessoas mais antigas têm formas eficientes de comunicação, que não podem ser descartadas. “Uma redação que não tenha várias experiências geracionais é ruim (…). Eu prefiro ler jornal, estou no Facebook porque todos estão lá. A gente sabe que o jornal é mentiroso, mas continua lendo.”

O palestrante afirmou que o termo “guerrilha da informação” é usado porque em 1999 havia menos que 50 blogs e atualmente são criados 100 mil blogs todo dia. “Ao todo são mais de 100 milhões de blogs no mundo”. Para o pesquisador, foi superado o dilema: a tecnologia vai nos salvar ou nos destruir? “A Internet é um progresso, isso não está mais em discussão. É um instrumento eficiente, sites disponibilizam programas, como Photoshop, gratuitamente e viabilizam financiamentos coletivos”. Para ele, o sinal de acesso no Brasil ainda é um dos mais caros do mundo, com uma qualidade apenas razoável.

Além da home page

Gustavo Barreto é autor de um dos capítulos do livro, Muito além da home page, que está sendo organizado pelo coordenador do NPC, Vito Giannotti. No seminário, ele falou da ruptura ocorrida em 2000, “antes você sabia de um fato e ligava a televisão, hoje você acessa a internet e pode conferir em várias fontes. Isso é credibilidade”. Para Gustavo, os conceitos básicos do jornalismo não vão desaparecer, mas estão mudando, porque na internet você tem acesso a todos os links contidos nas informações, que a imprensa escrita não divulga.

“Não confundam barateamento da tecnologia com falta de necessidade de profissionais para utilizar essa tecnologia” alertou o palestrante. “As técnicas jornalísticas não podem ser jogadas fora e isso vale para todos os meios. A Internet não faz milagre”. Gustavo defendeu a necessidade de analisar como as pessoas se informam, “mesmo no interior do Marajó, o pessoal é ligado no Facebook, nas lanhouses. Tem ferramentas que precisam ser avaliadas se podem ou não serem abandonadas”.

Para Gustavo a o “sujeito hiperconectado” é totalmente individualista. “Precisamos estar atentos ao discurso conservador, porque quando você se reúne para fazer algo transformador, é diferente”.

Ele afirmou que o Google fatura mais que toda indústria cinematográfica dos EUA. Um dos poucos elogios que o palestrante faz ao Facebook é o filtro que ele cria, quando muitos amigos compartilham o mesmo link. “Isso porque a minha time line é só de jornalistas”. Sobre a censura de conteúdos “denunciados como inadequados” no Facebook, Gustavo declarou que “é arbitrário mas é social, são as regras deles e não podemos mudar isso”. Ele explicou que, devido a disputa empresarial, um vídeo postado no YouTube e depois divulgado no Facebook será menos visualizado que um vídeo postado diretamente no Face.
O palestrante citou exemplos da criminalização através da Internet. Bradley Manning utilizou o WikiLeaks, site sueco que não divulga o autor da informação, mas “foi descoberto porque comentou com um amigo, e está preso porque denunciou atrocidades lesa humanidade. Deveria ser um herói, mas está sendo torturado”. Aqui no Brasil, os provedores tiveram que entregar para o polícia os nomes dos responsáveis pelas páginas que estavam chamando para as manifestações de rua. Por isso, Gustavo defendeu que o site continua sendo o lugar mais importante e seguro da Internet. “Postagens no Face podem ser censuradas, no site é meu e o Face não pode censurar os conteúdos compartilhados da página”. Gustavo citou também a situação de amigos refugiados que tiveram o Facebook censurado pelo governo.

 

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