Por Marcelo Hailer.
Uma história chocou a Catalunha, região de Barcelona. Na noite de 17 de junho de 2019, Mariano Daniel Vásquez gravou com o seu celular 15 vídeos de sua namorada, Susana Cortés, durante uma grave crise de hiperglicemia devido à sua diabete. Ao invés de buscar ajuda, Vásquez optou por apenas gravar a sua companheira que, por cousa do grave quadro, faleceu hora depois. O homem foi preso e, na semana passada, foi à júri popular que o condenou a prisão perpétua.
No julgamento, que ocorreu na última terça-feira (29), Vásquez foi acusado de assassinato com crueldade. O julgamento foi realizado no Tribunal de Violência contra a Mulher nº de Gavá, Barcelona, presidido pela juíza Joan Francesc Uría Martínez. Cerca de 25 testemunhas participaram do julgamento.
Violência de gênero
O momento final, em que Vásquez filmou Susana até a o momento de sua morte, é o resultado de uma relação marcada por violências de gênero.
De acordo com as testemunhas, o namoro de Susana com Vásquez, que durou quatro meses, era marcado por agressões físicas e psicológicas.
Além disso, Vásquez obrigou Susana a se afastar de todas as pessoas que faziam parte do seu convívio. Até mesmo a família de Susana foi apartada de toda a história e não sabia da situação de violência a qual a Susana estava submetida.
De acordo com a acusação do julgamento, os vídeos gravados por Vásquez seriam utilizados para montar um álibi que o isentaria de culpa diante de uma queixa iminente de violência de gênero: dias antes da morte de Susana, o homem agrediu a mulher com golpes e, no momento de sua crise hiperglicêmica, ela tinha hematomas no rosto e em diferentes partes do corpo resultantes da agressão que havia sofrido.
Segundo informações do site Infobae, que teve acesso aos vídeos, nas gravações é possível acompanhar a piora do quadro de Susana e Vásquez simular que a ajudava, quando na verdade praticava terrorismo psicológico para literalmente deixá-la morrer.
Tortura e horror
Susana e Mariano se conheceram em fevereiro de 2019 em uma noite que ela havia fechado o seu bar, El Recodo de Gavá, e foi com uma amiga para um outro bar, que ficava perto do seu. Foi nesta noite que ela conheceu Mariano, que lhe disse que era dentista, argentino e que vivia na Espanha há mais de dez anos.
Em seu depoimento durante o julgamento, Mariano disse que conheceu Susana na manhã de 4 de fevereiro, mas, negou que tenha tido uma relação amorosa com ela, que eram apenas “amigos que saíam e ficavam”.
Porém, os amigos de Susana o desmentiram e afirmaram que Susana organizou jantares e que o apresentava como o seu companheiro. No dia em que Susana morreu, o homem se apresentou à polícia como “parceiro da mulher”.
“Entre os meses que eles começaram a namorar e até a morte da minha irmã, nunca suspeitamos que ele estava batendo em minha irmã. Susana nunca nos disse nada e nas poucas reuniões em que estivemos todos juntos, eles pareciam estar bem”, disse Daniel Cortés, irmão de Susana, ao Infobae.
Agressões
Mensagens de áudio enviadas por Susana, depoimentos de colegas da mulher no bar El Recodo e até mesmo relatórios médicos que verificaram os repetidos casos de golpes também foram incorporados como evidências.
No dia 19 de abril de 2019, Susana foi com o Mariano a um hospital em Gava. Quando foi atendida pelos médicos, a mulher relatou sentir uma dor muito forte. O raio-x revelou mais tarde que ela tinha duas costelas fraturadas.
O irmão de Susana também revelou que, ao médico, Susana disse que tinha caído da cama, mas escreveu a palavra “alarme”, para avisar ao médico que estava sendo vítima de violência doméstica.
Ela poderia ter sido salva
A autópsia revelou que Susana Cortés morreu devido ao choque de hiperglicemia que levou à falência de vários órgãos.
Médicos consultados durante o julgamento indicaram que, caso Mariano Vásquez tivesse chamado um serviço de emergência, a condição de saúde de Susana Cortés teria sido imediatamente revertida e não haveria risco para sua vida.
O júri considerou Mariano Vásquez culpado de quatro dos cinco crimes de que foi acusado.
A juíza Uría Martínes condenou Vásquez a 25 anos de prisão até que sua decisão possa ser revista. Também foi condenado a 18 meses de prisão por três crimes: maus tratos, violência de gênero, abuso psicológico e crime contra a privacidade por ter filmado Susana Cortés sem o consentimento dela.
“Foram quase três anos de luta e angústia para nós. Mas agora temos algum alívio. Este julgamento serviu para nos dizer o que este homem é o que ele fez com minha irmã. Nenhuma mulher vai sofrer nas mãos dessa pessoa novamente”, declarou Daniel, irmão de Susana.