Por Sirlene Bento Cardoso | @lenebnt/Instagram
“Eu acordei 6h, caminhei até a parada e peguei o primeiro ônibus, são 6h46 – nesse eu não consigo nem sentar porque não tem assento vago. Mas hein, vocês sabiam que os motoristas quando têm MUITÍSSIMAS pessoas no ônibus eles passam direto? É uma forma de evitar a lotação dos ônibus? É, o problema é que se eu não pegasse esse, só dali 34 minutos teria outro. Cheguei no TIRIO e perdi o ônibus pro centro das 6h56 por 1-2 minutos, esperei e peguei o das 7h04 – esse chega a ter 2 e 3 filas (como na foto tirada 31/03). Têm até um fiscalizador no terminal. Ele não deixa ninguém ficar de pé e, não deixa nenhum banco ficar vazio. Mais de 3 mil pessoas morreram de COVID-19 ontem e eu aqui, à 5cm de outro trabalhador que também tá angustiado. Cheguei no TICEN, troquei de plataforma e infelizmente, perdi outro ônibus. Peguei o próximo, só que esse dá muitas mais voltas. Opção? Não tenho. Cheguei no meu trabalho 8h05 – atrasada. Passou o dia. Às 17h05 chegaram, é a pior parte do meu dia. Peguei o ônibus 17h13. Cheguei no TICEN – já são 17h53. O ônibus anterior passou faz 1 minuto, porcaria, de novo! Esperei. Peguei o das 18h, cheguei no TIRIO às 18h18 e adivinhem? Passou o ônibus sentido bairro faz 3 minutos. E agora? Tenho duas opções – ruins – esperar o próximo que é daqui 37 minutos ou pegar outro que passe na avenida principal. Ok. Peguei o que passa na avenida principal 18h20. Desci em uma parada, mas tive que ir andando uma avenida quase inteira até chegar em casa. Noite, pouca iluminação e pressa pra chegar na aula. Cheguei em casa e a aula começou faz 18 minutos”.
E esse é o meu deslocamento, de segunda à sexta. Trabalho-casa e casa-trabalho em Florianópolis. Dizem que nem tudo é de mão-beijada, mas existe algo que é, nesse país? Só pra quem é filho de rico mesmo. Além desse problemão de mobilidade, ainda têm a pandemia. O vírus pode até pegar em todo mundo, mas as possibilidades de proteção a ele não são iguais. Agora me explica, suspender linhas, reduzir frotas, fechar terminais? Que solução genial, hein! Aposto que quem pensou nisso nem ônibus pega.
Se a justificativa de não fazer lockdown são os empregos e a economia, por que não foi pensado um transporte coletivo que dê a opção das pessoas irem pros trabalhos sem se exporem a riscos de vida? Enquanto a vacinação não chega – e que demora! – ou a gente redesenha os sistemas de transportes, fazendo com que sejam públicos de verdade, adaptáveis e baseados na realidade da cidade, ou vamos ver a desigualdade urbana e social acentuada, a crise econômica e das condições de vida da maioria ainda mais absurdas. E cá entre nós, 4 reais e 50 centavos por uma passagem só pra passar tanta desgraça é caro demais.
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