Redação
A República Oriental do Uruguai, o paisito, como gostam de chamar os uruguaios que moram dentro e fora das suas fronteiras, volta à sua ‘normalidade’ política do século 21, e tem novamente um governo da Frente Ampla. Durante o intervalo dos governos frenteamplistas, 5 anos ao todo, sob o comando do oligarca nacionalista, Luis Lacalle Pou, filho do ex-presidente, também nacionalista, Luis Alberto Lacalle, Uruguai regrediu décadas em muitos aspectos.
O sócio menor do Mercosul, tanto por território como por número de habitantes, tinha se destacado até a irrupção neoliberal de direita e extrema direita, pela estabilidade relativa na economia, uma boa distribuição de renda na população, boas condições de emprego e um alto nível educacional e sanitário. Tudo foi por água abaixo com Lacalle Pou.
Vários setores estratégicos foram vendidos a preço de banana ao setor privado e às multinacionais. A insegurança tomou conta do país com um grande aumento de presidiários e um grande negócio carcerário. A repressão se fez presente de forma muito semelhante a momentos da ditadura e a perseguição e destruição de reputações esteva na ordem do dia.
Como foi reiteradamente expressado nos bastidores, a Frente Ampla precisará de uma grande unidade no seu interior, mas, também, um grande diálogo com todos os setores do campo popular. De todo modo, há uma grande esperança de que esta nova oportunidade da Frente Ampla, com uma renovação marcada pelo passagem inevitável do tempo, traga novos brios a um povo historicamente digno, culto e pacífico.
Para sentir as primeiras sensações deste momento histórico que vive o vizinho país, o jornalista e apresentador do Portal Desacato, Raul Fitipaldi, conversou com o deputado nacional, Gabriel Otero, figura marcante e oriunda das bases sociais tradicionais da FA, como é o popular bairro de trabalhadores e trabalhadores, La Teja.
A seguir o rápido e direto diálogo entre Otero e nosso jornalista:
Orsi assume uma grande crise econômica deixada por Lacalle Pou
R.F. O que significa a posse de Yamandú Orsi como Presidente da República na atual conjuntura econômica do Uruguai?
G.O.A situação econômica do Uruguai não é das melhores. O novo governo toma posse com uma enorme crise em três setores muito importantes; laticínios, carnes e autopeças. Centenas de demissões nesses três setores e quase nenhuma medida do governo que está deixando para trás, o mesmo déficit de 2020 que prometeu reduzir, maior endividamento, 13 bilhões a mais em dívidas com bancos internacionais. Isso se soma à enorme perda de salários e pensões que atingiu duramente a economia familiar.
Primeiro o Mercosul
R.F. Há expectativa quanto ao posicionamento de Orsi em relação ao Mercosul e os BRICS. O que se pode esperar?
G.O. A grande expectativa tem a ver com o que Orsi já anunciou. Primeiro, a região, através do Mercosul, tudo o que pode ser negociado com o restante do mundo. É difícil chegar a um acordo de livre comércio com qualquer potência. A questão dos BRICS está na mesa.
Maioria parlamentar, pero no mucho…
R.F. Que apoio parlamentar tem Orsi para implementar as mudanças e ajustes que considera necessários após a gestão de Lacalle Pou?
G.O. Na câmara alta (senadores) temos uma maioria clara e senadores experientes. Na Câmara dos Representantes, é preciso buscar acordos, pois serão necessários dois votos externos para determinadas votações, por exemplo, o orçamento quinquenal.
O papel da vice
R.F.Qual papel está reservado para a vice-presidente e ex-prefeita de Montevidéu, Carolina Cosse (na foto de capa ao lado de Yamandú Orsi)?
G.O. O papel da vice-presidente é central, e grandes acordos serão alcançados por meio de sua coordenação interpartidária.
Um porto estratégico
R.F. Os espaços estratégicos para o país que foram privatizados durante o governo Lacalle Pou serão devolvidos ao controle estatal? Fale-me, se possível, sobre o Porto de Montevidéu.
G.O. O porto tem uma concessão de 60 anos. É uma situação que terá de ser gerida e precisará de uma auditoria na sua utilização e com relação às formas com que a empresa belga tem se comportado.
Tradução e revisão: Redação do Portal Desacato
