A festa do ano

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Por Débora Mabaires, Buenos Aires, para Desacato.info.

O governo de Mauricio Macri completa um ano  e o povo não tem motivos para festejar. Porém, tem alguns que com a taça de champanha na mão, estão celebrando ter sido os grandes ganhadores desta gestão de governo.

As agroexportadoras foram beneficiadas com a isenção do pagamento de direitos de exportação para todos os grãos e cereais, a exceção da soja, que seguem tributando, porém, menos. Esta medida lhes pôs no bolso quase 5 bilhões de reais.

Além do mais, foi estendido o prazo para que tragam de volta para o país o dinheiro obtido por suas exportações, que antes era de um ano e agora é de cinco. Ou seja, os dólares destas vendas não ingressarão ao país até o ano 2021.

As mineradoras pagavam apenas 5% de direitos de exportação e também foram isentadas pelo o governo de Mauricio Macri (que também é dono da empresa mineradora Geometales). O dinheiro que antes era para o Estado para fazer obras e que agora as mineradoras levam ao exterior, igual que os produtos que extraem de nosso solo, rondam o bilhão de reais.

Estes dois setores da economia, concentrados em muito poucas mãos, foram beneficiados no   primeiro mês de governo, com o pretexto de que gerariam novos postos de trabalho por reinvestir esse lucro multimilionário. A realidade demonstra um ano depois e segundo os dados oficiais da ANSES –Administração Nacional da Seguridade Social, que estes dois setores destruíram uns 9.000 empregos.

Mauricio Macri iniciou seu governo demitindo trabalhadores do Estado, com a desculpa de reduzir as despesas do governo. Mas contratou novos empregados entre seus seguidores partidários e paga grandes salários.

Outro setor que está festejando as medidas econômicas são os banqueiros: este governo tomou dívida externa por 169 bilhões de reais. As comissões que cobram os operadores financeiros são fabulosas.

Foi votada no Congresso Nacional a lei de orçamento enviada pelo Poder Executivo: se reduzem os recursos destinados à assistência social;  à assistência sanitária;  à educação;  à pesquisa científica e tecnologia, e também ao investimento em obras públicas.

Contudo, na mesma lei foram estatizados 4 bilhões de reais da dívida que as concessionárias distribuidoras de eletricidade privadas devem a duas províncias em conceito de regalias pela geração de energia.

É necessário esclarecer que algumas dessas empresas tinham sido denunciadas por eventual lavagem de dinheiro, evasão fiscal e fuga de capitais através do banco HSBC, em uma causa que foi escândalo internacional quando o monegasco Hervé Falciani denunciou aquela entidade bancária. Para falar claro: Mauricio Macri fez com que os desempregados por suas políticas, os aposentados, os trabalhadores e trabalhadoras em general, aos quais aumentou a tarifa dos serviços de eletricidade em 500 %, pagassem a dívida das empresas elétricas que se levaram milhões de dólares à Suíça.

Aqueles que também festejam são alguns dos legisladores que tendo sido votados pelo povo como oposição a Mauricio Macri, deram as costas para seus votantes e facilitam com alegria e desculpas várias a gestão destrutiva que empreeendeu este governo.

Tem celebrações na Grã Bretanha pelo primeiro ano de governo, devido à obtenção de um convênio de exploração da plataforma submarina das ilhas Malvinas que ocupam ilegalmente desde 1833. O acordo para que seja válido deve passar pelo Congresso Nacional, mas tanto Mauricio Macri como a chanceler Susana Malcorra, o guardam sob sete chaves e o chamaram de “secreto”. Acordos ilegais com um país invasor.

A política exterior incluiu, ademais, a assinatura de outro tratado secreto: o de um fideicomisso com fins de investimento, (embora não se saiba para fazer quais investimentos) assinado com o Estado do Catar, em que a República Argentina oferecerá como garantia  300 milhões de dólares do fundo de garantia de sustentabilidade do ANSES (o dinheiro das futuras aposentadorias). A administração deste dinheiro seria realizada por um terceiro país, ainda não designado no acordo; e os conflitos que puderem surgir serão dirimidos nos tribunais da Grã Bretanha, resignando deste jeito, não só o futuro dos trabalhadores em mãos de não se sabe quem, mas também a soberania jurídica.

As empresas estrangeiras também celebram o primeiro ano de festa, já que a abertura das importações que destrói nossa indústria nacional, lhes proporciona  grandes lucros que, obviamente, são enviados a seus países de origem.

Merecem uma festa aparte, as conquistas obtidas pelos grandes meios de comunicação, que viram como esta gestão de governo destruiu em poucos meses suas concorrentes estatais; ao mesmo tempo foram multiplicados os recursos de publicidade oficial e foi eliminada através de uma medida provisória (ilegalmente) a Lei de Meios de Comunicação e de Serviços Audiovisuais, que limitava a concentração midiática.

Longe, muito longe desta festança do ganhadores do modelo econômico de Mauricio Macri, o povo é flagelado desde o discurso oficial, invisibilizado pelos meios de comunicação; hostilizado com a polícia para limitar suas liberdades civis; amedrontado com demissões do trabalho; cerceados seus direitos de liberdade de expressão reprimindo com balas de borracha e pauladas; perseguidos judicialmente e presos seus  dirigentes sociais enquanto é  saqueado brutalmente com a constante  inflação em alta, brutais aumentos de tarifas e salários empobrecidos e sem possibilidade de discussão.

Longe, do fundo da fome, os excluídos do sistema olham a festa surpresos, como tentado compreender quem e como tiveram seu futuro roubado.

Tradução: Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.

Foto: @Tinchocasar

 

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