Por Roberto Antonio Liebgott, para Desacato. info.
Cada palavra e cada gesto do inquilino do Palácio do Planalto traz sempre as imagens de um ser perverso, mentiroso e debochado. Basta analisar seus comentários e entrevistas. Delas não se pode extrair serenidade, realismo ou compaixão. O deboche parece ser sua prioridade. Na dor da morte ele debocha, é sarcástico, diz que não é coveiro. Quando dele se exige alguma providência, como a de fornecer oxigênio aos doentes em Manaus, ele mente dizendo que não pôde fazer nada por causa do Supremo Tribunal Federal.
Perguntado sobre quando o Brasil vai começar a vacinar seu povo, diz que não confia na vacina, que não há comprovação científica de sua eficácia e determina, por outro lado, que se forneça cloroquina aos doentes. Isso é crueldade, é perversidade.
Mas há os que o defendem, porque vêm nele, o desprezo pelos pobres, pelos índios, pelos negros, pelos quilombolas. Já o inquilino do Planalto defende o interesse daqueles que se preocupam em cada vez mais, acumular riquezas ou terras, seja através da exploração do trabalho escravo ou da dizimação de nossas florestas.
Parte da mídia, complacente, obriga seus jornalistas a desinformar e repetir mentiras em rede nacional, sem pudor ou qualquer tipo de contraponto. Fazem uso de programas sensacionalistas para enganar o povo e esconder a realidade. Ao profissional que minimamente tecer alguma crítica ao inquilino, a demissão é sumária.
O inquilino, perverso, assiste a tudo sem esboçar sinais de preocupação com o outro. Com a família que perde seus entes queridos. Com aqueles que percorrem hospitais a procura de socorro e vê seu ente querido morrer dentro de seu veículo ou dentro de uma ambulância. As cenas de pessoas sendo atendidas ou ressuscitadas no chão de hospitais não o comovem.
O perverso representa a morte em oposição a vida, a divisão ao invés da comunhão e a acumulação diante da partilha. Ele e seus seguidores embalam no colo o fuzil e a gadanha. O perverso se guia pelo ódio, pela crueldade. Se alimenta do genocídio. O perverso fragiliza a esperança e combate a solidariedade. Petrifica as relações sociais, políticas e culturais, pondo no lugar a intolerância e o ódio.
O perverso demoniza o Deus da Vida quando nele e/ou em seu nome fala. O transforma em um ser supremo e egoísta, que comanda os caminhos da mentira, da ignorância e do individualismo. Um deus que autoriza a falta de compaixão pelo outro e que permite matar se houver discordância de interesses. Esse deus do perverso conduz ao desprezo, a ira e a vulgaridade.
O perverso não tem a aceitação da maioria, esta requer a sua destituição, porque ele não representa os interesses democráticos. Mas o perverso tornou-se presidente do país e para interromper essa trajetória nefasta há os ritos democráticos ou jurídicos a serem acionados.
No entanto, estes dependem de fatores ainda não bem evidenciados. Nota-se, também, que o desprestígio do governo já ecoa entre aqueles que antes o defendiam, a exemplo de parte do parlamento, parte do judiciário e do sistema especulativo. Quando estes, pelos interesses que defendem, se unirem contra o governo, o afastamento será inevitável.
As forças populares pressionam por discernimento político, jurídico e econômico, mas, lamentavelmente, elas ainda não estão sendo ouvidas por aqueles setores da política e da economia que priorizam tão somente a lucratividade.
Num ambiente de morte e sofrimento a pergunta que fica é: até quando a mentira, o deboche e a perversidade prevalecerão? A resposta é ainda evasiva, pois as imagens e informações que temos são aquelas das covas a céu aberto, onde estão sendo enterrados os mortos pela covid-19, que se multiplicam a cada hora.
A única certeza que temos, nesse contexto horrendo, é de que o governo do perverso se assemelha a um trem descontrolado rumo ao abismo onde, se não for freado, a tragédia será irreversível e de consequências inimagináveis.
O perverso vem construindo um estado genocida, com a complacência e a omissão daqueles que têm o poder de encerrar esse quadro de terror e de morte. Precisamos voltar a ter esperança e empatia, solidariedade e partilha, apesar do perverso.
Porto Alegre, 19 de janeiro de 2021.
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Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
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