Por Emilio F. Moran e Igor Cavallini Johansen.
Na década de 1930, os países do Norte Global aceleraram significativamente a construção de hidrelétricas. No entanto, a partir da década de 1960, esse movimento desacelerou devido ao reconhecimento dos grandes impactos sociais e ambientais dessas obras.
Com o tempo, a hidreletricidade foi perdendo espaço para outras fontes de energia. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 40% da energia era proveniente de hidrelétricas nos anos 1930; hoje, essa participação caiu para cerca de 9%. Em contrapartida, os países do Sul Global intensificaram a construção de hidrelétricas a partir da década de 1970.
No Brasil, sob os governos militares, a ideia de um “Brasil gigante” impulsionou a expansão dessa fonte de energia, uma aposta que persiste até hoje. A Amazônia, com o maior potencial inexplorado de hidreletricidade no país, tem sido palco de grandes barragens como as usinas de Santo Antônio e Jirau, em Porto Velho-RO, e Belo Monte, em Altamira-PA.
Nosso projeto de pesquisa, intitulado “Depois das Hidrelétricas: Processos Sociais e Ambientais após a Construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira”, financiado pela FAPESP, revelou impactos profundos nas comunidades locais.
Esses impactos incluem prejuízos à pesca, à biodiversidade aquática e ao modo de vida dos pescadores. Além disso, a construção das barragens aumenta a vulnerabilidade das pessoas que vivem ao seu redor, facilitando invasões, grilagem de terras e desmatamento em áreas protegidas e territórios tradicionais.
Constatamos que as populações locais se percebem como “zonas de sacrifício” para o “desenvolvimento” do país. Enquanto as hidrelétricas geram impactos negativos localmente, a eletricidade é enviada para áreas economicamente mais desenvolvidas do país. Além disso, o custo da energia para os moradores locais é muito mais alto em comparação com as regiões beneficiadas por essa eletricidade.
As hidrelétricas na Amazônia reforçam as desigualdades internas no Brasil.
Emilio F. Moran é antropólogo, professor da Universidade Estadual de Michigan (Estados Unidos) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Igor Cavallini Johansen, demógrafo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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