A ética e o outro

éticaPor Thiago Burckhart, para Desacato.info.

A ética está desvirtuada. Aquilo que se entende por ética em uma sociedade profundamente doente foi desvirtuado por valores, concepções e ações que a negam a quase todo o momento. Desde certo tempo venho percebendo que a grade maioria daqueles que dizem que outras pessoas não têm ética, são os mesmos que se esquecem de fazer uma autocrítica sobre suas atitudes, sua relação com o mundo e com o outro, esquecem-se de agir eticamente. Muitas dessas pessoas nem sabem o que a ética significa…

Vivemos em um tempo social, político e culturalmente muito conturbado, onde sentidos ganham novos significados. Tempos de ódio, de paradoxos gritantes e desigualdades marcantes. A ética poderia ser um grande instrumento que a ser utilizado para reverter uma parte dessa crise “humanitária” que vivemos, com uma grandiosa potencialidade revolucionária.

Mas, afinal, o que é ética?

Se adentrarmos na seara acadêmica poderíamos ficar anos e anos discutindo sobre o que é ética e o que é moral. Os filósofos antigos, medievais e modernos teorizaram incansavelmente sobre essa categoria, de acordo com as especificidades e idiossincrasias de seus respectivos tempos. Muitos deles chegaram a conclusões divergentes entre si, já outros não conseguiram alcança-las. Trata-se de um dos temas mais controvertidos da história da filosofia. Mas pode-se dizer que esse tema guarda consigo um núcleo duro, uma área comum pela qual grande parte dos filósofos concordam.

Essa parte em comum é a reflexão sobre as ações, os costumes e as tradições de um determinado povo, ou mesmo de um indivíduo. Pode-se dizer que a ética é a reflexão sobre nossas ações, nossas atitudes e mesmo nossos valores. Mas não basta apenas refletir sobre eles, é preciso contestá-los. A partir dessa contestação pode-se construir uma nova moral, ou seja, novas práticas, costumes e tradições mais abertos, democráticos e plurais.

A ética, portanto, não é mera metafísica – pensamento pelo pensamento – mas uma reflexão sobre o mundo da vida. Ela nos auxilia, como forma de pensamento, a compreender o mundo pelo qual estamos inseridos, e a redesenhá-lo à maneira que desejarmos. Para isso, a ética necessita de um elemento essencial, qual seja a liberdade, autonomia, para pensar e também mudar suas atitudes. Desse modo, podemos nos transformar em sujeitos éticos, pensantes sobre nossas ações e atitudes, como método para tornar-nos pessoas melhores.

Por uma ética prática

Dessa forma, tornar-se um sujeito ético não é uma tarefa fácil. Ela necessita que o indivíduo tome consciência da sua situação em sociedade e de suas atitudes, que parecem ser naturalizadas, mas que são construções histórico-culturais. Além disso, não pode tentar substituir a ética pela estética – característica peculiar de nosso tempo – sob pena de cair em grandes falácias.

Assim, pensar na ética “do” ou “no” outro exige primeiramente uma autorreflexão sobre suas próprias atitudes. Além disso, exige um cuidado preciso em não transformar seu discurso em simples moralismo, ou seja, na imposição de um determinado clichê ou padrão daquilo que é certo e/ou errado.

O que ocorre é que vivemos uma profunda crise de ética, de modo geral a sociedade não pensa sobre suas ações, valores e discursos que reproduzem. Não sabem ter liberdade para fazê-lo. Ao não saber, canalizam essa crise na figura de certas pessoas, como os “políticos”. Não quero aqui defender os representantes políticos de qualquer esfera, pois também acredito que a crise de ética os afeta. Contudo, canalizar essa crise única e somente na figura dos representantes políticos é um erro em tanto, uma irracionalidade.

Essa profunda crise nos mostra de modo muito claro como a falta de uma educação libertária e voltada para a ética e a alteridade nos afeta e nos faz falta. Mostra também que para a construção de uma sociedade mais justa e solidária necessita de uma reflexão sobre nossas ações e valores, diga-se, mais ética.

Thiago Burckhart é estudante de Direito.

Imagem: http://cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/53354.html

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