Por Douglas Kovaleski, para Desacato.info.
O modelo neoliberal vem impondo por meio de uma pauta econômica, e de pretensa dinamização da economia, brutais cortes nas áreas sociais com ênfase na área da saúde. Aspecto que venho discutindo exaustivamente nesta coluna. Os cortes nas áreas sociais colocam em risco a vida de milhares de pessoas que, vivendo em uma sociedade extremamente injusta e concentradora de recursos e poder, não conseguem prover sua existência em condições dignas.
O modelo neoliberal vem sendo imposto pelo governo Bolsonaro de maneira rigorosa no Brasil. Fato que já vem trazendo consequências para a população brasileira, com uma recessão econômica que se aprofunda e com a vulnerabilização decorrente de grupos cada vez mais numerosos da sociedade. Soma-se à política de austeridade fiscal e a profunda estagnação econômica e crise cíclica do capitalismo que, no governo Lula, foi amenizada por medidas anticíclicas. Ou seja, medidas que promovem investimentos sociais que aquecem a economia e melhoram as condições de vida da população pauperizada.
Não sugiro aqui que estas medidas sejam a tábua de salvação da sociedade no contexto capitalista, mas são ferramentas de sobrevida da classe trabalhadora e dispositivos que podem auxiliar no estímulo aos movimentos sociais e à organização da classe trabalhadora. Como exemplo ilustrativo, cito o grande aumento na venda de geladeiras e ventiladores promovidas pelo programa bolsa família na era Lula. E esse estímulo ao consumo foi importantíssimo para o desenvolvimento da economia.
O discurso de que um Estado “menor e mais enxuto”, portanto mais eficiente, seria a salvação da sociedade e estimularia a concorrência, e que todas as medidas relacionadas à austeridade fiscal estariam aí justificadas. Dados atuais demonstram que o neoliberalismo não se trata de compor um Estado menor, mas um Estado voltado para o capital, para benefício dos ricos ou da burguesia. O governo Bolsonaro diz que a reforma da previdência deve gerar uma economia de 128 bilhões em dez anos, entretanto isenções fiscais às grandes agroexportadoras mantidas pelo atual governo, diminuem a arrecadação em 86 bilhões no mesmo período. Ou seja, o Estado ao invés de fazer políticas que reduzam as desigualdades sociais faz exatamente o oposto, corta gastos sociais para possibilitar mais acumulação pela burguesia.
Com essa direção política, a previsão é óbvia: mais desemprego, mais miséria, mais fome, mais violência e implanta-se o caos social. Mas a esperança vem do sul porque na Argentina, a experiência do governo Macri já deixou bastante claro para a população, para onde o neoliberalismo leva uma economia capitalista, latino-americana, periférica e obediente ao império norte-americano: o caos social. A notícia de ontem, entretanto, traz uma vitória avassaladora do peronismo nas prévias da eleição presidencial Argentina. Macri sofreu uma derrota suntuosa.
Vejamos, ao se confirmarem essas prévias, o peronismo volta ao poder na Argentina e, sabidamente, o investimento nas áreas sociais volta a ter um prioridade. As políticas sociais voltam a ter prioridade, as pessoas melhoram sua qualidade de vida e como consequência dessa injeção de recursos públicos na economia, ela se aquece novamente e a Argentina relembra ao povo brasileiro, de como a esquerda no poder pode melhorar a vida das pessoas.
Se a lógica se realizar na Argentina e a esquerda brasileira souber utilizar essas informações por aqui, quem sabe derrubamos Bolsonaro e o neoliberalismo no Brasil nas próximas eleições.
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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