Por Elissandro Santana, para Desacato. info.
Neste exato momento em que ensaio esta reflexão, em cada rincão deste país, seja nas metrópoles ou em pequenas cidades, vilas e, até mesmo, em meio ao nada das ausências operadas pelo Estado no ir e vir dos sertões, nas veredas da existência, milhões de brasileiros/as, mesmo diante do mal-estar na política e na economia desde o golpe político-jurídico-econômico-midiático motivado pelos interesses mais tacanhos da elite colonial de capitalismo dependente, tentam sonhar, mas a esperança se contorce.
Ela, a esperança, a última que morre, agoniza em cada vivência, experiência sensível-precária e na falta de perspectivas de coraçõezinhos que, desde que nascem, batem forte por esta nação que escraviza até mesmo os sonhos e faz com que muitos pereçam no caminho.
Em meio a tudo isso, queremos depositar esperança no futuro e acreditar que as eleições de 2018, dependendo de quem seja eleito/a, viabilizará o projeto de Brasil como ainda sendo um país do e de futuro. Mas, infelizmente, quem acredita nisso, precisa conhecer e reconhecer, urgentemente, no mínimo, duas grandes questões – Primeira: que o ideário de democracia se rasgou, pois a mídia empresarial, o Senado, a Câmara dos Deputados e o Judiciário, a serviço dos donos do capital interno dependente dos capitalistas estrangeiros, trabalharam (e sempre trabalharão, a não ser que haja uma revolução, de fato!) em prol da desestabilização da nação e do fortalecimento das forças externas, e, segundo, que, com o golpe, instaurou-se, de forma naturalizada nas discursividades e nas operacionalidades dos quatro poderes supracitados a cultura da destituição de qualquer candidato/a que venha a ser eleito/a para a Presidência.
É oportuno pontuar que o golpe deu início a uma roda de horrores que precisa ser quebrada. Como e de que forma isto ocorrerá, esta é, talvez, a grande questão em torno da qual o Brasil, com rapidez e eficiência, precisa refletir para encontrar respostas sustentáveis livres do romantismo analítico imediatista que paira nas virtualidades e nas territorialidades ilusórias do exercício da cidadania, pois somente a partir da ruptura desse círculo será possível acreditar que quem sair vitorioso/a na batalha ou jogo do trono verde-amarelo seguirá na gestão da nação.
Ademais, no limbo político, ou explicitado de outra maneira, no estado de indecisão, de incerteza e de indefinição no qual estamos estacionados, as forças reacionárias no/do Senado, na/da Câmara dos Deputados, no/do próprio executivo a partir da coalisão com os vampiros da nação de partidos diversos, fator sob o qual se arvorou o PT e todos os demais partidos que chegaram ao poder, historicamente, para a tal governabilidade, base na qual se assenta a política brasileira desde os primeiros momentos de construção da política e da nacionalidade, sempre encontrarão forças para a projeção dos espectros da opressão e entrega do país aos anseios das potências capital-belicistas. Cabe destacar que estas forcinhas reacionárias também estão em nós, construção e projeção de décadas de educação bancária, fruto de práxis educacionais aparelhadas a serviço do Estado e de culturas teístas insustentáveis que nos atravessam em nossos afazeres sociais cotidianos, construtos e imaginários dos quais os políticos, os togados e a mídia empresarial tradicional se valem para nos manter sob a dominação e a manipulação.
Quase a guisa de conclusão, externo que após o golpe pelo qual passou e vive a nação, parte dos mais desonestos e inocentes intelectualmente no que concerne ao “Fora, Dilma!”, ainda que timidamente, reconhecem o buraco/poço sem fundo no qual entramos, mas isto é pouco. Digo parte, pois a maioria ainda segue alienada sob a ótica da ilusão de que a destituição da primeira mulher do mais alto cargo do país, ainda que ilegal, mesmo com nuances de legalidade e, portanto, de constitucionalidade, foi a melhor saída para o país.
Sinto muito em desapontá-lo/a, mas você que está aí todo/a crente de que se um candidato de esquerda vencer o jogo do trono, ou, dito de outro modo, conquistar o cargo presidencial, o Brasil entrará nos eixos, está equivocadíssimo/a. A não ser que, concomitantemente, sejam escolhidos/as candidatos/as progressistas, revolucionários, para as cadeiras no Senado e na Câmara dos Deputados, que o judiciário seja todo renovado para que, desta forma, tenhamos posicionamentos jurídicos não personalistas e mais éticos constitucionalmente e, mais importante que tudo, que a mídia seja regulamentada para a democratização da informação, mas o quadro atual, infelizmente, nos prova que isso é quase impossível de acontecer sem uma mudança na arquitetura mental societária brasileira que, ao longo da história, esteve subjugada aos mandos e desmandos dos poderosos branco-racista-religioso-homofóbico-machista-patriarcais deste país que, desafortunadamente, em pleno século XXI, ainda possui fortes traços coloniais ao estilo séculos XVI, XVII e XVIII.
Diante do exposto, faço questão de mencionar o seguinte: ou compreendemos que a revolução não se dará por eleição e que outro país só nascerá se entendermos profundamente as forças do atraso e como elas se constituem, para combatê-las, ou pereceremos sem escape.
Por fim, Eu, como muitos, queria acreditar no poder das eleições do ano em curso, mas, reitero, o golpe matou qualquer esperança no futuro. Por enquanto, o pleito de outubro não representa, para mim, semiótica ou presciência para a mudança e bem da nação. A eleição, na conjuntura brasileira, é apenas mais uma ilusão para que, assim, sigamos todos alienados acreditando ser viável, por meio dela, a transformação da grande pátria pelas urnas. O que está para acontecer em outubro é nada mais, nada menos, que o Estado nos alienando ao limite, brincando com nossa memória e nos violentando, mostrando-nos que a eleição é a nossa arma para mudar o Brasil, para o nascer do país que queremos para o futuro, discurso deveras alinhado com a carga ideológica partidária de panfletagem informativa política de certa emissora, que não direi o nome para não dar ibope, ao serviço das oligarquias do poder, por meio de uma espécie de lavagem documental-gráfico-imagético-discursiva em todos os seus telejornais, através de um quadro de vídeos de eleitores/as que chegam do Contamana, à Ponta do Seixas, do Caburai ao Chuí, em uma espécie de osmose midiático-politiqueira, fazendo com que a sociedade, historicamente idiotizada, sem pestanejar, vislumbre a revolução numa eleição, mesmo que o nosso voto seja rasgado depois em golpes com o judiciário e com tudo, nos grandes acordos nacionais orquestrados pela elite político-empresarial-colonial.
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Elissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes e do Evolução Centro Educacional, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.
Não se pode confiar o “gerenciamento” de uma nação à reis, políticos,igrejas, generais e executivos.
Devemos buscar satisfação pelo bem de todos, por uma sociedade sadia, inteligente, alegre e educada tirando nossas vendas e começar a enxergar que vivemos em uma sociedade de escravos, obtendo ganhos de escravos. Isto não é e nunca será uma sociedade sadia e sinto muito, essa conquista não virá através de urnas.