Por Juan Carlos Caffoll Quesada.
Com o dinheiro de quem? Se o assustador é que Donald Trump venceu como resultado da crise económica, de uma sociedade ao contrário, num estado de anomia social: deprimida, em que os valores, a coesão, estão em declínio. Votar em Trump foi um ato desesperado. No pesadelo americano, a força de trabalho já não é suficiente para manter tanta preguiça, já não é suficiente, nem mesmo com o fentanil.
O dólar continuou como moeda de reserva mundial, mas para a clientela dos supermercados Made in China, para quem se alimenta de cupons, para quem mora embaixo da rodovia, nos esgotos, os dólares não são impressos ao mesmo tempo. E, no entanto, enquanto enriquecem, continuam a perseguir aqueles que trabalham, os migrantes, tudo o que tenha cheiro de étnico, liberal, progressista. Eles têm o poder e o desejo, só as ambições são maiores, então primeiro, primeiro, a vingança, o Trumpismo recarregado contra os rivais financeiros e políticos vai em frente, no fundo a perseguição contra os grupos acordados, o espetáculo. Então, de onde eles planejam obter essas riquezas?
O extrativismo da riqueza de outras nações, a ultradireita servil e voluntariosa são, na verdade, a carta na manga. Mas quantas dessas pessoas no Sul global estão dispostas a abdicar da sua água, das suas terras, da sua biodiversidade, dos seus minerais e hidrocarbonetos? Quantas pessoas ainda estão disponíveis no mercado de trabalho sobrecarregado?
Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, um sentido de humor cruel ou falta de empatia, considera que a dívida pública dos Estados Unidos “exige apenas a redução do déficit federal em cerca de 600.000 mil milhões de dólares por ano”. Para parâmetros, o porta-aviões USS Gerald Ford custou US$ 37,3 bilhões para ser projetado e US$ 13 bilhões para ser construído.
Em espanhol lemos esses números como trinta e sete mil milhões, e não como trinta e sete mil milhões. A percepção muda se considerarmos que o governo dos Estados Unidos destinou 11.190 dólares per capita em despesas de saúde. Ou seja, se eu dividir trinta e sete bilhões pelos onze mil cento e noventa que são destinados à saúde, obterei um número tão imoral que chega a ser incrível. Então, por que não tirar essa riqueza dos gastos em porta-aviões?
Os equilíbrios de poder no gabinete de guerra Trumpiano, com Netanyahu respirando no seu pescoço, com o dedo no gatilho, falando nos ouvidos esquerdo e direito, como as pequenas vozes do anjo bom e do anjo mau, o poder do lobby que possui poder. E, se isso não bastasse, a par das expectativas do próprio Trump, no trono ao lado dele está Elon Musk, o dono do rato, da inteligência artificial, dos fios e das marionetas, que o lembram de Trump, e ao mundo, que pode bloqueá-los com um clique, ou melhor ainda, que é a mão que pode imprimir ouro, moeda digital, do nada, binária ou não binária. Vamos!
A chave desta comédia é que na China eles devoram pedaços enquanto dormem. Até Musk tem de pagar com mais do que apenas espelhos.
Daí aquela longa viragem dos Estados Unidos em direção à Ásia, onde se encontra a maior riqueza do mundo, tanto em população, como em comércio, em dinheiro fiduciário, em dívidas… Essa viragem distanciou os Estados Unidos da América Latina e dos seus direitos servis, em termos do investimento social, sim, o extrativismo é dado como certo, continua com voracidade e a mesma ganância.
O chamado Pivô para a Ásia remonta aos dois mandatos de Obama, ao governo anterior de Donald Trump, e ao presidente Biden, e nesta reedição, a América Latina retorna no papel de filler, retorna como o quintal esquecido, a América Latina, novamente, como o mundo fantástico de The Backyardigans. Universo caricatural em que os personagens zoomórficos, um pinguim, um hipopótamo, uma espécie de inseto intergaláctico roxo chamado Uniqua e outros seres, devem criar a sua própria história, a partir da sua imaginação, sem os limites impostos pelo pequeno pátio traseiro.
Essa longa indefinição na América Latina, a viragem contra a periferia do império, poderia ser, irónico, inexorável, o impulso inesperado, mas definitivo, que atira a América Latina para a almofada Yuan, sem metáforas, do capitalismo comunista da China.
Na América Latina precisamos de soberania, e de uma dose dessa sorte, como o velho gêiser de Yellowstone virando uma torrente de merda e inundando a Casa Branca, a Trump Tower, o campo de golfe de Mar-a-Lago e esqueça a gente, vamos ver o que acontece passamos sem tanta liberdade e democracia ao estilo gringo.
O melhor, antes da inauguração, é que se desencadeie um inferno shakespeariano na corte do tio rico Donald McTrump, ou melhor ainda, um circo à Chespirito (N.T. personagem do ator mexicando Roberto Gómez Bolaños): como, por exemplo, aquele Marco Rubio, o falcão peregrino, necrófago, conspirador, cabelos na sopa na pós festa dos hiper milionários, secretário de Estado do fim da diplomacia, invejoso do poder, confronto com o Capitão América, secretário de Defesa, Pete Hegseth, veterano das narrativas da Fox News, ex confessor de Gitmo ( centro de tortura ilegal em Guantánamo), de outras guerras misóginas como seu chefe, e que apesar das tatuagens, testemunhos de alguma síndrome de estresse pós-traumático que o acompanha, ele é uma das mentes responsáveis ??pelo botão.
Então, quais serão essas políticas da administração Trump? O que podemos esperar? Por exemplo: Robert Kennedy Jr., responsável por ‘Make America Healthy Again’, foi obrigado a posar, no avião de Trump, com uma combinação do McDonald’s e um daqueles refrigerantes pretos, mais úteis como detergente do que como alimento humano. Se for essa a foto, já podemos imaginar os detalhes.
Juan Carlos Caffoll Quesada é um escritor hondurenho e ativista político.