Por Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa.
Presidentes que governaram e governam democraticamente em situações políticas e econômicas piores que Dilma seguem incólumes sem nenhuma sombra de protestos pró-impeachment. Claro que cada país tem suas particularidades institucionais, mas a lição que se tira disso tudo é que Dilma Rousseff não consegue mais se comunicar. Nem com sua base de apoio no Congresso Nacional e menos ainda com seus eleitores.
Foi o “muso” dos conservadores, Olavo de Carvalho, quem introduziu indiretamente na roda de discussão um conceito que volta e meia é debatido na comunicação, a teoria da espiral do silêncio. Em seu perfil no microblog Twitter, ele disse: “Mostrem força e a mídia ficará do seu lado, por mero cagaço que seja. Jornalista é puta: adere sempre ao mais fortão”. Pulando o machismo perceptível no raciocínio simplista, a ideia é a mesma embutida na teoria da espiral do silêncio, cujo conceito surgiu na década de 1970 por meio de trabalhos da alemã Noelle-Neuman: aqueles que detêm as opiniões maioritárias tendem, mesmo que indiretamente, a silenciar os detentores de opiniões minoritárias, que com o receio de represálias acabam por não expor o seu pensamento.
Se, naturalmente, a opinião pública influencia a opinião individual, já passou então da hora de Dilma Rousseff e sua equipe de comunicação tratarem de tentar inverter o sentido do vento o mais urgente possível. O destino para onde o vento sopra hoje leva à instabilidade política e econômica, cujo desfecho é incerto, mas já amedronta.
Eleita pela maioria dos brasileiros, Dilma não se comporta como vencedora nem como maioria. A resignada solidão e o isolamento político refletem-se numa percepção pública de que a presidente está fraca. Tentando a autopreservação, até os petistas atacam a própria carne, como se Dilma sangrando não contaminasse todas as possibilidades de manutenção da sigla no poder em 2018, com a perspectiva cada vez mais frágil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se candidatar novamente ao Palácio do Planalto. E, não custa lembrar, ao ver o menor sinal de sangue, os tubarões fazem a festa.
Para que tanto ódio?
Defender a volta de uma ditadura militar só porque o governo no poder não é o que mais lhe agrada é ser mimado, e não maduro. O asfixiamento que Dilma vive – sem fôlego para começar um mandato, impregnada na lama de membros do PT e de outras siglas – não deixa de ser uma retirada do ar da população em geral. Com o discurso de uma tecla só (leia-se “Lava Jato + Petrobras + corrupção”) o país vive uma cortina de fumaça sobre o tema mais importante do momento: a possibilidade concreta de retirar do papel a reforma política.
Tirar o foco de uma mudança estrutural do sistema político brasileiro para debater a volta do regime militar e novas formas de chamar os petistas de “petralhas” só ajuda os políticos que há anos se aproveitam do patrimônio público. E quando se fala em anos, o recorte pode até ser estendido aos séculos que alcançam a formação institucional do país, há mais 500 anos.
Formado em sua essência como uma estrutura disponível exclusivamente para ter seus recursos roubados para o proveito da metrópole e não usufruídos pela população, o Brasil tem no sangue um sistema político falho. E não são quatro anos de qualquer gestão que irão resolver o problema.
O discurso do ódio, reverberado pela mídia, não é capaz de gerar nada além de um humor social ainda mais feroz, retroalimentando uma lógica que atende mais à insensatez do que ao avanço do debate público. Ao invés de discutir soluções dentro da democracia, estamos sendo neutralizados pelo radicalismo. Ao invés de ação e movimento, o brasileiro continua agindo como um fantoche que segue o trem – mesmo que esse trem dê voltas sobre si mesmo.
Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa é jornalista