Por Catiúscia Custódio de Souza.
Hoje se inicia mais um ano letivo no Estado de Santa Catarina. As questões que envolvem a educação básica continuam a trazer mal estar e insegurança para as comunidades que necessitam utilizar a rede pública de ensino. As estruturas das escolas estão cada vez piores, os salários dos professores são desanimadores, o material didático é escasso e de baixa qualidade, o serviço de alimentação e limpeza das escolas são precários. Em fim, uma situação que já perdura há décadas. No entanto, nada ou pouco foi feito para mudar essa realidade. Nos últimos dois anos de 2011 e 2012 os professores da rede Estadual catarinense empreenderam greves exigindo plano de carreira e o piso salarial anunciado pela federação. Porém, as greves reivindicavam também a melhoria das estruturas escolares, o fim da terceirização da merenda escolar, o destino correto do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) disponibilizado pela União aos Estados. Neste ponto, é importante colocar que o recurso estava sendo utilizado pelo estado catarinense de forma incorreta, ou seja, o recurso ao invés de chegar às escolas e promover a valorização dos profissionais da educação estava sendo usado para pagar outras contas do governo do Estado.
Durante o período de greves não faltaram ações de repressão por parte do estado contra os professores, com a utilização mesma do BOPE e com a ajuda da imprensa sensacionalista e conservadora. A imprensa não poupou esforços para marginalizar a categoria dos professores e construir uma opinião pública de massa contra as greves em andamento. Aliado a todos estes problemas, os professores também tiveram que lidar com pais de alunos que não conseguiam enxergar a realidade educacional de seus próprios filhos e só faziam reclamar que seus filhos estavam em casa em vez de estarem na sala de aula. Revolucionários foram aqueles que apoiaram o professores, a sua luta e entenderam as causas que levaram a greve, entendendo que a educação é um problema de todos. Mas o resultado de todo este movimento infelizmente não foi positivo, os professores vencidos pelo cansaço, pelas medidas repressivas do Estado (polícia e corte de salário), pela imprensa manipuladora voltaram às salas de aula com um acordo salarial enfiado goela abaixo e com a tristeza de ter de enfrentar a mesma situação de precariedade em suas escolas. Mas eles continuaram sua luta, seja pelas redes sociais, seja pelas denuncias de corrupção dos políticos catarinenses, eles não desistiram e continuam a lutar todos os dias em sala de aula por uma educação de qualidade que o Estado não quer!
Bom, mas esta contextualização tem um objetivo que é manifestar a minha indignação perante a desfaçatez da emissora de TV que detém o monopólio da comunicação no Estado, que promove a campanha “A Educação Precisa de Respostas”. Mas qual é mesmo a pergunta? No dia de hoje, volta às aulas da rede pública a tal emissora se coloca como justiceira, apontando a precariedade das escolas públicas, a insegurança e a indignação de pais e alunos por não terem condições nenhuma de iniciar o ano letivo. Na sua reportagem mostrou salas de aula com goteiras, bibliotecas que simplesmente não existem, fiação elétrica exposta, lixo nos pátios, falta de limpeza e tantos outros problemas estruturais. Alertou para a falta de professores nas salas de aula e exigiram soluções do poder público! Nossa, que comoção, quase me emocionei!
Agora eu pergunto: durante o período de greve dos professores porque reportagens desse caráter não foram feitas? Porque a impressa simplesmente se preocupou em acusar e marginalizar as greves dos professores ao invés de procurar compreender os reais motivos que levaram a sua eclosão? Essa emissora realmente esta preocupada com a qualidade do ensino público ou apenas aproveita a situação para realizar seu jornalismo sensacionalista e mostrar-se falsamente ao lado da população? Francamente, eu já tenho minhas conclusões, mas a cada um cabe a análise histórica e política destas perguntas. Alguns dirão, antes tarde do que nunca denunciar a situação da educação pública, concordo. Porém, não concordo com denuncias como esta que não contextualizam os processos de luta por uma educação pública de qualidade, pois quando a imprensa faz seus recortes jornalísticos e se coloca como a dona da verdade esta colocando a sociedade a margem das decisões e da construção de políticas públicas que venham a transformar a sociedade. Sinceramente, a educação pede socorro há muito tempo, por isso cabe a todos os pais, alunos, professores, imprensa e governo conscientização, participação, mobilização, organização, mudança, políticas públicas concretas e a luta pela destinação de 10% do PIB para a Educação!
Catiúscia Custódio de Souza é Historiadora e Mestranda em Sociologia Política/UFSC.
Concordo com quase tudo o que autora escreveu, apenas faria um acréscimo ao trecho: “Mas o resultado de todo este movimento infelizmente não foi positivo, os professores vencidos pelo cansaço, pelas medidas repressivas do Estado (polícia e corte de salário), pela imprensa manipuladora voltaram às salas de aula com um acordo salarial enfiado goela abaixo e com a tristeza de ter de enfrentar a mesma situação de precariedade em suas escolas”. Xs professxs foram traídxs pelo “seu” próprio sindicato. Essa camarilha de sindicalistas de rabo preso (profissionais) desmontou a greve pelos interiores do estado, espalhando que a greve tinha acabado quando, na verdade, ainda existia energia suficiente para continuar. Isso fez com que xs professorxs das grandes cidades do estado, de repente, se vissem sem apoio de seus/suas pares e caíssem!!
É preciso criar sindicatos ilegais que não podem ser controlados pelo estado. Precisamos lembrar que no domingo anterior ao fim da greve a cúpula do sindicato dxs professorxs (que não xs representa ou luta com elxs) foi tomar uísque e banquetear com Colombo e tramar o desarme da greve?
É preciso sim mostrar que esse sindicato é tb responsável pelo estado atual dessa educação.