Por José Eustáquio Diniz Alves.*
A consultoria Mackinsey publicou em fevereiro de 2015 um relatório (Debt and, not much, deleveraging, McKinsey Global Institute – MGI) mostrando que as dívidas dos domicílios (famílias), governos, empresas e setor financeiro passou de US$ 87 trilhões no quarto trimestre de 2000 para US$ 142 trilhões no quarto trimestre de 2007 e para US$ 199 trilhões no segundo trimestre de 2014.
Em proporção do PIB a divida total passou de 246% em 2000, para 269% em 2007 e atingiu 286% em 2014.
Isto quer dizer que a economia internacional está sendo sustentada por uma bolha de crédito que vem crescendo de forma exponencial, chegando a praticamente a 200 trilhões de dólares em meados de 2014, ou cerca de 3 vezes o valor do PIB mundial. Evidentemente esta dívida terá que ser paga em algum momento do futuro pelas atuais ou posteriores gerações.
Grande parte desta dívida é controlada pelo sistema financeiro e alimenta o processo de financeirização da economia mundial. Já os setores de criação de riqueza real da economia não estão empregando no ritmo adequado os trabalhadores em relação à população total. A concentração de riqueza no setor financeiro aumenta a desigualdade social e agrava as perspectivas do crescimento econômico, pois grande parte da riqueza é baseada no crédito, sem bases reais na produção.
Porém, promessas de pagamentos futuros, por exemplo, pensões e de seguridade social, se apoiam em recursos que na verdade não existem, enquanto a riqueza que existe é cada vez mais concentrada nas mãos de uma parcela pequena e muito rica da sociedade. O processo de globalização tem potencializado a dívida mundial e a maioria dos países estão perdendo o controle sobre as dívidas nacionais.
O documento da McKinsey analisa 47 países e elabora um ranking baseado no nível de endividamento. O Brasil ficou em 34º lugar do ranking, com uma dívida que representa 128% do PIB, sendo 65% advindo da dívida pública, 25% das dívidas dos domicílios e 38% das dívidas de empresas e setor financeiro. Mas o destaque coube à China que apresentou rapidíssimo grau de endividamento. A dívida da segunda maior economia do mundo quadruplicou, passando de US$ 7 trilhões em 2007 para US$ 28 trilhões em meados de 2014, representando 282% do PIB.
Todavia, os 10 países mais endividados em termos de proporção do PIB são: 1) Japão 400%, 2) Irlanda 390%, 3) Cingapura 382%, 4) Bélgica 327%, 5) Holanda 325%, 6) Grécia 317%, 7) Espanha 313%, 8) Dinamarca 302%, 9) Suécia 290% e 10) Itália 259%.
Alguns economistas, como o prêmio Nobel Paul Krugman, consideram que este endividamento é necessário para tirar a economia internacional da recessão (ou do baixo crescimento desde a crise de 2008/09) e alcançar o nível de pleno emprego. Outros economistas, criticam a ameaça de inflação decorrente das políticas monetárias muito frouxas e expansionistas e o sinal equivocado que projeta no sistema de preços.
O fato é que a dívida mundial crescente não tem sido suficiente para o retorno das altas taxas de crescimento econômico dos tempos pré-crise do Lehman Brothers. Há sinais claros que vivemos uma bolha de crédito que tem provocado excesso de investimentos em algumas áreas, com uma financeirização descontrolada a serviço dos ricos.
O sociólogo Wolfgang Streeck, professor do Instituto Max Planck, acredita que o sistema capitalista democrático do pós-guerra caminha para o seu fim. Para ele o casamento do capitalismo com a democracia está praticamente encerrado e há uma tendência de baixo crescimento, sufocamento da esfera pública, avanço da oligarquia financeira, da corrupção e da anarquia internacional.
A baixa taxa de juros praticadas pelos bancos centrais dos países desenvolvidos e as políticas de afrouxamento monetário para prover o mercado com liquidez, como as chamadas “quantitative easing”, devem causar bolhas financeiras. Esse processo gera também grande especulação nas bolsas de valores, o que pode levar a uma grande queda (crash), como em 1929, 1987 e 2008. Há muitos sinais de uma próxima crise financeira e de um novo colapso da economia internacional.
Referências:
McKinsey Global Institute. Debt and (not much) deleveraging, February 2015
http://www.mckinsey.com/insights/economic_studies/debt_and_not_much_deleveraging
ROSCOE, Mike. What Does $200 Trillion of Debt Really Mean for the Global Economy? Resilience, 05/02/2015 http://www.resilience.org/stories/2015-02-05/what-does-200-trillion-of-debt-really-mean-for-the-global-economy
Paul B. Farrell. Stock-market crash of 2016: The countdown begins, Market Watch, Feb 25, 2015
http://www.marketwatch.com/story/stock-market-crash-of-2016-the-countdown-begins-2015-02-25?dist=beforebell
*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
Fonte: EcoDebate