Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
Os acontecimentos do dia 8 de janeiro, que qualificamos neste espaço como “dia do ódio”, reverberam ainda e assim será por um bom tempo. Além dos fatos concretos, tanto em nível político como jurídico e social, as circunstâncias deixam em aberto muitos assuntos de enorme relevância para o presente e o futuro do Brasil. A necessidade de reflexão sobre as ações práticas, que se revela necessária, para entender e ajudar a combater situações semelhantes, e a urgência de manter um estado de alerta e discussão sobre o acontecido, nos inclui a todas e todos. Jornalistas, comunicadores sociais, juristas, políticos, universidades, intelectuais e, sobretudo, o povo brasileiro no seu conjunto, precisam se debruçar sobre os motivos, os antecedentes, os fatos em si e tudo o que envolve a tentativa golpista daquele domingo.
Tendo essa compreensão o Portal Desacato organizou um debate mediado pela jornalista Rosângela Bion de Assis. Os motes foram os que aqui usamos de título:A democracia venceu? Superamos o golpismo? Desse debate resgatamos algumas frases relevantes para reflexão de todos e todas. A seguir um brevíssimo extrato do que falaram Flávio Carvalho, Elenira Vilela, Evânia Reich, Sérgio Cardoso e Ingrid Sateré Mawé. A advogada constitucionalista, Caren Machado, também participou mas problemas técnicos impediram ela de continuar no debate.
Parlamento Europeu voltará resolução contra Bolsonaro no dia 19
Para o sociólogo e escritor Flávio Carvalho a tentativa de golpe “serviu para que nós, enquanto esquerda, tenhamos um aprendizado que nos sirva para saber antecipar-nos às ameaças fascistas. Aumentou a noção de unidade (entre os defensores da democracia). Aqui em Barcelona (onde reside Carvalho), sempre os brasileiros e brasileiras fazemos grandes atos, porém, nunca aconteceu um ato tão grande como este na defesa da democracia. Também, no Parlamento Europeu, nesta quinta-feira, dia 19 de janeiro, será votada uma resolução histórica contra Bolsonaro. Aqui na Europa temos claro que se trata de um ataque neonazista.”
A gente está numa guerra
A dirigente sindical, professora e comunicadora social, Elenira Vilela, fez uma alerta sobre a situação que vive o Brasil: “A gente saiu da parte mais aguda do golpe, mas, não quer dizer que nos livramos disso. Estou em Brasília a trabalho e sinto no ar um misto de apreensão mas também de muita firmeza. Ganhar as eleições era ganhar uma batalha muito importante. Ganhar a posse do Lula, ou seja, que ela acontecesse, também foi uma vitória, mas ainda não se ganhou a guerra, e isto é uma guerra. A gente está numa guerra contra o neocolonialismo, contra o neonazismo, a misoginia, o racismo, que essas ideologias representam.”
Destruíram símbolos culturais e tinham essa pretensão
Segundo a filósofa, socióloga e advogada, Evânia Reich, a destruição das obras de arte em Brasília “foi um ataque planejado contra os símbolos culturais do país. O governo Bolsonaro já vinha fazendo isso com a nossa cultura durante seu mandato. Essa imagem foi muito forte, muito mais do que cadeiras, mesas, portas, que podem ser substituídas. Mas, as obras de arte não.” Ao mesmo tempo, Evânia, referindo-se aos agressores e seus mandantes, diz que o momento foi positivo num sentido: “Prefiro as baratas à vista e não escondidas sob o chão do meu banheiro, e a gente viu de frente quem são.”
Lula conseguirá controlar as forças militares?
O publicitário e eco trabalhista, Sérgio Cardoso, afirma que ainda não conseguiu superar o pavor com relação a se o presidente Lula conseguirá controlar as forças armadas. Mas entende que “a articulação entre Lula e Alexandre de Moraes é muito importante para concretizar as punições necessárias”. Cardoso entende que “é momento de ter calma no campo da esquerda, dar tempo para a recuperação de todo o que está destruído no país que vai além da violência vista em Brasília”. Conclui que “é necessário entender de onde se saiu e avalio como exageradas algumas críticas da esquerda quanto às alianças e as tarefas de reconstrução de um país devastado”.
A atitude do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, é repudiável
Para a professora e comunicadora social, Ingrid Sateré Mawé “que além de apoiar os atos golpistas enviou advogados que trabalham no seu governo, que deveriam trabalhar para nós (o povo), para defender golpistas, terroristas de Santa Catarina presos em Brasília. Além disso, Jorginho Mello tentou, através da polícia, que as pessoas que foram para a rua na segunda-feira, dia 9 de janeiro, para se expressar contra a tentativa de golpe e pedindo para que não sejam anistiados os participantes, não pudessem cumprir com seu roteiro previsto.” Ingrid salientou que “é importante lembrar que as instituições brasileiras não é de hoje que estão corrompidas.”
O Portal Desacato continuará estimulando esse debate. Quanto ao realizado na sexta-feira, dia 13, através do Canal Youtube do veículo, você pode assistir as falas completas dos debatedores na Edição Especial que teve a produção de Sofia Andrade, clicando no link que está no vídeo abaixo.
A reflexão está instalada na sociedade brasileira, nas suas instituições, na mídia, nos setores intelectuais, no povo em geral, em cada setor da sociedade. Como será o Brasil em 2023 e qual será a chave para garantir as legítimas reivindicações dos espaços sócias mais vulneráveis deste país continental, dependerá de alicerçar estas reflexões em toda a extensão do território nacional.
Raul Fitipaldi é jornalista, cofundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul.