Por Edinaldo Enoque, para Desacato. info.
Muito se tem falado sobre a Reforma do Ensino Médio, muito se tem escrito sobre a mesma. Eu sou da vertente contrária a isso que se costumou chamar de Reforma, que na verdade não passa de uma deforma. O Brasil passa por uma crise histórica de pensamento. A crise pela qual o Brasil passa é muito maior do que a econômica, política, tributária ou previdenciária. O País passa por uma crise generalizada de idiotização e anomia.
O diagnóstico é complexo, mas a base de análise está na falta de competência de estruturação do pensamento. Temos certa dificuldade em compreender as mudanças paradigmáticas pela qual o Brasil tem passado em complexidade, não conseguimos ter a capacidade de pensar em abstração e vislumbrar o futuro, nosso pensamento é presentista.
Agimos politicamente como o homem pré-histórico agia para sobreviver; pautado somente no hoje.
Estamos acuados perante os fatos. Pensar é um exercício inerente ao ser humano, mas a reflexão é uma construção de abstração filosófica. A reflexão é produto das interações dos seres humanos em sociedade, uma relação dialética, dialógica e complexa. Tirar isso do ser humano é reduzi-lo ao animal. Ao longo da história, a educação brasileira não se preocupou com a reflexão, é histórica a preocupação do nosso país com a reprodução. Se Kant estiver certo, o esclarecimento é a capacidade de nos tornarmos maior, e ser maior é a capacidade de sermos autônomos.
Menor, é aquele que depende dos outros para tomar as decisões (heteronomia), que é o contrário da autonomia.
A Deforma do Ensino Médio é claramente voltada para a heteronomia, é uma afronta ao exercício da reflexão, mais um ingrediente no processo de idiotização do brasileiro. Filosofia, Sociologia, Artes, Educação Física para quê? Porque deveríamos pensar abstratamente, eticamente e esteticamente? As camadas populares, não precisam se preocupar com Aristóteles, com Kant ou Monet, basta prepara-los para o trabalho? E o pensamento crítico, político e social? Será de responsabilidade de uma Intelligentsia elitizada?
Não me assustará se tivermos que pensar a educação no Brasil em termos de luta de classes. Porque é claramente nesse sentido que a Reforma do Ensino Médio está encaminhando. Determinado grupo detentor do saber cientifico e outro preso aos chãos das fábricas. Para um governo claramente neoliberal, esse tipo de ação mostra a estreiteza do nosso pensamento a longo prazo. Logo, ao contrário de se retirar a obrigatoriedade, deve-se injetar doses cavalares de humanidades na educação, para que equívocos grosseiros como o que estamos prestes a vivenciar não sejam sequer cogitados.