Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info
Hoje, no JTT, o Portal Desacato lembrou e homenageou nosso companheiro desaparecido no mar, Marco Vasques. Poeta, dramaturgo, estudioso da cultura, Marco também lutava pela organização da classe artística e cultural.
É disso que não gosta o poder real; da independência, da liberdade, da transcendência da cultura. É que a cultura, através das suas diversas expressões, quando surge dos produtores populares, gera um profundo desconforto no poder real.
Poder real que não está representado nos governos democráticos, porque não é fruto da democracia. Que funciona nas sombras, que poucos criticam e quase ninguém consegue visibilizar. O poder real está instalado nas grandes famílias da oligarquia nacional e colonialista, nas transnacionais sem pátria, no mercado e no sistema financeiro.
Para esse poder a cultura que importa é a que construiu na base do genocídio, a invasão, a pirataria, a mentira e a consolidação dos privilégios. A cultura da violência, da exclusão e da morte.
De tal maneira que unificar a cultura popular, reconhecer a identidade de país, recuperar a história, trazer ao cotidiano a arte, sociologia, a antropologia, a filosofia, e o infinito acervo civilizatório que repousa no que chamamos de humanidade, é antípoda dos objetivos do poder real.
Quando a democracia cede a construção da identidade nacional à cultura do poder real, a notícia, a obra teatral, o livro, a música, se tornam objetos de consumo. Se aliena da cultura seu caráter reflexivo, formador, propiciador de uma sociedade crítica, capaz de ser melhor com base na sua construção através dos séculos e no seu território de existência e desenvolvimento.
Enaltecer a obra intelectual e aglutinadora de Marco Vasques, significa reconhecer o valor, a necessidade, a urgência, de discernir entre a cultura que nos impõe o poder real através de sua visão caricaturesca da nossa própria realidade para esconder, dissimular, negar e dominar nossa cultura real que é sempre crítica e formadora de um mundo libertador, de todos e todas, e para todos e todas, não só para os negócios do 1% dos escolhidos para dominar o restante da humanidade.