Por Kiko Nogueira.
Apesar da vontade e dos poderes mágicos de João Doria e de sua nova secretária de Direitos Humanos, a cracolândia não desapareceu tão logo eles anunciaram sua extinção.
Desde pelo menos 2005, quando a prefeitura de São Paulo fechou bares e hoteis naquela região, a situação apenas piorou.
Todo tipo de programa já foi tentado. Um deles, em 2015, retirou barracos e “favelinhas”.
A ideia era a PM e a Guarda Civil Metropolitana “asfixiarem” o comércio de drogas, rastreando e prendendo os fornecedores.
À época, a diretora do Denarc, Elaine Biasoli, falou dos esforços na área: “Nós temos ação diária, costumeira, rotineira. Desde dezembro, prendemos 65 traficantes só na cracolândia”. Em 2007, foram 270.
Na operação fracassada de Doria, 38 suspeitos foram presos. Também se apreenderam três fuzis, uma submetralhadora, uma pistola calibre 38, entre outras armas, além de vários tijolos de crack.
O resultado, como se sabe, foi a abertura de franquias da cracolândia por todo o centro e o fim da imagem de competência empresarial do “gestor”, um tipo que Napoleão chamava de ignorante com iniciativa.
O grande feito foi a detenção de um traficante denominado “FB”, segundo a polícia “um dos criminosos mais procurados no Estado de São Paulo”.
A cracolândia movimenta um sistema corrupto do qual a polícia faz parte. Em 2014, dois policiais civis foram acusados traficar. Que fim levaram? Ninguém sabe, ninguém viu.
Além do tiro marqueteiro no pé, Doria quer que o eleitor engula sua nova fantasia de campeão da guerra contra as drogas, que não deu certo em lugar algum do mundo.
Considere o caso do Helicoca.
O helicóptero do então deputado Gustavo Perrella, filho do senador Zezé, foi flagrado com meia tonelada de pasta base de cocaína no Espírito Santo. A PF avaliou a carga em 10 milhões de reais. Refinada, valia pelo menos cinco vezes isso.
Ninguém foi preso. Em semanas, o delegado responsável inocentou os Perrellas. Os homens envolvidos diretamente no flagrante estão soltos, do piloto ao motorista que foi pegar o entorpecente.
Uma escala da aeronave num hotel fazenda no interior de São Paulo, onde ficaram 50 quilos, foi ignorada. O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa deu um parecer: “Há realmente diversos aspectos que dependem de investigação, como a origem da droga apreendida, a dúvida sobre a internacionalidade, o papel dos envolvidos e a possível participação de terceiros”.
Não puniram vivalma no episódio do Helicoca, Zezé ainda se queixa do assunto com o “chefe” Aécio, mas “FB” está em cana.
Enquanto a aposta for na estupidez alheia, muito dinheiro e bala continuarão sendo gastos pelos “gestores” para entorpecer os trouxas.
Fonte: DCM