Por Eduardo Perondi.
Mais uma assembleia, a segunda em um mês e a terceira significativa. Dessa vez, mais de 300 pessoas. Em pauta, novamente as condições para o início do ano letivo na EEM João Gonçalves Pinheiro, calendário escolar, intervenção na escola.
Em fevereiro, a comunidade indignada decidiu não começar as aulas na escola velha, que apresenta problemas estruturais graves e não oferece vagas suficientes para todos os jovens da comunidade – pelo menos 70 adolescentes de 13-15 anos estão matriculados no período noturno (o que é proibido pelo Estatuto da Criança e Adolescente). Alguns ainda aguardam vaga na lista de espera.
O obra da nova escola está 4 anos atrasada. No mês passado, o Secretário da Educação Eduardo Deschamps e o Secretário de Desenvolvimento Regional Clonny Capistrano prometeram a entrega para o dia 20 de Março. Mais uma vez não cumpriram o prazo. O edifício está praticamente concluído, já em melhores condições que o antigo.
Por respeitarem a decisão de pais e alunos, professores têm sido ameaçados de demissão. A direção foi exonerada. Para o seu lugar, a SED enviou dois INTERVENTORES para administrar a escola. Estes têm promovido assédio moral contra os educadores. Ameaçam dar falta para quem não der aulas, proíbem a utilização da secretaria, telefone e equipamentos da escola, estão ligando para a casa dos alunos dizendo que as aulas já começaram, não queriam nem emprestar as cadeiras da escola para a realização da assembleia, dificultando o acesso dos funcionários aos materiais disponíveis para a realizações das práticas pedagógicas.
Após a discussão, a Assembleia deliberou:
1 – pela saída imediata dos interventores;
2 – elegeu uma direção temporária para a escola, composta por professores que atuam há anos nesta unidade e comprometidos em respeitar a decisão comunitária;
3 – decidiu pelo início das aulas na nova escola no dia 1º de Abril;
4 – formou o Conselho Deliberativo da unidade, composto por trabalhadores da escola, pais e alunos.
O governo tem a obrigação de garantir vagas para todos na escola pública. E não pode ser na base do improviso. Os filhos de trabalhadores têm garantia constitucional da qualidade de ensino. Qualidade esta, que não se resume só a questões estruturais, mas, também, a garantia de uma educação fundamentada nos princípios da liberdade, da igualdade e da democracia, estes, caros, para a manutenção de nossa república.
A Comunidade Escolar da EEM João Gonçalves Pinheiro, através de suas virtudes, demonstra como a Escola Pública pode transformar a sociedade de forma significativa. Este exemplo de compartilhamento de poder deve ser incentivado como forma de mobilização da sociedade civil organizada. Ora, o que mais preocupa as aristocracias que se perpetuam no poder desde a época do descobrimento do Brasil são os atos de resistência oriundos das classes periféricas, excluídas e exploradas.
O Movimento extrapolou as barreiras geográficas do Sul da Ilha, não é mais só por um prédio novo, e sim por uma nova forma de pensar a educação pública no Brasil.
Ante o exposto, convocamos todos aqueles que acreditam que a educação é a única forma de libertar o ser humano, a juntar-se a nossa comunidade para multiplicar estas ações de desobediência civil legítima, frente às práticas autoritárias que ainda existem em nossa pseudo-democracia.
FORA INTERVENTORES!
FORA PRÁTICAS FACISTAS E ANTIDEMOCRÁTICAS!