A embarcação “Fé em Deus” soltava suas amarras precisamente às 23 horas no porto da cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá. Segundo o capitão, a viagem seria de 5 horas. São 100 km até a pequena cidade de Afuá, encravada em uma das bordas a oeste da imensa ilha de Marajó. O barco se deslocava suavemente pelo delta do rio Amazonas, com muitos passageiros e o tecnobrega bombando no convés.
Afuá parece uma cidade cenográfica: as ruas, casas e pontes de madeira pitam como um filme parado no tempo. Palafitas são suspensas em estruturas para manter a vida acima da várzea. O local é eternamente alagado pelas águas dos rios.
O município ocupa uma área de 8.373 km² e, por lei, veículos motorizados são proibidos de trafegar. Sendo assim, o meio de transporte que transborda pelas vias de acesso é a bicicleta e outras invencionices. “Nossa cidade é um laboratório em plena selva, não existe poluição veicular, somos uma cidade oxigenada em todos os sentidos, aqui todo mundo circula de bicicleta e triciclos. O lazer, atividade física e trabalho estão intrinsecamente conectados com a pedalada”, declara nosso anfitrião, o Sr. Pisca, Secretário da Cultura.
De acordo com Pisca, a população de Afuá é de 40 mil habitantes e circulam mais de 15 mil bicicletas pelas artérias locais. As ruas e vias de acesso na sua maioria são estreitas. O ciclista de primeira viagem tem que estar atento, pois não existe proteção nas laterais das pistas e numa vacilada você pode raspar com outro bólido e se estatelar no terreno alagado que está a um metro abaixo.
Todas as casas são de madeira e a maioria foi construída em cima de palafitas. O visual verdejante da floresta e o estilo de vida dos locais levam qualquer cidadão a entrar em sintonia com a natureza. Não existem semáforos, guardas e o fluxo das magrelas em determinadas áreas é incessante. A maioria dos pedestres parece ter sensores nas costas, desviam do trânsito com fluidez.
Existe uma grande procura dos moradores para personalizar as bicicletas e bicitáxis. Os versáteis bicitáxis são produzidos com uma junção de duas bicicletas por estrutura de aço. As oficinas locais levam uma média de quatro semanas para produzir a carroceria e todos os outros acessórios como volante, adaptadores de pedais, painel, molas, porta-malas, para-choque, sistemas para CD players e até aparelhos de DVD, que funcionam com baterias automotivas.
Vai pedalar
Afuá é um laboratório dentro da floresta amazônica em que a alternativa sustentável da bicicleta na cidade deu certo. Um conceito único de qualidade de vida e mobilidade urbana.
Na exuberante vegetação que circunda o município, o que predomina é a típica floresta de várzea com muita virola, anani, pracuúba, macacaúba e diversos tipos de palmeiras como o buruti, o babaçu, murumuru e o delicioso açaí. Existem muitas vendinhas de açaí. Em Afuá, o creme da fruta é servido quente (sem mel, granola ou açúcar) e para acompanhar oferecem farinha de tapioca, peixe ou camarão. Em diversas regiões da Amazônia, o açaí é vital na alimentação, o néctar está presente do café da manhã ao jantar.
—
Fonte: Mobilize-se.