A vida de mais de 100 mil estudantes do ensino superior em Santa Catarina pode virar de cabeça para baixo a partir de setembro, caso o governo federal insista em manter os cortes para as universidades públicas e institutos federais. Já houve uma diminuição drástica nos recursos e isso não permite o funcionamento normal das instituições que precisam bancar os gastos com a estrutura e os investimentos em permanência dos estudantes.
Numa reunião dramática e tensa, o reitor da UFSC, Ubaldo Balthazar, informou aos estudantes e trabalhadores que novas medidas de economia são necessárias para manter a universidade funcionando. Dentre elas está a suspensão do Restaurante Universitário para os estudantes, garantindo as refeições apenas para os que são isentos do pagamento, cadastrados como carentes. Isso significa que cerca de 11 mil pessoas não terão mais acesso ao almoço e janta, pelos quais pagam 1,5 reais. Os estudantes terão de buscar os restaurantes do entorno, cujas refeições não saem por menos de 15 reais, se a pessoa comer moderadamente. A decisão caiu como uma bomba entre a entudantada que repudiou a decisão veementemente.
Outra decisão da direção da UFSC foi a de suspender a Sepex, tradicional semana de mostra da extensão e da pesquisa, promovida há 17 anos, que traz estudantes de todo o estado para conhecer o trabalho científico desenvolvido na universidade. Um golpe duro para alunos, professores e técnicos que esperam o ano todo por esse momento de interação com a sociedade catarinense, principalmente com estudantes de primeiro e segundo grau.
A terceira medida é ainda mais dura: o congelamento das bolsas estudantis, coisa que certamente colocará a universidade em polvorosa porque há um contingente muito grande de alunos que necessita da bolsa para poder se manter estudando. Sem ela, a evasão será o único caminho.
Tanto o reitor como o pró-reitor de Planejamento Vladimir Frey apontaram que sem a liberação dos recursos previstos a universidade não tem como fechar o ano. Já houve uma onda de demissão de trabalhadores terceirizados e agora pode haver a recusa dos fornecedores de seguirem mantendo o abastecimento da UFSC, principalmente no que diz respeito ao Restaurante Universitário. E a situação pode ficar ainda mais crítica a partir de outubro, quando a universidade pode até parar de funcionar.
Os estudantes que lotaram as dependências da reunião foram duros nas críticas à reitoria. Eles entendem que o estrangulamento financeiro promovido pelo governo é uma chantagem para que as universidades aceitem aderir ao programa Future-se que, na prática, privatiza a instituição. E, segundo eles, ceder diante da chantagem não pode ser uma alternativa. Por isso cobraram uma postura mais agressiva por parte da direção da universidade. De certa forma, também avaliam alguns trabalhadores, ao anunciar uma possível suspensão de aulas e funcionamento, a reitoria também está chantageando a comunidade, como a avisar: ou aderimos ou estamos mortos.
Para a maioria dos estudantes e trabalhadores presentes na reunião a UFSC precisa votar contra a adesão ao Future-se e fortalecer a luta para que o governo federal descongele os recursos que são de direito, visto que já aprovados no orçamento federal.
Na próxima semana os dias serão de intensas mobilizações. Quando setembro vier estudantes os trabalhadores estarão em luta realizando debates. Uma Assembleia Geral Universitária foi convocada para o dia dois, às 18h, na qual pretendem defender a não adesão ao Future-se. No dia três de setembro, às 14 h, o Conselho Universitário se reúne para decidir. Será também um dia de grande mobilização, no qual os estudantes e trabalhadores esperam a participação de toda a comunidade.
Para que ninguém esqueça. A universidade pública é a responsável por 90% da pesquisa científica do país e é também o lugar onde são formados os trabalhadores que terão participação direta na vida de toda a sociedade tais como médicos, dentistas, engenheiros, advogados, professores, enfermeiros, entre outros. Assim que antes de alguém dizer que se gasta muito com a universidade é bom pensar que esse investimento é para garantir as necessidades de toda a gente.
Atacar a universidade pode ser o estopim de grandes lutas no país.
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Elaine Tavares é Jornalista em Florianópolis.