Por Rogerio Maestri.
Quando se joga tudo nos ursos polares ficando sem gelo no Ártico os ambientalistas obscurecem o verdadeiro problema, que os problemas do meio ambiente, além de serem globais, são oriundos de uma soma de problemas locais.
Parece que a frase anterior é algo anacrônica e fora do contexto da luta pelo meio ambiente. Em parte, ela é. Ou seja, durante muito tempo, o protagonismo de ONGs internacionais, algumas com presidentes de honra que são caçadores de animais na beira de extinção, retiram da responsabilidade dos gestores e dos próprios ambientalistas locais, problemas simples, ou mesmo complexos, que deveriam ser prioritários pois estão próximos à nossa possibilidade de atuação, caindo na armadilha de ficarmos fazendo grandes contas sobre pegada ecológica de créditos de carbono enquanto esquecemos que a miséria e a pobreza, de enorme quantidade de pessoas bem próximas a nós, é mais uma parcela do grande componente do que chamamos a luta contra a degradação dos oceanos, das águas superficiais e subterrâneas e, principalmente, da luta pela sobrevivência da parte mais vulnerável da nossa população.
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Fala-se das queimadas, dos resíduos que sobram da floresta amazônica, porém poucos falam que estas queimadas são produto da invasão do grande capital contra uma população indígena ou mesmo cabocla que ocupavam imensas partes desta área e são jogadas e comprimidas cada vez mais para dentro dos próprios resíduos de mata que ainda nos resta.
Porém, também a degradação dos rios em os estados do Brasil, são provocados principalmente pela falta de condições dos pequenos agricultores e posseiros que para se sustentar tem que necessariamente atacar com vigor o meio ambiente para, por exemplo, conseguir lenha para cozinhar ou mesmo caça para se sustentar.
Parece que o real problema da Amazônia é a única coisa que incomoda os ambientalistas brasileiros, mas esquecer dos microproblemas causados pela falta de saneamento ambiental, de políticas concretas de mudança das políticas de transporte público, de disposição correta de resíduos sólidos, de uso de madeira para o consumo privado e mais centenas destes pequenos problemas, que quando unificados produzem danos equivalentes como os que estão sendo feitos nas nossas florestas remanescentes.
A propaganda macro dos problemas ambientais, sem se começar pelos pequenos danos que prejudicam aqueles que não tendo lugar para ir, se colocam em risco das mais diversas formas desde habitar em zonas sujeitas a inundações, a águas poluídas e outros riscos as pessoas. Esquecem os ambientalistas que quem mais morre pelo uso inadequado e excessivo de agrotóxicos são exatamente os nossos proletários rurais que são contaminados em níveis muitas vezes superior a quem compra uma alface ou um tomate tratados com estes mesmos agrotóxicos que o trabalhador rural e sua família que mora próximo recebem dezenas, centenas de vezes mais o veneno do que o nosso consumidor de alface.
Não estou dizendo que com a devastação planetária que se promove nos dias de hoje, daqui a vinte ou trinta anos grande parte do nosso planeta se transformará num inferno, ou que estou dizendo é que no dia de hoje a vida de bilhões de pessoas no mundo já é um inferno, porém o foco de todas as notícias ambientais é que os níveis dos mares aumentarão alguns centímetros e muitas colheitas falharão provocando para quem não tem recursos fome e miséria. O que estou dizendo é que se centralizássemos corretamente o discurso ambiental no microcosmos que a nós confere, a própria militância para o problema macro se ampliaria mais rapidamente. Porém devemos levar em conta, que estes problemas micros a serem resolvidos não podem ser feitos sem uma mudança estrutural do conceito de manejo tanto do planeta como da pequena vila sem água potável, sem esgoto e sem moradia decente. Este problema estrutural está no verdadeiro anacronismo de muitas organizações ambientais, que acham que resolverão o problema do planeta contando com a ajuda de capitalistas e mesmo de oligarquias reais, que eles mesmo fazem parte do problema.
A solução do problema de uma aglomeração humana sem condições de vida decente, que chamamos de vilas, malocas, comunidades e centenas de outros nomes, ferem não só os olhos dos aliados destas organizações “ambientalistas”, mas o principal, ferem os privilégios destes aliados de ocasião, que lhes agradam mais dizer que querem resolver o problema dos ursos do Ártico do que a miséria de uma favela.
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