O filme acompanha uma visita de deficientes visuais e auditivos, feita por técnicos do serviço educativo do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, à obra icónica As tentações de Santo Antão (1505-1506), tríptico criado pelo pintor holandês Hieronymus Bosch.
Os visitantes cegos «não podem ver com os seus olhos, mas podem ver de outra maneira», disse à Agência Lusa Adelaide Lopes, técnica do serviço educativo do MNAA, que participa no filme, descrevendo a obra a um grupo de cegos e a um jovem deficiente cego e surdo, através da linguagem escrita nas mãos.
«Os seus sentidos estão lá, e têm a mesma capacidade de sentir, de descobrir, de refletir, e de pensar sobre as coisas. Chegam lá por outro caminho, mas têm essa possibilidade e essa capacidade», sustentou.
Sobre o filme Antão, o Invisível, Adelaide Lopes considera que os realizadores Maya Kosa e Sérgio da Costa, «perceberam e conseguiram transmitir a importância dos serviços educativos dos museus, e o seu esforço para que as pessoas possam aceder a todos os espaços culturais».
«Eu posso ajudar a descobrir o que lá está [na pintura], mas as pessoas têm a liberdade de o fazer pessoalmente, e o filme mostra isso. Cada pessoa, mesmo deficiente, tem o direito ao seu usufruto pessoal, e à sua interpretação de uma obra de arte», considerou.
A responsável recordou que os visitantes do Museu Nacional de Arte Antiga com limitações visuais ou auditivas, ou outras deficiências, são acolhidos pelo serviço educativo desde 1953, altura em que foi criado.
Ali são recebidos grupos de escolas, pais, educadores e, para os deficientes com visibilidade reduzida, existem materiais específicos, em Braille, alguns relevos para tocar, sobre peças da coleção do museu.
«Os recursos são reduzidos, mas tentamos que sejam reforçados, para dar a conhecer mais obras», disse, acrescentando que os pedidos de pessoas individuais, ou em grupo, portugueses ou estrangeiros, são sempre atendidos.
Adelaide Lopes referiu que, «muitas vezes, as escolas não dizem que têm alunos deficientes, porque têm receio de não ser atendidos, ou, por vezes, o professor não informa o museu».
«O filme é muito importante para divulgar o trabalho que os museus fazem com os visitantes deficientes, e para quebrar certos tabus. Por vezes as pessoas não sabem, acham que não é possível, ou têm medo», apontou.
Nesta linha, defende que «as pessoas deficientes devem ter acesso a todos os espaços culturais, sejam museus, cinemas, teatros, para usufruir da criação artística, tão importante nas nossas vidas».
O Prémio Árvore da Vida do Festival IndieLisboa foi entregue ex-aequo a Antão, o Invisível, de Maya Kosa, Sérgio da Costa (Suíça, Portugal) e a Num Globo de Neve, de André Gil Mata (Portugal).
Fonte: Abril.PT.