“A Câmara de Florianópolis é correia de transmissão do prefeito que pagou suas campanhas”

Redação Desacato.- Marina Caixeta recebeu no JTT de segunda-feira, a ex-vereadora pelo PT de Florianópolis, professora Elenira Vilela, para conversar sobre os projetos aprovados, ou não, na Câmara de Vereadores.

No rodízio que faz o PT nos cargos legislativos, Elenira Vilela assumiu o cargo de vereadora em substituição da titular, Carla Ayres. Elenira manifestou que não teve quebra de expectativas; o que ela esperava foi basicamente o que encontrou. É uma Câmara de Vereadores formada por pessoas que têm pouco conhecimento sobre o posicionamento de muitos aspectos da vida, com limitações culturais. Na sua grande maioria, com alguma ou outra exceção, a Câmara funciona como uma correia de transmissão dos interesses do prefeito de plantão que pagou suas campanhas. Então o que se vê na grandíssima maioria das votações é que quando o presidente coloca algo em votação, todo mundo olha para o líder do governo e pergunta se é para votar sim ou não. E aí eles votam sim ou não segundo o que o líder do governo disser.

Elenira conseguiu apresentar mais de 100 proposições sobre debates dos mais diversos temas em relação à cidade, desde trazer mais institutos federais até conversar sobre a condição do das trabalhadoras e dos trabalhadores, moções de reconhecimentos, por exemplo, foi aprovada uma moção de aplauso para o magistério estadual que estava em greve. Entre as muitas proposições e projetos de lei, antes de acontecer a crise no Rio Grande do Sul, ela apresentou um projeto de lei de constituição de uma comissão de prevenção às emergências climáticas que vão acontecer em Florianópolis. Já é uma compreensão de que vai acontecer essa crise climática.

Elenira lamenta que o que se veja é que alguns vereadores nem ficam na Câmara; eles só chegam na hora de votar. Existe uma política de que tem um mínimo de sessões segundo a lei que é de 12 sessões por mês, portanto, quando se completam as 12 sessões, eles não chamam mais sessão naquele mês, só no próximo mês. Essa é uma forma de trabalhar o mínimo, o qual é o que a maioria faz, mas se tem alguma votação que é de interesse da prefeitura como um “pacotaço” então a sessão é chamada para imediatamente. Os vereadores são convocados e eles comparecem porque o grande compromisso deles é com o prefeito, cujo grande compromisso é com os empresários muito ricos e ponto.

Elenira faz um alerta porque até gente na esquerda erra muito nisso: “Não existe votar na pessoa se você está votando para vereador e vereadora, porque o primeiro computo do seu voto vai ser para o partido ou coligação do vereador, ou vereadora que você votou.” Não adianta votar em uma amiga “super gente boa” que está no PSD porque com seu voto só vai ajudar alguém que vai para dentro da Câmara defender internação compulsória inconstitucional, alteração do plano diretor que só beneficia a especulação imobiliária até porque essa é a definição política da prefeitura.

Uma das coisas que mais impressionou Elenira foi uma reunião sobre a criação de uma comissão especial de saúde e qualidade de vida do trabalhador. Nessa comissão aconteceram três coisas: a primeira é o reconhecimento dos próprios vereadores de que eles nunca discutem a condição dos trabalhadores e trabalhadoras. Até os da base do governo diziam “nossa, boa ideia, vereadora, a gente nunca fez isso aqui”. Foi chamada a Fiesc, a CDL, o Sinduscon e todas as entidades patronais. Nenhuma apareceu para falar de saúde do trabalhador porque na concepção dos patrões, saúde do trabalhador/a é dane-se o trabalhador, quanto lucro eles podem extrair e não vão discutir a saúde deles nem quando se argumenta. Elenira fez esse argumento de que a saúde do trabalhador também tem a ver com a lucratividade da empresa porque, afinal de contas, se o trabalhador adoece, a trabalhadora adoece, ele vai produzir menos. A prefeitura municipal também não apareceu, nem na audiência pública para trazer instituto federal, nem para tratar da língua brasileira sinais. A Prefeitura não conversa com o povo por meio da Câmara, exceto caso seja um jogo muito combinado. A terceira coisa que lhe impressionou foi que em uma dessas reuniões três mulheres diferentes choraram copiosamente porque são servidoras públicas e estão sendo maltratadas em vários aspectos, estão sendo impedidas de cumprir esse trabalho.

Assista à entrevista completa no vídeo abaixo:

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