Por Paula Guimarães.
“Criança também sofre, mas é diferente. Sofre mais quando cai”, brinca a cantora Ana Rosa ao falar de algumas de suas músicas inspiradas no drama infantil. A menina de dez anos faz parceria com o pai, o músico Chico Martins, no álbum “Caixinha de Música”. Aprender com diversão parece mais adequado ao universo infantil, como defende a artista. E essa é a proposta do primeiro CD da dupla que traz dez canções autorais.
Se por um lado, o público é convidado a expandir a imaginação, a “fazer arte e brincar de aprender” – como propõe a faixa Vamos Fazer Arte – do outro, Ana desenvolve-se como artista e se diverte em uma criação lúdica e despretensiosa. “Eu canto o tempo todo, mas só crio quando estou com vontade. Tem horas que eu canto por cantar”, conta.
Dúvidas, cotidiano e relacionamentos, temas educativos como alimentação saudável e preocupação com o meio ambiente são abordados em enredos divertidos. Mas há também sofrimento. O rock melódico “Quando eu for mulher”, de criação conjunta, retrata as angústias que permeiam o relacionamento entre pais e filhos em cada fase da vida. Percepções captadas pelo olhar de uma criança, não só da menina, como também do pai. “Eu ajudei, mas quem criou foi ele. Ele vivencia o drama comigo, tem uma criança dentro de si”, revela Ana.
Este é o segundo álbum de Chico direcionado ao público infantil, o primeiro “Começou a Brincadeira”, lançado em 2011, contou com outras parcerias, além de uma pequena participação de Ana. O artista é o guitarrista principal da banda Dazaranha – além de ser um dos compositores e cantores – e também segue carreira solo. “Em princípio havia uma vontade de fazer parte desse mundo. Percebi que Ana também gostava e tinha afinação”, conta. De uma família de sete irmãos, o músico explica que a atração pelo mundo infantil vem da convivência intensa com crianças. As três irmãs, professoras do ensino fundamental, contribuíram para a imersão.
Ana fez aula de técnica vocal e de piano e atualmente divide-se entre o balé e sapateado. O pai a aconselha a seguir no balé, mas ela está mais para o sapateado. Na escola, a menina gosta de produção de texto, mas não necessariamente escrever. “Gosto mesmo é de criar coisas”, define-se.
Nessa conjugação entre imaginar, brincar e trabalhar, a preferência da jovem cantora é por pensar em melodias, mais do que em letras. Desde muito pequena, Ana experimentou a música nos ensaios e gravações do Dazaranha. E já aos três anos, com as palavras por aprender, mostrou sua voz na abertura da faixa “Durma bem”: “Quero minha mamadeira pai. Eu já falei ô, ma-ma-dei-ra”. E foi cantarolando na brincadeira “Música Inventada”, estimulada pelo pai, que, aos sete, deu corpo à sua primeira obra “Cavalinho”.
A responsabilidade do músico ao tratar de temas voltados ao público infantil e, por essência, educativos, toma outros desdobramentos ao lado da filha. “O universo é vasto, mas a gente vai descobrindo. A responsabilidade está tanto na qualidade do trabalho – escolha de temas a tratar, sensações a despertar – quanto na segurança moral e intelectual dela”, afirma.
O álbum “Caixinha de Música” integra o projeto “Vamos fazer arte” que destinou dois livros da Fundação Hassis sobre o pintor Hiedy de Assis Corrêa – um desbravador da cultura ilhéu e do universo infantil – e uma cópia do CD para crianças da rede municipal de ensino. A gravação do disco teve a participação de 120 crianças.
Fonte: Enredo – Conteúdo Criativo