A Universidade e a questão palestina

Foto: Rubens Lopes.
Foto: Rubens Lopes.

Por UFSC à Esquerda.

Talvez você tenha pensado com certo tédio que nosso evento “Uma Judia na Palestina, com Tali Feld Gleiser” nada tem a ver com você. Talvez você pense, com certa razão, que em meio a todas as atividades acadêmicas que tornam os fins de semestre dignos de suas péssimas reputações, não há tempo para ‘mais uma’ atividade. Ou então você pense que estamos atrasados, que as atrocidades cometidas por Israel nos últimos meses já se foram, não há mais nada nas páginas de jornais e aquelas postagens de dar nó em qualquer estômago e que apareciam no Facebook desapareceram.

No entanto, a realidade não é tosca como a sua ‘timeline’! A dor e o desespero do cerco imperialista realizado pelas mãos do Estado israelense não desaparecem efemeramente quando deixam de surgir no facebook ou nos grandes meios de comunicação. Aliás o desaparecimento das barbaridades realizadas nas últimas décadas contra os palestinos nunca se atenuou. Os jornais nunca nos mostraram o conflito de forma comprometida com a verdade. Por controverso que seja, foram as divulgações de corpos partidos, de crianças mortas ou dilaceradas, de denúncias de centenas de mulheres palestinas estupradas e violadas de todos os modos, que nos deram a conhecer uma pequena amostra de uma agonia que o povo palestino experimenta todos os dias.

Enquanto isso, temos mais uma amostra de que os grandes jornais não se comprometem com nenhuma verdade, e muito embora as redes sociais sejam hoje um pequeno espaço de resistência informacional, não são o bastante para vencer a força corruptora dos grandes meios de mídia. É preciso lutar contra todas as forças dominantes do capital e colocar abaixo essas instituições, para que o instituto da verdade seja renovado em nosso mundo. Há Outras informações, evidente, e o portal Desacato.info é uma delas e, por isso mesmo, nosso parceiro de braços dados. Esforços dessa ordem podem nos dar novos meios, enquanto lutamos contra aqueles perversamente mentirosos e encobridores.

Mas há outras instituições muito mais velhas que a imprensa capitalista e que perderam tanto a vitalidade, quanto igual compromisso com a verdade. Não é preciso ir muito mais longe, basta ver a universidade. Quando foi a última vez que você viu a universidade debater abertamente nas praças e auditórios os grandes temas atuais de nossa sociedade? Por que os temas nos nossos auditórios e salas de aula são sempre debatidos no pretérito-mais-que-perfeito?

Caminhando pelos corredores e pátios de nossas instituições, nos murais vemos apenas anúncios comerciais e, quando raro, algum debate sobre qualquer tema relevante. Mas esses temas são agora – quase todos – a busca de concordâncias e consensos. O elemento mais vital da Universidade, o motor de nosso espírito radicalmente comprometido com a verdade, é a negatividade. A constante crítica, sem qualquer compromisso imediato com o consenso, deveria ser os nossos óculos – ao menos nos anos em que passamos ali.

Por isso é tão vital trazer um debate como este, pois enquanto ainda estalam mísseis israelenses sobre casas, escolas e hospitais palestinos, a universidade pode e deve trazer para suas grandes salas esses temas atuais – e discuti-los no presente sob o olhar atento das fundamentais teorias que deveriam orientar uma escola superior.

Pois bem, e por que não fazê-lo dando voz justamente a uma judia considerada maldita? Maldita porque não aceita o Estado de Israel, porque dá voz aos debaixo e – maldita – porque não se cala para fazer justiça também às dezenas de judeus, inclusive israelenses, que são absolutamente contrários ao genocídio do povo palestino, mas que são violentamente perseguidos, torturados e silenciados mundo afora. Por isso, a presença de Tali Feld Gleiser é tão urgente hoje. Este debate é, em si, um ato de coragem.

Mas deixamos aqui um aviso. Este é um debate aberto, mas não é para qualquer um. Se você é um covarde, não venha. Queremos estar somente entre aqueles que ainda guardam algo de um certo espírito da juventude que sempre foi radicalmente contestador das mentiras dos Outros.

Florianópolis, 6 de novembro de 2014.

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