História de um ex-preso político

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Via CMVJ.

Meu nome é Luiz Carlos Gonçalves, tenho 66 anos, filho de um operário (pedreiro) que trabalhou na construção da Ponte Hercílio Luz. Iniciei minha militância política em Florianópolis no ano de 1966, enquanto estudante do Instituto Estadual de Educação,  pois neste ano com a criação da UDESC e do acordo MEC/USAID,  previa a incorporação  do IEE pela UDESC e sua transformação em Colégio de Aplicação. Sendo na época emitido carnê para pagamento de mensalidades. Iniciou-se então a primeira greve que durou aproximadamente 90 dias, com apoio dos pais, fomos as ruas, além de manter o IEE fechado com acampamento dentro do mesmo. Após varias manifestações fomos vencedores, assim sendo não se concretizando a proposta do Governo, porém os pais tiveram que arcar com a primeira mensalidade. Junto a UCES e DCE em 1968 deu-se inicio os movimentos políticos de protestos contra a Ditadura, em várias manifestações em Florianópolis, Itajaí, Criciúma e outros municípios. Em 1968 entre o mês de junho a setembro, fui preso juntamente com o companheiro Sergio Grando, na sede da UCES/DCE, sito a rua Álvaro de Carvalho. Neste mesmo  período participamos  de reuniões em vários locais, a saber: IEE, ETF, Seminário Holandes em Barreiros, atos públicos na Catedral, na Prefeitura e no Palácio do Governo,  Juntamente com os companheiros, Roberto Cascaes, Luiz Alves, Norton Carneiro, Sergio Caveira (de Itajaí), Sergio Grando, Mabilio, Odilon Furtado(Cabore), Mauro Brandeburgo, Rômulo (morreu em acidente aéreo), Sergio Buson, Dirlei de Luca, Heitor Bittencourt, Jerônimo das Chagas, e outros.

 

Relatório dos fatos da prisão

Aproximadamente as 20:00 horas, a UCES/DCE,  foi invadida pelo DOPS e  a Policia Militar, após manifestação estudantil realizada em frente a Catedral que culminou com a queima das Bandeiras Americanas e Brasileira. Após intervenção da Policia.

Com a invasão Eu e Sérgio Grando fomos presos pelo  Cap. Belfort de Araujo na época Delegado do DOPS, juntamente com os investigadores Vilela e Malha Branca. Conduzidos para a Delegacia na época localizada a rua Fernando Machado esquina com avenida Hercílio Luz, onde  fomos   colocados em  separadas sobre a guarda do Subtenente Regis. Após interrogatório e tortura psicológica, levados de Jeep, para destino desconhecido.

Após rodar pela cidade  Cap. Belfort, mandou o motorista, rumar para reta das três pontes, hoje avenida das Saudades, onde nos mandou descer,  verificou a  arma e mandou o motorista dar uma volta de uns dez  minutos, Se dirigindo a nós disse que eram dois contra um e tínhamos todo o mato (mangue) para fugir. Porém disse-lhe se ele achava que éramos bestas, fugir para levar um tiro  nas costas, não muito obrigado. Após retorno do motorista, fomos encaminhado ao quartel da cavalaria na trindade onde permanecemos até as 10:horas do dia seguinte,

Quando fomos levados a presença do então todo poderoso secretario de segurança Gal, Vieira da Rosa, juntamente com a cúpula do DOPS e Policia Militar,  onde fomos de novo torturados psicologicamente, um era levado para sala ao lado onde batiam em um colchão ou saco de areia e o soldado gritava, não me bate mais eu falo. Enquanto isso na sala ao lado era dito o próximo será você e bom começa a falar. Respondíamos falar o que não sabem os de nada, eles gritavam vocês são subversivos estão se armando contra o Governo, respondi eu acho que vocês estão loucos eu nem sei o que é subversivo. O polical disse a Gal. Senhor esta nos chamando de loucos, deixa dar uns tapa nesse F…..P… Depois de dois  dias sem dormir fomos encaminhados para o 1 BI da Policia Militar, localizado a rua Nereu Ramos em Florianópolis, sob a custodia do então Aspirante Gainete hoje Cel. da reserva, que nos mostrou o quarto onde iríamos ficar. Iniciou nova seção de tortura psicológica, pois durante a noite quando iríamos dormir éramos separado para dizer que nos batíamos como na delegacia.  Após o terceiro dias retorno o aspirante Gainete, nos mostrou a janela (basculante com grade) e disse se tentarem pular serão metralhados pelo guarda. Ironia como pular do terceiro andar e através de uma basculante gradeado,  você esta brincando pular da onde, passar por onde, alguém aqui e burro. Foi ameaçado de novo pelo policial que me daria uns tapas se não calasse a boca. No décimo dia fomos encaminhados a Polícia Federal localizada no Estreito, sob a custodia do Cel do Exercito Ary de Oliveira, onde fomos  interrogados durante todo o dia, retornando ao BI. Logo após recebemos documento que autoriza a iramos para casa porém não podíamos nos ausentar de Fpolis. Durante um ano fomos chamados a depor na PF por mais de 10 vezes. Finalmente em 1969. Recebemos uma intimação do Delegado da Policia Federal, para comparecemos na Delegacia de imediato. No local recebemos duas passagens para Curitiba de ônibus, onde iríamos ser julgados na 5RM, pelo Tribunal Militar, após dois dias de interrogatórios e acusações, fomos liberados com os direitos políticos cassados, pois ficamos fichados no DOPS como subversivos. Nos deram uma declaração para assinarmos onde não poderíamos nos ausentar do Pais e nem de nossa cidade. Ficando assim também impossibilitados  de fazer concursos públicos, vestibulares etc. Tivemos nosso nomes inscritos como se fomos bandidos com direito de fotos de frente e perfil numeradas e impressões digitais de mãos e pés.

Luiz Carlos Gonçalves

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