Por Leonardo Sakamoto.
Quando postei a frase acima no Twitter, amigos simpatizantes do PT, PSB/Rede e PSDB me enviaram algumas mensagens desabonadoras, afirmando que eu estava querendo rebaixar a política. Reclamaram que um debate presidencial é algo sério demais para o comportamento um tanto quanto “irreverente” do candidato do PV.
Para quem não assistiu ao debate na Rede Bandeirantes, entre a noite desta terça (26) e madrugada de quarta, saiba que Eduardo Jorge, que não atinge 1% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa do Ibope, levantou bandeiras consideradas polêmicas como a ampliação do direito ao aborto, a legalização da venda psicoativos considerados ilícitos e a ampliação de instrumentos de participação social.
Mas não foi por causa dos temas defendidos que ele virou um dos trending topics globais nas redes sociais, mas por conta do jeito irônico, engraçado e, muitas vezes, atapalhado com o qual respondeu questões.
Alguns podem dizer que ele extrapolou e só fez o que fez porque não tem chance nenhuma de ganhar a corrida presidencial. Um franco atirador. Claro, mas qual o problema? O Pastor Everaldo também não tem chance mas parecia, o tempo inteiro, estar lendo uma folha de cartolina.
O fato é que cada um tem que traçar sua estratégia a partir da posição em que se encontra. E, desse ponto de vista, ele incorporou o saudoso Plínio de Arruda Sampaio, repetindo um pouco do papel que ele exerceu nas eleições de 2010: o de grilo falante, apontando o dedo e esticando a corda.
Mas também não foi esse o motivo dele ter ganhado o debate, na minha opinião. Dilma, Marina e Aécio devem ter obtido ou perdido mais pontos após essa noite do que ele.
Contudo, Eduardo conseguiu estabelecer uma empatia com grande parte do público, principalmente entre os mais jovens e, dessa forma, passar o seu recado. Pessoas que têm na TV a sua primeira tela, mas com computador, tablet ou celular como segundo foco de atenção, nos quais a conversa com os amigos correu solta durante o debate.
Ou seja, o debate ocorreu na TV, mas ele o ganhou na internet.
Isso independe se concordo ou não com as pautas que ele defendeu (no caso, concordei com a maioria). Independe também se a maioria das pessoas que curtiu, retuitou ou discutiu a sua participação no debate concorda com o conteúdo que ele trouxe. A verdade é que, por várias vezes no debate, um nanico ganhou fortes holofotes. E isso não tem preço. Ficará presente na memória dos eleitores.
E, daí, mesmo que não concordem com o que ele defende, há quem possa escolher depositar nele o seu voto de protesto. Não importa se ficará conhecido como o “cara que fala umas groselhas, mas é ponta firme” ou como o “homem que diz umas verdades e é comédia”. De qualquer forma, rende voto. E desconfio que o PV, que não é tão progressista assim, terá que engolir a estratégia.
Quem conseguir entender essa nova realidade, em que discussões políticas são realizadas, transmitidas, debatidas, validadas, rejeitadas, comentadas e reinterpretadas em tempo real, vai se dar bem.
Quem compreender que o riso está diretamente relacionado ao processo de conscientização na internet e conseguir aplicar isso, terá uma vantagem competitiva.
Quem conseguir entender que fazer política tem que ser algo tão divertido para os eleitores quanto jogar CandyCrush se dará melhor ainda.
Mas quem achar tudo isso uma grande bobagem, com o tempo, irá virar peça de museu. Ou, no máximo, falar com uma parede.