Por Montserrat Martins.*
“A grandes poderes, correspondem grandes responsabilidades” (Tio de Peter Parker, em “Homem Aranha 2”)
“Hollywood não é branca nem preta, é verde”, respondeu Morgan Freeman quando lhe perguntaram se havia racismo entre os produtores, se referindo à cor do dólar. De fato, há grandes produções sobre praticamente tudo, todas as causas que possam ter representatividade entre o público, gerando plateias e lucros. Há filmes contra racismo, colonialismo, machismo, opressão sexual ou religiosa, contra todos os tipos de preconceitos. Há filmes contra o imperialismo, a guerra e contra ditaduras de todos os tipos.
Você pode encontrar grandes produções de Hollywood mostrando os crimes do capitalismo, do governo americano, do FBI, da CIA, do Estado, do “sistema”, de tudo que lhe oprima. Você já assistiu dezenas de filmes revivendo os horrores do nazismo, do stalinismo, ou mostrando o drama atual do terrorismo. Mas por motivos ainda obscuros, nunca vimos um filme hollywoodiano sobre o martírio dos palestinos, num dos conflitos mais crônicos e dramáticos da atualidade.
Analistas políticos de esquerda estão habituados a criticar o poder da mídia, mas se esquecem de registrar questões pontuais de grande relevância, tal como o fato da Rede Globo mostrar esse martírio em seus noticiários e site, sem se omitir da informação jornalística. No sul, um editorial de ZH se posicionou claramente contra o governo de Israel, cujos bombardeios atingindo civis palestinos foram qualificados como “desproporcionais”, no mesmo tom da crítica feita pelo governo brasileiro. O escritor israelense Etgar Keret, em entrevista à Folha de S.Paulo também criticou o governo israelense por tentar resolver o conflito pelo uso da força, ao invés de dialogar com as questões sociais e humanitárias envolvidas.
Líderes e intelectuais israelenses, na comunidade internacional, estão contra o governo de Israel e não aceitam as alegações de que a causa de morte dos civis são os “escudos humanos”, porque essa tese equivale a legitimar o “atirar nos reféns”. Uma análise política no site Sul 21 diz que Israel “perdeu o trem” quando o seu governo direitista começou a atrair imigrantes do leste europeu após o colapso da União Soviética, nos anos 80, passando a adotar posições cada vez mais de extrema direita, segundo o colunista Marcelo Carneiro da Cunha. Pois esse governo israelense de extrema-direita além de truculento se mostra paranoico nos ataques verbais contra aliados, acusando o americano John Kerry de adotar “a lógica do Hamas”.
Tudo isso isolou, na comunidade internacional, um governo cujas ações se equiparam ao terrorismo do qual acusa o grupo Hamas – com o diferencial de ter um poder de fogo muito maior que este. Há grupos anacrônicos, a federação israelita que promoveu no Rio uma manifestação em apoio a esse governo com cerca de 2 mil participantes, mas mais expressiva foi uma passeata de 150.000 pessoas em Israel, contra o governo Netanyahu e a favor da coexistência com um Estado Palestino.
O governo belicista de Netanyahu se equipara a outros denunciados na ONU como praticantes de crimes de guerra, que chocam as pessoas no mundo inteiro. Não só ditadores, mas também governantes eleitos são execrados pela opinião pública internacional pela morte de civis, tal como Bush e suas alegações mentirosas para invadir o Iraque. Guerra que Spielberg apoiou no início, antes de ser desmascarada pela própria imprensa americana. Tanto quanto apoiar uma guerra injusta, a omissão de Hollywood no massacre dos palestinos afronta a consciência da humanidade.
*Montserrat Martins,é Psiquiatra.
Foto: UNICEF/Eyad El Baba
Fonte: EcoDebate