Relatório aponta que 40% dos trabalhadores não conseguem obter o necessário para sobreviver; 14% recebem menos que um salário mínimo.
Celebrado como um dos países com “economia mais vibrante” da América Latina e considerado o “queridinho dos investidores”, o México é apontado pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) como o país com “um dos piores” salários mínimos da América Latina, e o único cujo valor está abaixo da linha da pobreza per capta. Nos últimos 35 anos, ao invés de ganhar em poder aquisitivo e em melhoria nas condições de vida, os mexicanos viram ele cair 77%.
Por Vanessa Martina Silva.
O resultado impacta diretamente o combate à pobreza e aponta para uma “menor coesão social e maior violência”, como afirmou o secretário executivo da Cepal, Antonio Prado, durante a inauguração do seminário internacional “Salários mínimos, empego, desigualdade e crescimento econômico” realizado nesta terça-feira (05/08) no Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México.
Participantes do encontro foram unânime ao afirmar que todos devem participar das discussões me torno da valorização do salário mínimo
“O México é o único país ao final da década (2002-2011) onde esse montante é inferior à linha da pobreza per capta”, afirmou Prado.
O salário mínimo é uma ferramenta para aumentar a igualdade, diminuir a pobreza e revitalizar a economia, como informa o relatório Pactos para a Igualdade, da Cepal, publicado em maio deste ano. Mas, no México, 40% dos trabalhadores não conseguem obter o mínimo necessário para sustentar suas famílias e quase 14% dos ocupados recebem menos que um salário mínimo, o que revela uma onda de precarização do emprego.
Desigualdade e violência
Isso porque a relação entre o salário mínimo e o valor da linha da pobreza per capta no país está em 0,66, quando deveria ser superior a dois pontos. No outro extremo do ranking está a Costa Rica, com uma razão de 3,18. Para que uma família com quatro pessoas, em que duas possuam fonte de renda, consiga sair da linha da pobreza, a relação deve ser superior a dois, informa a Cepal.
O organismo considera que estão na linha da pobreza pessoas que ganham menos de US$ 1,25 por dia. Para a medição é considerado o dólar PPA (Paritário ao Poder Aquisitivo), um método alternativo à taxa de câmbio, usado para calcular o poder de compra entre países. A medida relaciona o poder aquisitivo das pessoas com o custo de vida do local em que vive para verificar o quanto ela consegue comprar com determinado valor. O PPA foi criado porque verificou-se que a comparação dos PIBs (Produtos Internos Brutos) não descreve a disparidade material entre as regiões.
Relação salário mínimo x pobreza
1º Costa Rica
2º Argentina
3º Equador
4º Chile
5º Panamá
11º Brasil
22º México
O relatório da entidade aponta que uma parte significativa do aumento da desigualdade no México no final dos anos 80 e começo da década de 2000 se deve à forte queda do salário mínimo real no período.
“Não é a pobreza que provoca a violência, é o sentimento de injustiça e desigualdade que se reflete não apenas na violência organizada, das quadrilhas ou do narcotráfico, mas no tecido social”, acrescentou Prado.
Argentina, Brasil, Cuba, Equador e Uruguai, por outro lado, são considerados pela Cepal como exemplos de países que tiveram aumento real no valor do salário, apontando que a questão pode avançar “sem que haja efeitos negativos”.
Vários países tiveram simultaneamente “um aumento de salários mínimos e, portanto, uma diminuição da desigualdade salarial, gerando crescimento no emprego”, concluiu Prado.
Em 2010, 46% dos mexicanos viviam em condição de pobreza, segundo dados do governo
O relatório aponta como exemplo o Brasil, onde a recuperação que começou em meados da década de 1990, tomou impulso maior durante a década de 2000, aumentando cerca de 100% entre 2000 e 2012. O Chile teve um crescimento de 40% no mesmo período. Já México se encontra ao lado de Jamaica e Bahamas que apresentaram queda nos valores pagos aos trabalhadores.
Crescimento
Apesar do pequeno crescimento verificado em 2012 (1,1%), analistas consideram que leis recentemente aprovadas pelo governo mexicano como as reformas trabalhista, educacional, fiscal, financeira e a liberalização do setor energético podem resgatar o vigor da economia do país.
A previsão do FMI (Fundo Monetário Internacional) para o crescimento do México em 2014 é de 2,4%, acima do Brasil, que deve crescer 1,3%, e da média da América Latina, cuja estimativa é de 2%.
Sobre o assunto, o reitor da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), José Narro, concluiu que ‘‘seria absolutamente irresponsável. (Seria) atuar como se tudo estivesse bem, como se não tivesse pobreza, desigualdade, como se as taxas de crescimento fossem as que queremos ter, como se a qualidade do emprego fosse a que o país precisa. As gerações que ainda não nasceram vão pagar as consequências do que fazemos hoje e do que deixamos de fazer”.
Fotos: 1 Flickr/ Humberto López – 2 Flickr/ Diógenes
Fonte: Opera Mundi