Por Vanessa Martina Silva. O governo dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira (04/08) o fechamento de três albergues para crianças imigrantes que chegam ao país sem o acompanhamento de adultos. Os abrigos estão instalados em bases militares no Texas, em Oklahoma e na Califórnia. A notícia chega em meio à denúncia feita por ativistas de que os alojamentos estão “mais do que lotados” e podem “colapsar”.
A porta-voz do Departamento de Saúde e Assistência Social dos EUA, Kenneth Wolfe, afirmou que os centros de alojamento serão fechados porque “diminuiu a quantidade de menores de idade que tentam entrar no país e ao mesmo tempo aumentaram os espaços em outros albergues”. Os abrigos podem ser reabertos caso o número de crianças na fronteira volte a aumentar, disse.
O presidente da Organização Hondurenha Francisco Morazán, baseada nos Estados Unidos, Francisco Portillo, disse à agência mexicana Notimex, na última semana, que no Texas os “albergues estão mais do que cheios” e podem entrar em colapso. Ele afirmou ainda que as crianças estão sendo enviadas para outros estados onde também há superlotação.
Crise humanitária
Os centros que deixarão de funcionar alojaram um total de 7.700 crianças imigrantes desde que foram abertos em maio e junho. De acordo com a Patrulha Fronteiriça, entre outubro de 2012 e setembro de 2013, foram capturadas 24 mil crianças não acompanhadas na fronteira. De outubro de 2013 a junho deste ano, o número aumentou para 57 mil, o que é considerado pelas autoridades dos países centro-americanos e dos EUA como “crise humanitária”.
Somente Texas, Nova York, Flórida e Califórnia receberam 46% dos 30 mil menores que foram entregues às suas famílias enquanto aguardavam o processo de deportação.
Devido à crise gerada pela nova onda de imigração, o presidente Barack Obama pediu ao Congresso a aprovação de US$ 3,7 bilhões para resolver a questão, mas os congressistas entraram em recesso em agosto sem abordar o tema.
Por esse motivo, o governo notificou ao Congresso hoje que transferirá US$ 405 milhões provenientes de diversos programas para combater a crise na fronteira.
Em declarações à agência Efe, um funcionário do governo norte-americano afirmou que o presidente não “vai ignorar este tema” e que “funcionários da administração estão trabalhando horas extras e puderam frear a avalanche de crianças imigrantes, mas sem a ajuda do Congresso as agências simplesmente não terão todos os recursos que necessitam”.
Falta de transparência
A maneira como estes recursos são empregados, no entanto, é controversa. Uma reportagem da revista Time publicada hoje questiona os métodos da principal organização parceira do governo norte-americano no abrigo dessas crianças, a BCFS (Baptist Child and Family Services – Criança Batista e Serviços Familiares – em tradução livre). Desde dezembro, BCFS recebeu mais de US$ 280 milhões em subsídios federais para operar estes abrigos, de acordo com registros do governo.
A falta de transparência da organização, no entanto, levanta suspeita sobre a forma como as crianças são tratadas e os recursos do Estado, empregados. Apesar de as instalações temporárias serem visitadas por jornalistas e políticos com certa frequência, os abrigos permanentes são inacessíveis, o que impede a avaliação das reais condições de vida das milhares de crianças que se encontram ali, reporta a revista.
Em sua defesa, funcionários da organização afirmam que as medidas que dificultam o acesso às dependências do abrigo são tomadas para garantir a segurança das crianças, já que alguns cidadãos da Arizona e de Michigan estão promovendo protestos armados para se opor à realocação das crianças nessas comunidades.
Violência
Os menores de idade desacompanhados são vítimas de diversas violências e explorações, diz a revista. Além da já citada hostilidade de alguns norte-americanos, as crianças enfrentam também a exploração de pessoas mal intencionadas que dizem ser parentes para tentar extorqui-las em troca de uma suposta ajuda para se reunirem com familiares.
De acordo com uma investigação policial, 56% dos jovens na região de Chicago disseram ter sido obrigados a usar algemas, mais de 70% afirmaram que foram colocados em salas sem aquecimento durante o inverno e alguns relataram ter sido mal alimentados durante o período de custódia, que deve ser de três meses no máximo, segundo as leis norte-americanas.
Foto: Reprodução/Opera Mundi
Fonte: Opera Mundi