Mais de 100 líderes religiosos e ativistas foram presos na última quinta-feira em um protesto na Casa Branca com o objetivo de parar as deportações e a dar assistência aos imigrantes que vivem nos Estados Unidos ilegalmente.
A reportagem é de Adelle M. Banks e Heather Adams, publicada no sítio do Religion News Service, 01-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
A medida, promovida pelo Church World Service e pela Casa de Maryland, um grupo pró-imigração, trouxe líderes que vieram desde New England até oHavaí à capital do país.
Até as 15h, a polícia dos parques dos Estados Unidos havia prendido 112 pessoas, indiciando-as por “impedir a passagem” na calçada em frente àCasa Branca, uma contravenção, como disse Sidney Traynham, porta-voz do Church World Service.
Cada pessoa passou pelo processo de pagar uma multa de 50 dólares em dinheiro, abrindo mão do seu direito a um julgamento.
Até às 17h15, todas as pessoas que haviam sido presas e que estavam em um centro de processamento no bairroAnacostia em Washington foram liberadas.
“Estamos aqui porque não estamos ouvindo uma voz moral proveniente da Casa Branca“, disse Minerva Carcano, bispa metodista de Los Angeles. “Este é um dia de justiça. Sejamos essa voz moral”.
A Ir. Eileen Campbell, da congregação das Irmãs da Misericórdia, cuja ordem tem a missão de ajudar os mais vulneráveis??, fez algo que nunca havia feito em seus 67 anos – juntar-se a outros no ato de desobediência civil para protestar contra as 1.100 deportações que acontecem por dia e pedir alívio para os 11 milhões de imigrantes que vivem ilegalmente no país.
Ela disse que, como o Congresso não tem agido na questão da imigração e com as crianças que chegam em massa nas fronteiras do sul do país, era hora de fazer alguma coisa.
“Nós esgotamos todos os outros meios e agora realmente temos que contar com o poder executivo do nosso presidente”, disse Campbell, que tem irmãs em sua ordem afetadas pela violência em países da América Central, de onde as crianças estão fugindo.
“Eu acho que protestar do lado de fora da Casa Branca vai fazer a diferença”, disse ela, enquanto se locomovia em uma van com outros líderes, passando pelo Capitólio em direção à Casa Branca.
O secretário de Imprensa da Casa Branca, Josh Earnest, criticou os líderes do Congresso por não aprovarem areforma da imigração e, “em vez, adotarem uma abordagem de caça e deportação das 11 milhões de pessoas, separando famílias e minando a capacidade [do Departamento de Segurança Interna] de proteger a fronteira”.
Outros, que tinham sido detidos pela primeira vez, expressaram um misto de esperança e desespero.
“Tenho vergonha da forma como alguns dos nossos legisladores se recusam a conceder às pessoas a oportunidade de morar, trabalhar e contribuir para a nossa sociedade”, disse o reverendo Thomas Bain, um ministro metodista aposentado e ativista comunitário de Kailua, no Havaí, enquanto procurava por uma xícara de café antes de sair para o protesto.
O reverendo Hector J. Hernandez, um ministro da Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) de Indianápolis, disse que estava participando pela primeira vez por um motivo: as crianças.
“Eu vi em primeira mão como isso é destrutivo”, disse Hernandez, um conselheiro matrimonial e familiar que conhece famílias separadas por mandatos de imigração. “As crianças são inocentes – ponto final”.
A reverenda Susan Frederick, uma ministra da Igreja Universalista Unitária, vinda de Phoenix, estava com um grupo de 10 pessoas que iam de metrô para a Casa Branca.
“A fé nos chama a amar, não a ter medo”, disse ela. “Cruzar a fronteira para proteger e amar a sua família não é crime. Os imigrantes indocumentados não devem ser tratados como criminosos”.
Na parte da manhã, antes de seu protesto, os ativistas foram recomendados a almoçar, usar o banheiro e vestir suas braçadeiras brancas. O clero foi orientado a levar suas estolas e a usar seus colarinhos brancos. E todo mundo foi avisado para não colocar as mãos em policiais que estivessem efetuando prisões.
“Basta lembrar que o alvo da nossa manifestação de hoje está dentro da Casa Branca“, aconselhou Gustavo Andrade, da Casa de Maryand. “Essa é a pessoa que pode nos dar o que queremos”.
Depois de um comício em Lafayette Park, em frente à Casa Branca, os manifestantes dispostos a serem presos sentaram-se e puseram-se em três filas. Eles cantavam “We Shall Overcome” (“Iremos vencer”) e gritavam “Sí, Se Puede” (“Sim nós podemos”), segurando placas que diziam “Rezem por assistência” e “Parem as deportações”.
Um policial advertiu-os três vezes por megafone dizendo que eles estavam violando a lei por estarem parados na calçada.
“Agora você está preso”, disse um policial. “Você não pode sair da área de segurança”.
À medida que algemas de plástico eram colocadas nos manifestantes, uma de cada vez, mais de uma centena de pessoas que estavam no parque do outro lado da rua aplaudiam.
Antino Aleman, um homem sem documentos vindo de El Salvador, antes de se juntar aos detidos, disse que estava ali “para pedir ao presidente para ele fazer o que é melhor para todos nós”.
Seu filho, Erick Aleman, 17 anos, se juntou ao protesto, mas do outro lado da rua, no parque.
“É difícil e não é”, disse ele sobre o fato de protestar na sua idade. “Mas você tem que lutar por aquilo que você quer”.