Ecossocialismo, uma proposta de superação

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Por Elaine Tavares.

O professor Pritam Singh, indiano radicado na Inglaterra (Oxford Brookes University), foi o conferencista da Sessão Especial de Economia, no XIX ENEP, com o debate sobre o ecossocialismo.  Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política, Neimeyer de Almeida Filho, o convite ao professor Pritam foi feito por conta da necessidade de se pensar perspectivas de transformação que viessem de países semelhantes ao Brasil. Assim, desde a experiência indiana, o professor falou sobre como sair do capitalismo para outra proposta que ele denomina de ecossocialista.

Conforme a análise de Pritam Singh o mundo atual está vivendo um deslocamento, uma mudança no equilíbrio do poder do capitalismo. Até bem pouco tempo foi o ocidente quem deu as cartas de forma quase total. Agora, está disputando hegemonia com outros blocos, como o do Oriente e os chamados BRICS, até então colocados como países periféricos. “O ocidente não é mais dominante. Fala-se em China, Índia, África do Sul, Brasil, está havendo uma mudança psicológica. Há o declínio das grandes potências e a ascensão de países de outras regiões do mundo, fora da Europa e Estados Unidos”.

Muitos podem ser os elementos que dão visibilidade a essa mudança, um deles é a participação de cada país no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Países como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos tem diminuído essa taxa, enquanto outros  registram altas vertiginosas. A China, por exemplo, em poucos anos passou de 2% a 14% na participação do PIB mundial, a Índia chegou a 11%. Outro elemento que pode ser considerado é o da renda per capta, e países como a Rússia, além dos já nominados China e Índia, têm registrado bons índices.

Um terceiro ponto que corrobora sua análise de deslocamento de poder é o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED). Hoje, são os países que registram altas taxas de desenvolvimento os  que estão recebendo a maior porcentagem de investimento. “Isso revela uma tendência de mudança”.  Pritam observa que esses números “alvissareiros” de desenvolvimento nos países até então considerados subdesenvolvidos não acontece sem que se pague um preço por isso. Afinal, a se pensar com as categorias da Teoria da Dependência, o desenvolvimento interno desses países se dá com a constituição de grandes bolsões de pobreza e com o aprofundamento do abismo entre os ricos e os empobrecidos. Na verdade, é o desenvolvimento do subdesenvolvimento, como bem aponta o teórico Gunder Frank. Isso também confirma o pressuposto de que os processos de desenvolvimento não estão ligados a fatores internos apenas, eles são parte do movimento do capital mundial.

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A crise ambiental

Apresentados os números e constatado que países até então subdesenvolvidos estão apresentando elevados índices de crescimento, Pritam Singh se pergunta sobre a sustentabilidade de todo esse desenvolvimento. A elevação da renda, ainda que não uniforme, tem provocado um aumento significativo do consumo. “Na Índia cresce o número de automóveis e ar condicionado. Isso tem um impacto muito grande no ambiente. Também pode-se observar  uma mudança de padrão de consumo na China, onde a demanda por alimentos não vegetais também aumentou consideravelmente”.

O aumento na demanda por carne, não só na China mas numa série de países do BRICS e fora deles, tem provocado também a diminuição das áreas de lavoura. A terra tem sido usada para criação de gado, que está com o preço muito mais alto que os vegetais ou cereais. Pritam revelou que tanto a Índia quanto a China – considerando o número e habitantes que é gigantesco – estão comprando terra no Brasil e também nos países africanos, justamente para a produção de alimentos para sua população. Observem aí a ligação visceral que todo esse processo tem com a vida de todos os brasileiros, num momento em que vimos o agronegócio avançando, com matança de índios e camponeses. As coisas estão profundamente relacionadas. Assim, essas mudanças de padrão de consumo, além de terem implicações ambientais, provocam alterações na vida mesma das gentes.

O aumento do consumo gera também altos graus de desperdício e lixo não degradável. O ciclo da vida dos produtos é curto, mas a sua desintegração na natureza demora milênios. Imaginem o que fazer com o lixo tecnológico, que cresce assustadoramente? Tudo isso exerce uma pressão muito grande sobre o planeta, que não tem condições de absorver o volume excessivo de lixo produzido.

Um novo modelo social

E é justamente por conta disso que o professor indiano propõe o ecossocialismo como uma alternativa ao desenvolvimento capitalista. Para ele, a continuar como está, o mundo chegará na barbárie em pouco tempo, ainda que não existam guerras, por conta do padrão de consumo e a incapacidade de absorção do lixo. Só uma mudança paradigmática poderia mudar o rumo do destino. “Existem muitos defensores do desenvolvimento que dizem: `ora, os países centrais fizeram a festa, cresceram, se desenvolveram e agora querem que nós (os subdesenvolvidos) não cresçamos. Queremos nossa parte na festa´. Essa é uma visão equivocada. Não podemos reproduzir os mesmos padrões do capitalismo central. É certo que os países subdesenvolvidos precisam encontrar formas de acabar com a pobreza, mas podem encontrar outro padrão”. Pritam lembra que os empobrecidos do mundo, via de regra, não querem saber de meio ambiente. Eles querem é garantir a sua sobrevivência. Daí que os estados precisam caminhar para um modelo que garanta a vida de todos, mas com consciência ambiental. E isso, argumenta, só pode ser feito em outro modelo: o socialismo.

O professor critica o movimento verde que luta por mudanças ambientais sem levar em conta a lógica econômica do sistema capitalista. “Eles acreditam que pode ser resolvida a questão ambiental dentro do capitalismo, com o desenvolvimento sustentável, por exemplo. Isso é uma ilusão”. Afinal, é da natureza do capitalismo o esgotamento dos recursos. Pritam argumenta que mesmo a antiga visão do socialismo tampouco levava em conta o ambiente, por isso apresenta o conceito de ecossocialismo. Seria uma versão melhorada do socialismo, para além da ideia de produtivismo, que esteve muito presente em Lenin e, depois, em Stalin.

Por outro lado, Pritam entende que tudo o que for possível fazer, mesmo dentro do capitalismo, ajuda. Desde as micro ações, no campo pessoal, como não tomar água engarrafada, por exemplo, até as macro medidas de redução de danos. É uma forma de retardar a catástrofe. Enquanto isso, a luta deve ter como horizonte o socialismo, porque um mundo ecologicamente equilibrado só pode existir se o capitalismo for superado.


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