Paris à vélo e parques: o que isso tem a ver com Blumenau?

    ciclovia embaixo de trilhosPor Sally Satler.

    O início do título deste breve texto – Paris à Vélo – eu copiei de um livro que leva o mesmo nome, e que comprei logo que chegamos à Paris, um guia de itinerários para ciclistas, endereços de lojas e oficinas de bike, separados por arrondissement (região). Conhecer Paris de ‘vélo’, descobrindo cada canto, parque, praça, jardim e ciclovia da cidade é realmente vibrante. Andar pelas ciclovias, por ciclofaixas privativas ou até mesmo divididas com pistas de ônibus na região mais central, nos mostra como é possível para uma grande e populosa cidade garantir espaço e segurança nas vias públicas também para os ciclistas.

    Para quem não tem bicicleta e não conhece Paris, basta um mapa e caminhar até uma das 1.250 estações da velib que existem a cada 300 metros, com mais de 20 mil bicicletas à disposição. Nas máquinas, é só acessar o serviço com cartão de crédito que a bicicleta já é liberada (1,70 euros/dia = R$ 5,78 reais ou 8 euros/por semana= R$ 27,20). A fim de evitar a não devolução ou vandalismo, o serviço exige caução via cartão no valor de 150 euros, pré-autorizado pelo usuário.

    Para garantir que o serviço fosse realmente utilizado, as ruas, avenidas, boulevares, praças e parques foram redesenhados para criar 370 quilômetros de ciclovias. E aí é que está o planejamento de cidade que não aconteceu em Blumenau. De nada adiantou criar estações para locação de bicicletas (2009) se não foram feitas ciclovias, e as poucas que existem não são decentes ou mantidas. Também não adiantou colocar o serviço com um acesso burocrático demais (cadastro na internet, pagamento por hora de uso e ter crédito no celular para ligar e pedir liberação de uma bike), como foi o caso.

    Andando de bicicleta por Paris, também foi possível descobrir que apesar do movimento de carros, ônibus e bicicletas nas ruas principais, encontramos inúmeros refúgios por toda a cidade: seus parques, jardins e praças, lotados de árvores, gramados, cadeiras e bancos, nos chamam para um convite ao descanso, à leitura, uma pausa para um lanche, ou um pic nic com a família e amigos nos fins de semana.

    Esses espaços públicos garantem qualidade de vida e constituem uma das principais atividades de lazer para seus moradores, por isso é impensável privatizar espaço público em Paris. Aí eu pergunto: eles estão errados ou estamos nós? Não é o vandalismo que impede a constituição desses espaços públicos, basta criar mecanismos para impedir isso; uma mudança de mentalidade é que é importante. Shoppings não proporcionam lazer, só mostram o quanto a nossa sociedade é consumista, está doente e decadente. Afora o Ramiro – com lotação máxima, o Parque São Francisco, a rota de lazer da XV – só nas manhãs de domingo e a boa iniciativa de um grupo de amigos para a realização da Feirinha Wollstein – que lota um domingo por mês, acabam-se aí as opções de lazer de rua e públicas na cidade.

    Vender imóveis públicos para construção de hotéis ou restaurantes caros (caso do Frohsinn e um terreno ao lado do Galegão) não proporciona lazer à imensa maioria dos moradores da cidade; só aos turistas endinheirados e aos donos desses empreendimentos privados. Isso sim é vandalismo. Em Blumenau, que tristeza, reprime-se quem planta árvores! Ainda insistimos no discurso do lucro e em concepções arcaicas, que nos mostrará cada vez mais decadentes. O que isso tem a ver com Paris e as demais cidades da Europa? Nada!

    Fontes:

    1) Site oficial ‘Velib Paris’

    2) Paris à Vélo: lei guide du routard. Editora Hachette, 181 páginas.

    3) A silenciosa decadência dos Shoppings Centers – Portal Outras Mídias.

    4) Blumenau: onde as árvores são ilegais- Jornal de Santa Catarina.

    5) Blumenau quer vender o Frohsinn (e um terreno ao lado do Galegão). “O mesmo destino do Frohsinn pode ter o terreno ao lado do Galegão, que a prefeitura tentou, sem sucesso, conceder à iniciativa privada para a construção de um hotel e um estacionamento. Desde 2009 algumas tentativas foram feitas, sem atrair interessados.” – Jornal de Santa Catarina.

    Fonte: Blog Último Post.

    2 COMENTÁRIOS

    1. ERRATA – esclarecimentos sobre a tarifa VELIB

      Apesar das máquinas de acesso ao serviço constar a opção 1,70 euros – 1 jour (dia), na realidade o valor do serviço é cobrado a cada meia hora. A primeira meia hora é de graça. A segunda meia hora custa 1 euro, a terceira meia hora vai para 2 euros e a quarta meia hora vai para 4 euros, mantendo-se este valor daí por diante, nas meias horas subsequentes.
      Isso estava mais ou menos escondido no site que consultei depois mais detidamente, e que não estava esclarecido nas máquinas.

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