Os Golpes Militares na América Latina foram um retrato da essência genocida e criminosa do Liberalismo

Allende_supporters

Por Leonardo Soares, para Desacato.info.

Os Golpes militares da América Latina no pós-59 (ano da Revolução Cubana) foram uma aula do jeito peculiar dos Liberais em demonstrar amor pela democracia.

Governos democraticamente eleitos, constitucionais, legais (e legalistas) e nada revolucionários foram simplesmente expelidos, seus adeptos perseguidos, esfolados, presos, muitos deles torturados, mortos e expulsos do país.

E tudo isso pelo simples fato de quererem realizar algumas reformas econômicas e sociais que estabelecessem um mínimo de decência no sistema de distribuição de renda  e bens neste país.

Só mesmo um paspalho desmiolado para conseguir acreditar na absurda e patética teoria da articulação de um processo de cubanização da pátria. Ou só mesmo sujeitos (e madames) profundamente tarados por golpes.

Vivia-se um momento no país em que mesmo um espirro do Jango era apresentado como ensaio de uma guerra bacteriológica para inocular o germe do comunismo na alma da ralé inocente.

Na verdade, as elites não queriam permitir a perda de um milímetro de seu poder. Por isso era preciso dar um golpe.

Mas é preciso esclarecer que o golpe de 64 não foi realizado e articulado apenas por militares. Ele foi concebido e arquitetado fundamentalmente por Liberais.

E em todas as situações nos deparamos com a mesma conversa fiada, com o mesmo papo furado, com o mesmo discurso engana-trouxa: ” – Ah, nós, a burguesia nacional, portadora-mor dos nobres e supremos valores cristãos e do espírito racional, estávamos morrendo de medinha de um possível golpe comunista, de ter que entregar nossas mulheres (esposa, filhas, amantes etc.) para os seguidores barbudos do Fidel. Estávamos apavorados, quase fazendo nas calças, quando, eis que então, surgiu a idéia de uma revolução redentora, para restaurar a Democracia no país e para fazer com que a Nação se reencontrasse com os singelos e sagrados ideais da religião (A Verdadeira e única de Deus), da família (branca) e da ordem (das elites).”

Para além desse palavrório ordinário, chulo e cretino, os militares puseram em marcha uma verdadeira máquina de guerra contra as liberdades democráticas, os direitos de trabalhadores e trabalhadoras em se oganizarem, reivindicarem, pressionarem. Ou seja, a possibilidade de fazer política de forma crítica e autônoma era totalmente proscrita; encarcerada e barbarizada nos porões do regime empresarial-liberal-militar.

E logicamente os Liberais só lucraram com tamanha festança, escárnio e luxúria em favor do grande capital no país.  Festança essa com direito a banquetes regados á sangue, suor e lágrimas de homens e mulheres que tentaram combater um regime tão desprezível.

Foi assim no Brasil. Os sindicatos dos trabalhadores foram castrados, foram convertidos em clubes de festa e sorteios de batedeiras. Com o movimento operário domesticado, as grandes empresas da burguesia nacional conquistaram vultosos lucros, o que foi possibilitado em grande parte pela covarde política de arrocho salarial implementado.

Até por isso muitas empresas não só simpatizaram como militaram ativamente no patrocínio da Ditadura. Antes mesmo do Golpe de 64, o Ibad e o Ipes com grande apoio da CIA, foram criados exatamente para dar um norte de atuação a esses organismos, no sentido de orientar sobre a melhor forma de dar um golpe que destruísse com a democracia.

Pesquisas mais recentes têm revelado como alguns empresários, banqueiros e industriais (e até Confederações da Indústria) fomentavam a sustentação de grupos de extermínio e aparelhos de tortura. O investimento na Operação OBAN foi maciçamente feito pelo empresariado. Um deles adorava assistir as sessões de tortura. Acabou morto.

Em troca, nunca a burguesia cresceu e lucrou tanto, sem ser incomodada. Nunca a Liberdade do Capital foi tão escancarada.

Na Argentina não foi diferente. O Golpe em 76 visava exatamente decepar o “movimiento obrero” de modo que pudesse promover a desregulamentação da economia, deixando sob controle total do Mercado. O saldo foi aquele que sabemos: uma série de pessoas torturadas, assassinadas e seqüestradas.

E no Chile de Pinochet, o brutal golpe contra Allende visou abrir a economia chilena para os primeiros ensaios neoliberais: privatizações, abertura do mercado, concentração de renda, arrocho salarial. Pode-se dizer que Pinochet foi o pioneiro do Neoliberalismo. Com as bençãos de Milton Friedman.

Não resta dúvida que os governos Liberais e a própria ideologia Liberal foram os maiores genocidas da América Latina no século XX.

Leonardo Soares é historiador e professor da UFF.

Foto: Trabalhadores chilenos marcham em apoio a Salvador Allende, em 1964. http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Allende

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