Esclarecemos no texto abaixo os motivos que levaram os grevistas do Diário do Pará e Diário On Line a compor e apoiar a Chapa 2 – “Mudança Já! Sindicato é pra Lutar” na eleição 2014 no Sindicato do Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor-PA).
De todo modo, reforçamos o nosso total respeito a opinião e escolha dos colegas da categoria.
>> Por que somos #Chapa2? <<
Os reflexos da Greve do Diário do Pará e DOL nos acompanham e nos guiam na construção de uma categoria forte e combativa, disposta a nunca mais se submeter aos desmandos e imposições arbitrárias dos patrões, que renegam direitos, descumprem deveres e debocham de movimentos legítimos.
A greve parou a engrenagem da opressão. Mas, acima de tudo, revigorou um sentimento: defender uma causa justa jamais seria (e jamais será) uma batalha vã. A Justiça comprova que estamos do lado certo, do lado ético da história. E por acreditar na nobreza de nossa causa, não desistimos em momento algum de nossa escolha. Não grevamos por capricho ou porque fomos convencidos por terceiros. Cruzamos os braços porque foi absolutamente necessário. Não nos restou saída quando a empresa fechou as portas do diálogo.
Nos bastidores sofremos com a conhecida inoperância da gestão do Sindicato dos Jornalistas do Estado Pará. A atual diretoria, que brada ser autora do movimento paredista, legitimou, sim, a greve, como frente que deve tomar uma entidade sindical. Porém pecou em inúmeros momentos, começando pelo cenário precedente, ilustrado pela total falta de fiscalização e diálogo com a categoria, aspectos estes que inquietaram um grupo de trabalhadores do Grupo RBA, o qual decidiu cobrar do sindicado alguma reação, que combatesse tantos absurdos trabalhistas praticados naquela empresa.
Outra falha extremamente sentida foi o silêncio diante de quatro diretores sindicais, que viraram as costas para a mobilização dos colegas jornalistas e simplesmente tomaram o lado dos patrões, em uma absurda inversão de valores. Até hoje a diretoria não fez qualquer pronunciamento público sobre a conduta desses “profissionais”, quando o correto, ao cumprir o estatuto da entidade, era submetê-los à Comissão de Ética e tirá-los dos cargos que ocupam. Além destas, houve outras falhas. Muitas. Que apenas o cerne do movimento poderia sentir. Houve situações em que foi preciso contornar erros cometidos pelos nossos representantes sindicais, sem que aquilo transparecesse à categoria, para que aquele momento de luta não perdesse força e união.
No pós-greve, a desatenção a muitos pontos importantes também incomodou. Embora tenha sido garantido o apoio jurídico aos 16 jornalistas até o momento demitidos, a gestão do sindicato não teve pulso firme e perspicácia para pressionar o cumprimento dos acordos assinados. Passaram-se dois meses até que os coletes à prova de balas chegassem, enfim, às mãos das equipes. Isto só ocorreu depois de insistentes apelos dos repórteres e até a recusa de muitos deles em ir para as ruas sem proteção laboral. O acordo que selou o fim da greve previa aquisição imediata do material. O mesmo se deu em relação às galochas e capas de chuva, que só vieram após longos seis meses. E mais: até hoje não se avançou na criação da comissão paritária, que discutiria a elaboração e implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários.
SILÊNCIO QUE FERE
Durante anos trabalhamos sem carteira assinada, enquanto diretores sindicais empregados no Grupo RBA, responsáveis por fiscalizar nossas condições de trabalho, nada fizeram para transformar esse quadro. Estagiários superexplorados, falta de segurança, de água potável, assédio moral, longas jornadas de trabalho e um contracheque imoral ao final do mês.
Sim, diretores sindicais assistiram a esse festival de absurdos de camarote, no seio da família Barbalho. Problemas comuns a outras redações e que sempre vitimaram jornalistas no Pará. No entanto, a Greve do Diário do Pará e Diário Online foi a única grande mobilização da categoria desde 1987. O que houve? Onde esteve o sindicato? Por que permitiu tantas irregularidades se arrastando por todo esse tempo? A omissão também uma grave forma de violência.
Nós, do coletivo de jornalistas formado a partir de todo este panorama, passamos a entender que a greve foi apenas o começo de uma luta a ser travada em todas as empresas onde ainda há desrespeito aos direitos do jornalista, como trabalhador, como cidadão. Para tanto, precisamos caminhar ao lado de pessoas que não abram mão desses direitos, dispostas a defendê-los com coragem, com atitude. Com ação, e não palavras ao vento.
Queremos um sindicato mais atuante, mais presente, independente dos patrões, voltado exclusivamente aos interesses da categoria que representa. Precisamos de uma entidade capaz de impedir a perpetuação de problemas tão simples e ao mesmo tempo tão crônicos no mercado de trabalho paraense. Um Sinjor-PA de braços dados com o jornalista das redações, das assessorias de comunicação, do interior do estado, de todos os âmbitos.
Precisamos da garantia de uma entidade disposta a nos defender de fato; de um sindicato pronto para reivindicar nossos direitos, que vigie e fiscalize. É um esforço necessário para evitar novos extremos e as demissões em retaliação aos grevistas.
A direção do Sinjor-PA não fez a greve, como insiste em afirmar. Apoiar o trabalhador é dever do sindicato, que cumpriu sua obrigação de respeitar uma decisão tomada em assembleia geral.
Não vamos desmerecer a legitimidade sindical dada à mobilização. Seremos eternamente gratos por cada palavra de força, por cada abraço apertado, por cada voto de esperança e certeza de nossas conquistas, por cada gesto dedicado ao fortalecimento de uma luta que sim, é de todos nós. A discordância está na falta de pulso e empenho da direção que deveria nos representar. Contudo, não nos sentimos representados. E sabemos que muitos colegas também não se sentem.
A incompatibilidade não nos impediu de dialogar com a atual gestão sindical. Em todo esse processo, amadurecemos a ideia de que o Sinjor é da categoria, independente de quem o comanda. Aprendemos com setembro que a ação traz resultados.
Por todo o exposto, nos aliarmos ao coletivo de jornalistas ‘Luta, Fenaj!’, formado por pessoas que conhecemos e dialogamos durante o contexto da greve. Formamos a Chapa 2 com eles e demais profissionais com os mesmos objetivos.
Encontramos nesse grupo a representatividade que procurávamos, além de espaço para fortalecer e aprimorar nossos ideais. Oito participantes da greve integram a chapa, sem contar os que apoiam. Gente com ânimo, vontade, garra, desejo de mudança e que acredita na construção de um Sinjor-PA forte e combativo – como todo sindicato deveria ser. Construímos a Chapa 2, porque queremos mudança. A luta por direitos tem que ser presente. Tem que ser rotina. Para que o futuro mais justo e digno não seja só promessa.
Coletivo de Jornalistas em Luta