Cinco trabalhadores do campo completaram 55 dias de jejum. Massacre em zona rural levou ao golpe contra Fernando Lugo
Um tribunal da cidade de Salto del Guairá não concedeu o benefício da prisão domiciliar a cinco camponeses que estão há 55 dias em greve de fome no Paraguai. Eles são acusados pelos massacre de Curuguaty, episódio que foi usado como justificativa para o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo em junho de 2012.
O conflito aconteceu em terras da Propriedade Campos Morumbí S.A., de dois mil hectares, ocupadas por militantes do movimento pela reforma agrária. Efetivos da Polícia Nacional e do Grupo de Operações Especiais (GEO) tentaram desalojar o grupo para cumprir uma ordem de reintegração de posse e um tiroteio deixou 17 mortos, 11 civis e sete policiais.
O proprietário das terras seria o empresário Blas Riquelme, ex-senador do Partido Colorado. Para os militantes, pertence ao Estado paraguaio, já que era uma propriedade adquirida irregularmente durante a ditadura de Stroessner.
“Evidentemente, foi um massacre deliberado, programado para produzir o que posteriormente ocorreu”, disse à época à agência Efe José Rodriguez, dirigente da Liga Nacional de “Carperos”, como são chamados os sem-terras no Paraguai. Segundo ele, a versão dos sobreviventes de Curuguaty é de que o primeiro disparo veio da polícia.
Durante a investigação, diversas denúncias de irregularidades, como adulteramento de provas, foram feitas por militantes.
Reforma agrária
O massacre de Curuguaty tocou um dos temas mais sensíveis no país: a alta concentração das terras e a grande pobreza no campo. No Paraguai, 80% de terras férteis estão nas mãos de 2% da população, concentrando-se no agronegócio de alta produtividade, que gerou um crescimento econômico de 14,5% em 2010, mas ao custo de uma taxa de 39% da população vivendo abaixo dos níveis de pobreza e 19% em situação de pobreza extrema, segundo dados do censo nacional.
A reforma agrária, para acabar com essa dívida antiga com os setores mais humildes camponeses do Paraguai, foi uma das principais promessas eleitorais de Lugo.
Fonte: Opera Mundi