Chegamos a mais um 07 de abril e pelas redes sociais não são poucas as felicitações aos jornalistas que, por certo, cumprem papel bastante importante na sociedade. Independente do lado da balança para qual pendem, destacam-se por terem como produto do seu trabalho o exercício da disseminação de ideias para a manutenção da ordem ou para a subversão das coisas – e já digo isso celebrando a máxima de que não há neutralidade no jornalismo.
Mas, o que de fato me interessa discutir, nesse dia em que muitos de nós se envaidecem pelo título de jornalista, são as condições de trabalho a que estamos submetidos.
Se, por um lado, há quem creia no estereótipo do jornalista intelectualizado, que toma café lendo o jornal, por outro, o que se sobrepõe é a exploração da nossa força de trabalho. Exige-se muito do jornalista: precisão, informação, articulação. No fim do mês, cai o estereótipo, resta a carcaça do trabalhador.
Categorias historicamente mais organizadas pasmariam ao ver uma de nossas assembleias de sindicato. E os nossos benefícios! E os acordos celebrados! Em nossas assembleias – pelo menos nas que já frequentei – ecoa a voz do silêncio, tão dissonante daquela impressão senso comum: opiniosos, contestadores. E se há vazio e silêncio onde deveria (deveria?) haver percepção e proposta, tem certo, alguma coisa errada.
Pois bem, vou dar uma opinião, sem desejar, claro, que esses argumentos encerrem o assunto. Sem acreditar que os colegas de profissão concordem comigo e sem crer, lógico, que não corro o risco da crítica. Mas, penso eu, que existe uma máxima introjetada na categoria de que jornalista não é trabalhador. Há uma doutrina dominante nas universidades e nos grandes ambientes de trabalho que dissemina uma imagem distorcida do exercício da profissão. Há uma cultura da ridicularização da reivindicação de direitos. Portanto, um intelectual não é um operário, portanto um jornalista não é um trabalhador. Pede-se mais saúde, mais educação, mas na prática, na hora de defender direitos coletivos mais firmemente, o medo e a vaidade não permitem. Existe um complexo que diz para o jornalista que ele é o cara, que é a voz da sociedade, que é formador de opinião. Mas, ninguém diz que, na prática, a LER/DORT (só para dar um exemplo) existe porque ele trabalha mais de cinco horas, para crivar de horas-extras o seu salário de fome.
Eu tenho para mim que toda essa nossa pose inflada esconde uma dor, um medo ou um asco de defender seus próprios direitos.
Vamos reduzir a discussão somente a questão salarial para compor o cenário triste que vivemos hoje. Em Santa Catarina, o piso de jornalista, referente aquele profissional de redações, é de R$ 1600. Amigo, colega, cidadão, você acredita mesmo que alguém que precisa pagar escola, alimentar crianças, garantir aluguel e ainda ler, viajar, enfim, qualquer coisa que permita que ele seja alguém bem informado para bem informar os outros, faz alguma coisa da vida ganhando RS 1600?
Quem ainda não sacou que é explorado pelo mercado? Então, eu sugiro que a gente encha as próximas assembleias do sindicato e faça alguma coisa por nós mesmos. E que, junto com isso, transforme também as velhas entidades representativas em espaços de movimento.
Cá com os meus botões, sem ter muita pretensão e com certo compromisso com a mudança de opinião, caso alguém me apresente um bom argumento, é sem dúvida um momento de nos reinventarmos coletivamente. Há, certo, uma crise de representação, que foi constituída por um sistema que exclui, mas que também precisa ser encarada pelos trabalhadores, por aqueles que sofrem na pele os reflexos de uma sociedade cada vez mais fragmentada, cada vez mais calcada em personificar a vida, em nos tornar vips de pequenas salas, de pequenas famas.
É preciso enfrentar com muita opinião e teoria esse mundo globalmente explorador. Mas, é certamente com prática, com desejo de compreender no cotidiano como as coisas funcionam e responder a elas, que as coisas podem ficar menos difíceis. Para que, enfim, a gente possa comemorar o dia do jornalista.